Julian.Amaral 05/09/2015Quem conhece o trabalho da Aline Valek sabe que não tem como se preparar para sua escrita, não dá pra prever. Ela nos pega pela mão e nos leva para diversos lugares, planetas, galáxias; nos faz ver pelos olhos de diferentes mulheres, gatos, situações; ela narra o mundo utilizando diversas vozes e pessoas, e faz-se reconhecer mesmo assim.
É disso que gosto na escrita da Aline: eu consigo reconhecê-la em cada palavra, enquanto mergulho em seus textos, sem que ela jamais fique previsível ou repetitiva.
Com Pequenas Tiranias, seu novo livro de contos, foi assim. O prefácio é da Olivia Maia (autora do primeiro e único romance policial nacional que li até hoje, o Desumano) e já vem tipo aquele presente com a embalagem mais bacanuda, que você sabe que é seu. Os três contos do livro só fazem confirmar: o presente é seu, TODO seu mesmo.
Decidi não falar dos contos separadamente, porque, poxa, são contos, são breves e eu poderia estragar tudo ao contar o que senti. (cada leitora e leitor pode gostar ou desgostar de cada um) Juntos, no entanto, são um chacoalhão: se você for pego desprevenido, pode cair.
Aline problematiza o cotidiano, desde quem somos, até quem nos tornamos perante os outros. Ela arranca nossas máscaras e nos mostra um espelho - mais do que criar uma persona para outrem, queremos crer naquela criatura que moldamos para nós a partir das expectativas alheias. O livro é um ponto de confronto e nós somos desafiante e desafiado.
Ao contrário de Sartre, que coloca o carrasco no outro em seu Entre Quatro Paredes, Pequenas Tiranias nos devolve a responsabilidade de nossas vidas com toques fantásticos, sutis e - importante acrescentar - menos perturbadores do que o filósofo. Seu vizinho intrometido, sua dor nas costas, aquele filme que não me lembro de ter assistido e até a Amanda Palmer ganharam uma nova perspectiva.