spoiler visualizarAna 17/05/2020
''Os doidos são irresponsáveis, diz o Código…''
Raul Vilar é um prestigiado escultor que desde criança sempre teve disposição para a loucura, quase direi maldade, agredindo colegas franzinos no liceu apenas pelo puro prazer de agredir. Com suas atitudes fora do comum, não lhe restaram muitos amigos além do único que foi capaz de aturá-lo sempre, amigo este que é o narrador do livro e era o maior confidente do insano.
O narrador conta em detalhes que deixam o leitor estupefato, algumas das ideias de outro mundo de Raul. Ora, certa vez ele confessara ao amigo desejar ser o único ser vivo do mundo, e estar cercado dos cadáveres de pessoas e animais.
Raul desdenhava o amor, o casamento, a literatura e os poetas, até que um dia apaixona-se pela linda Marcela, e os dois (pasmem) se casam, mesmo que outrora Raul, como qualquer artista que se acha diferentão, abominasse a vida ''burguesa''.
Os primeiros momentos da vida a dois de Raul e Marcela correm bem, pois apesar de ainda prosseguir pensando como maluco que era, Raul amava e era loucamente amado pela esposa. Um dia, Raul trai a amantíssima Marcela com uma atriz bonita que servira de modelo para uma de suas esculturas. Marcela irrita-se ao descobrir sua traição, e inclusive insinua que iria pagar a deslealdade dele na mesma moeda, o que ferve o cérebro já doente do marido. Então ele fica obcecado com a ideia de oferecer uma prova de seu amor para Marcela... o que não acaba muito bem.
Minhas impressões: detestei Raul, com todo o seu pedantismo de odiador das convenções, o que já virou um clichê clássico. Mas o livro é sim, muito bom, ao descortinar os passos em direção ao abismo que uma pessoa que não é lúcida toma até seu derradeiro fim. Mário de Sá Carneiro é um artesão dos enredos, das palavras, um escritor capaz de prender sua atenção até o final, tanto que li Loucura de um fôlego só. Foi um livro maravilhoso para mim, e com certeza pretendo reler essa obra tragicamente perfeita novamente.