Lê Golz 29/11/2015"O Brasil precisa conhecer seu passado!"A escolha para ler este livro veio pela curiosidade de conferir uma obra de Mary, que é tão prestigiada em sua carreira como historiadora. Apesar de uma gama de livros publicados, Beije-me onde o sol não alcança, uma publicação recente da Editora Planeta, é seu primeiro romance histórico. Nota-se, em toda a riqueza da obra, a minuciosa pesquisa que Mary fez para escrever o livro, baseado em fatos totalmente verídicos.
Ao ler na capa: "O triângulo amoroso de um conde russo, uma baronesa do café e uma ex-escrava no século XIX", saiba que este é tudo, menos um triângulo amoroso comum. Trata-se de uma história verídica e que fez escândalo nos Oitocentos no Brasil. A história é uma viagem a Paris de Napoleão III e a sociedade do Rio de Janeiro, onde acompanhamos um período que o café era a maior riqueza, até o fim da escravidão, e com isso, a pobreza inevitável dos senhores de café.
Partindo dessa premissa, iremos conhecer os personagens que participaram de uma parte da história do Brasil. Nicota era uma moça recatada e totalmente ingênua, neta de um barão afortunado. Maurice Haritoff, um russo que estava a procura de uma esposa para aumentar sua fortuna. E, finalmente, Regina Angelorum, uma ex-escrava que foi criada justamente por Nicota, após a morte de sua mãe. Com isso, diversos acontecimentos vão tomando forma, desde o casamento inicialmente feliz entre Nicota e Maurice, até a traição.
"Mas ela... ela é quase uma menina. Tão pequena, possui ombros frágeis e pequenos. Pergunto-me se eles suportarão o peso de minha felicidade. (...) Nicothá parece uma criança distraída. Antes de vir embora, segurei-lhe rapidamente uma das mãos e pressionei meus dedos contra os seus. Sabe o que fez? Sorriu e saiu correndo. Você vai achá-la encantadora. E fique tranquila, maman, não é escura." (p. 54)
Mary tem uma maneira singular de escrever, e com todo seu conhecimento de historiadora, descreve muito bem seus personagens tendo como plano de fundo a hipocrisia da sociedade brasileira dessa época. Contudo, apesar disso tornar a narrativa totalmente enriquecedora, ao mesmo tempo torna a leitura um pouco mais lenta em alguns capítulos. Há uma prevalência de narrativa e a quase inexistência de diálogos. Talvez este tenha sido o único ponto negativo da obra. A pesquisa feita pela autora trouxe descrições bem precisas dos lugares e comportamentos dos seus personagens verídicos. Temos quatro narrações, todas em primeira pessoa, de Nicota, Maurice, Regina e um mulato jornalista, este último fictício.
Senti um aperto no coração com a narrativa de Nicota, acompanhando desde os anos felizes no casamento, para a traição e indiferença de Mauricie. Portanto, não temos somente contextos históricos, mas também uma revelação de sentimentos. Sabendo ainda que a autora teve acesso a algumas cartas verdadeiras enviadas por Nicota e Maurice, me compadeci ainda mais da baronesa, pela comprovação de suas palavras. Que história triste! Que raiva senti de Maurice! E, mais uma vez exalto a escrita da autora, que descreveu com afinco um casamento meramente de interesses, onde as mulheres não tinham nenhuma escolha e ainda assim, muitas vezes, acabavam apaixonadas. Ao final do livro, temos as referências usadas por Mary, e as datas exatas das mortes dos personagens.
Além do conteúdo da obra ser maravilhoso, a diagramação não fica atrás. As folhas são amareladas, fonte em tamanho ideal e a revisão impecável e se tinha algum erro passou despercebido. A capa é meio aveludada e perfeita!
Amei a leitura e me surpreendi por ser mais do que eu estava esperando. Acho que nem preciso dizer que o recomendo para os amantes de livros com contextos históricos, mas também, para todos que gostam de conhecer uma história de amor verídica, mesmo que triste! Pelo menos para mim foi triste!
Beije-me onde o sol não alcança fala de amor, adoração, desejo, traição, interesses, fortuna, pobreza, escravidão e de uma sociedade hipócrita. Recomendo de olhos fechados! Como diz Mary, "O Brasil precisa conhecer seu passado".
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