Pepo 07/12/2018
Pssica é o livro mais pesado que eu já li na vida. A sensação que eu tive ao lê-lo é de espancamento; como se um grupo de marginais me abordassem na rua e despejassem sobre mim socos e pontapés, enquanto procuro, inutilmente, me defender, ao chão em posição fetal. Bem, isso porque o livro é permeado de desgraças. Nauseante, sufocante, muitas vezes causando até mal-estar físico. A escrita de Edyr Augusto é um dos pontos altos que proporcionam tal desconforto. Isso se deve à forma que ele narra os acontecimentos e também pelos diálogos breves e diretos. Esses que, por sua vez, não são separados por travessão ou aspas como nos é comum, mas por pontos. Tal método faz com que façamos um esforço maior para imaginar a cena, tornando-a mais vívida, impactante. Guardada as devidas proporções, Pssica me remete ao absurdo kafkiano, aquilo que tira o indivíduo de sua zona de conforto e faz com que ele precise se reaver no mundo, interno e externo. Temos aqui, um pano de fundo sobre tráfico e escravidão sexual de mulheres brancas que são forçadas a fazerem coisas inimagináveis; tema que expõe uma realidade, à nós, distante, mas que existe. Contudo, o real objetivo do autor, como o próprio afirma, é escrever sobre pessoas; sobre como essa rede interminável de acontecimentos afeta suas vidas e seu psiquismo. Bebendo da mesma fonte de Kafka, a redenção dos personagens é sutil, até mesmo, supérflua. Não me refiro somente aos danos psicológicos, mas principalmente, sobre o absurdo que segue existindo, dilacerante, arrastando tudo e todos a sua volta. Sem dúvidas, Pssica é um livro que merece todas as congratulações, é a literatura brasileira na sua forma mais crua e suja. Mas deixo o alerta: a leitura é acachapante! Não só me senti abatido em posição fetal como também, em determinados momentos, o fiz inconscientemente, impelido, impotente.