Short movies

Short movies Gonçalo M. Tavares




Resenhas - Short Movies


8 encontrados | exibindo 1 a 8


Daniel 31/01/2019

Fotografias da realidade
Este é o primeiro livro que li de Gonçalo M. Tavares, e posso dizer que já se inclui na lista de escritores mais originais que li nos últimos tempos, tanto por suas experimentações formais, quanto pela criatividade estética de sua escrita.
A obra segue a estrutura do flash fiction - narrativas muito curtas, inspiradas em imagens do cotidiano, maiores que o miniconto e menores que o conto convencional. Não há um fio condutor que conecte diretamente as histórias - praticamente sem enredo - mas há uma sensação geral de tragédia, de algo sombrio e angustiante, como num conto kafkiano, embora não fique evidente a verdadeira origem desse efeito.
Apesar de curtos, os textos/contos de Tavares possuem uma potencialidade única, intensa, que gera no leitor sensações que vão desde a surpresa ao estranhamento. É o tipo de livro que, mesmo pequeno em extensão, é impossível ler "de uma única sentada". É preciso percorrer as páginas com calma, até mesmo com certa cautela, pois não se sabe que imagem surgirá na próxima página. Aliás, um ponto interessante é justamente esse: não há grandes detalhamentos. O narrador não se preocupa em explicar o que está acontecendo, apenas mostra, deixando o restante a cargo da imaginação do leitor, estimulada pelas cenas descritas.
É antes de tudo uma obra experimental, uma espécie de "instalação literária" onde as palavras criam imagens mentais, imagens inacabadas e repletas de simbolismo, forçando o leitor a completa-las e (tentar) interpreta-las da melhor maneira possível.
Uma obra original, criativa e de alta qualidade literária.
Recomendo!
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Ricardo Tavares 26/12/2023

Short Movies
Short movies é uma seleção de histórias curtas, contos. O autor aborda fatos do cotidiano, conta histórias com um toque de realismo mágico, por vezes há toques de sobrenatural, elementos de magia, o fantástico se faz presente. Em alguns contos há lugar para lirismo e humor. Em outros, o autor escolheu o tema da maldade, da sordidez, contando histórias que causam asco, arrepios, repulsa.
A escrita de Gonçalo M Tavares é bem fluida e algumas histórias são curtas e inusitadas.
Gostei das histórias mais líricas, aquelas com traços de humor e ironia. Porém, as que abordam o lado mal e sórdido do ser humano não me agradaram.
Não havia lido nada de Gonçalo M Tavares, esse foi meu primeiro contato com sua escrita.
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Tamires 09/09/2019

Short movies, de Gonçalo M. Tavares
Short movies, de Gonçalo M. Tavares (Dublinense, 2015) talvez seja o tipo de livro que, quanto menos o leitor souber a respeito, melhor será a experiência de leitura. Mesmo assim, como eu não posso deixar de recomendá-lo, farei o possível para não revelar muitos detalhes, apenas o essencial.

É um livro de contos bem curtinhos (parece pleonasmo, mas não é!) e mesmo assim, não tem semelhança alguma com os outros livros do gênero. É bom que seja lido aos poucos, como um livro de poesia. E é de fundamental importância que o leitor participe ativamente da leitura, visualizando as cenas e deixando projetar em seu cérebro as pequenas cenas descritas por Gonçalo M. Tavares.

Short movies é basicamente isso: várias cenas reunidas em um livro, acontecimentos ora sem início, ora sem fim, como se o autor tivesse capturado pequenos filmes ou pequenas imagens (neste caso, descrevendo-as) e deixasse a cargo do leitor imaginar possíveis sequências ou não. Esse é um livro para provar que conto não precisa ser sempre início-meio-fim e também não precisa incluir em demasiado características físicas ou emocionais dos personagens, nem detalhar o cenário e por aí vai. Um conto é um conto, nunca foi apenas um degrau para o romance.

Gonçalo M. Tavares foi genial em promover essa experiência de leitura tão peculiar. Aliás, a literatura contemporânea de língua portuguesa feita fora do Brasil tem muito a oferecer em qualidade e entretenimento (procure a Coleção Gira, da Editora Dublinense). Terminada a leitura de Short movies, não pude deixar de ter a seguinte dúvida: estou vivendo ou capturando pequenas cenas por onde passo ou leio, como Gonçalo M. Tavares em seus short movies?


“APRENDER

Uma criança que ainda não sabe escrever diz que odeia os pais.
E quer escrever isso no papel: que odeia os pais.
Sabe algumas letras, mas ainda não sabe escrever. Pergunta à mãe como se escreve o nome dela e o do pai. A mãe diz-lhe, soletra, explica. Depois o menino pergunta como se escreve odeio-vos. A mãe hesita, mas depois soletra, explica, ajuda a desenhar as letras.” (p. 46)

site: https://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-short-movies-de-goncalo-m-tavares/
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books_resenha 07/08/2020

Fotos
Uma leitura rápida mas marcante. O autor consegue fazer retratos de momentos específicos de uma história, deixando o início ou o fim abertos. De muito bom gosto, faz a gente viajar imaginando...
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Dans.Castelhano 12/10/2022

Gonçalo M. Tavares tem uma forma extremamente curiosa de se criar arte.
Não tive a capacidade de entender (se é que há como entender) todos os pontos que ele apresenta quando escreve.
O jeito que consegue trazer o leitor pra fora do ambiente conforme os olhos percorrem as palavras escritas é encantador.
Algumas das cenas cotidianas são de arrepiar!
Recomendo para todos aqueles que gostam de imaginar e observar essa leitura
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breno_evange 03/12/2023

Publicado originalmente em 2011, o livro Short movies, de Gonçalo M. Tavares, traz uma coletânea de pequenas histórias, que vão nos apresentando o que parecem ser cenas cotidianas, até o momento que nos é mostrado algum elemento de maldade ou violência.
Essas pequenas histórias não são vistas como contos pelo autor, ele as coloca mais como curtas ( daí o nome Short movies, ou pequenos filmes, numa tradução literal), a medida que vamos lendo, fica evidente o motivo dessa denominação, cada “curta” carrega elementos cinematográficos, seja no modo como as cenas são descritas, ou nas vezes em que o próprio narrador parece, assim como nós, não estar vendo por completo cena, como se ele estivesse vendo somente o que a “câmera” está focando, como por exemplo no trecho de “Um braço, várias mulheres”: “E a cruz vai e vem e só um braço masculino aparece no plano” (Tavares, 2015, loc. 145).
Outro elemento que perpassa todos os 69 “curtas” é a indiferença com que as situações terríveis, presentes em todas essas pequenas narrativas, são tratadas pelos personagens e pelo narrador. Esses momentos são sempre descritos de forma direta, rápida, como detalhes sem importância, dando a essas situações um ar cotidiano, algo comum e não digno de atenção, como no “curta” “O Importante”, em que um menino se coloca em pose para uma foto enquanto há um incêndio enorme atrás dele.
Essa banalização do terrível serve para nos causar uma quebra de expectativa a medida que lemos as narrativas, o que torna a leitura cansativa, a medida que se vai passando pelos pequenos filmes, o efeito surpresa se perde, você passa a já esperar por esse momento, os tornando somente narrativas de situações aparentemente normais com momentos terríveis ( as vezes nem tão terríveis assim) completamente destoantes. Esse esforço para demonstrar a indiferença dos personagens/narrador faz com que o próprio leitor se torne indiferente e tão pouco se importe tanto com a narrativa ou com o momento que deveria ser o clímax da história.
Tavares consegue fazer uma boa relação da linguagem cinematográfica com a linguagem escrita, e consegue muitas vezes nos trazer esse desconforto, ou choque, no modo como seus personagens se comportam, ou no contexto e informações que ele nos dá da cena, como no pequeno filme “o Piano”, que abre o livro. Porém, muitas ele não consegue nos apresentar algum momento realmente terrível ou interessante, fazendo com que alguns “curtas”, como “O crescimento dos animais”, seja completamente desinteressante, e passe como somente mais uma descrição de cena aleatória.
Com pontos fortes e fracos, a leitura de Short movies se vê melhor aproveitada quando feita aos poucos, lendo espaçadamente um pequeno filme por vez, para que não se torne tão repetitivo e para que o elemento de surpresa, choque ou desconforto seja mantido. Ainda que com seus pontos fracos, o livro é uma ótima demonstração de como a busca de Tavares por diferentes formas de se narrar histórias dá resultado, trazendo uma obra que se diferencia, muitas vezes de forma positiva, de outras obras do gênero, fazendo de Short movies uma escolha interessante para quem quer conhecer o autor.
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Biblioteca Álvaro Guerra 08/12/2023

Short movies é composto de pequenas cenas cotidianas, nas quais o autor exerce sua maior qualidade: a de observador. Como uma câmera, ele captura momentos de beleza e absurdo, retratados com extrema originalidade e singeleza. É o mundo que todos conhecem, mas visto da maneira como só Gonçalo M. Tavares é capaz.


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788583180654
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Gustavo.Romero 21/12/2020

Discretamente perturbador
Gonçalo é autor de inúmeras referências literárias, a ponto de inclusive não encaixar-se em nenhuma. Mas acredito que há um detalhe que define o êxito ou fracasso na sua proposta "estética": ter lido (e compreendido na sua mais fina essência), ou não, Walter Benjamin. Essa referência só foi ficar explícita na abertura da nova série das "Mitologias", mas já percorre toda a obra pregressa do autor. O mote da desconstrução textual em favor da construção narrativa pelo LEITOR é o maior esforço benjaminiano empreendido por um autor que eu já tenha visto. De quebra, ainda há outros tantos temas caros ao alemão que Gonçalo nos apresenta: a banalização da violência, a objetificacao da vida e a indiferença da morte, o descaso pela História e o asco pela subversividade do passado, a necessidade mais que urgente de LER as imagens, compreende-las e não apenas "rete-las no nervo óptico".
Neste short movies vemos a provocação fundamental no aspecto da imagem, funcionando como ante-sala (junto ao "Animalescos") às "Mitologias".
Curto, potente, por vezes cômico, quase sempre macabro, mas inescapavelmente perturbador, como só o "breve século Xx" foi capaz de ser.
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