Kamilla 20/03/2021Um dos romances mais tristes que eu já liA tristeza de ler um livro como "A época da inocência" não é a tristeza causada ao contemplar o que de mais atroz um ser humano pode fazer ao outro, mas a tristeza de contemplar o que de mais desolador um ser humano pode fazer consigo mesmo.
O livro é narrado por Newland Archer, um homem privilegiado por nascer no mais alto extrato da sua sociedade, porém ele é aprisionado pelo medo de perder esses mesmos privilégios mesmo que consiga observar constantemente as bases artificiais e sem sentido que constroem a sua sociedade.
Na primeira parte do livro é o medo que o motiva a tentar adiantar a data do casamento, para que refugiado dentro de um matrimônio estável ele possa parar que questionar a sociedade, a si mesmo e principalmente para que ele possa evitar a tentação de dar um salto no desconhecido.
E em dois momentos cruciais do livro vemos Newland passar pelo mesmo processo de questionar a sociedade e a si mesmo, hesitar demasiadamente e quando finalmente consegue tomar uma decisão e se prepara a agir com base nela é novamente aprisionado pelos rígidos mecanismos sociais que conhece.
Através de um personagem como Newland, Edith Wharton faz o leitor questionar a si mesmo a respeito de sua vida, suas decisões e do que já abriu mão motivado pelo medo ou pelo receio de romper com convenções externas a si.
O livro também é um retrato intimista de uma sociedade americana que já estava em extinção na época em que a autora escreveu o romance, e portanto é um pedaço da história americana preservado como literatura.
O livro é lento e se constrói nas sutilezas, no que não é dito ou que é dito apenas nas entrelinhas, o que pode irritar o leitor moderno, mas quando o leitor consegue se entregar a atmosfera do livro ele cumpre a sua promessa, sendo um dos melhores romances da literatura americana.