Paulo 13/08/2020
“Quando se vive no espaço, chega um momento em que a sua visão de mundo desmorona. Você está apenas assustado com esse desmoronamento. Sua mente acabou de aprender a contemplar o imensurável.”
A pegada do Volume 3 é a mesma do anterior, que já era bem diferente do volume de estreia. Se inicialmente tínhamos três protagonistas, Fee, Yuri e Hachimaki, nos dois volumes seguintes a história se concentra em Hachimaki. Aqui acompanhamos um Hachimaki que, após finalmente ser aceito como tripulante da Missão Júpiter e estar um passo mais próximo do sonho de comprar sua nave, começa a questionar suas ambições, e toda a raiva e determinação que até então foram determinantes para suas conquistas. Assim como na edição anterior (2), cada capítulo deste volume é mais um capítulo da jornada de crescimento do personagem. Mais especificamente,
neste volume chegamos ao fim da história de Hachi.
Makoto Yukimura optara por apresentar uma trama que orbitava o tema da solidão e, mais especificamente, a solidão autoimposta de quem acha que para alcançar seus objetivos, não pode estar preso a coisas mundanas como o amor e o apego por outras pessoas. Neste volume, o mangaká expande esses conceitos. Yukimara usa da ambientação espacial para brincar com a vastidão do universo, e com como lidamos com o imensurável. E, principalmente, usa da figura do astronauta isolado e num lugar tão distante de tudo, abraçado por uma solidão extrema, que precisa de algo para manter a sanidade e se manter humano, ou seja, precisa de um porto seguro, de um lugar para onde retornar, lugar este que pode ser a sua família, os seus amigos, ou até mesmo um grande amor. E essa é a jornada de descobrimento de Hachimaki. Para escapar das frustrações da vida (ou melhor, da condição humana), Hachi apostou tudo o que tinha para atingir seus objetivos, comprar a sua própria nave espacial, e vagar livremente pelo espaço, pensando que poderia encontrar consolo na imensidão do espaço. Pensando que só assim seria de fato livre. Mas quando percebeu que tudo e todos fazem parte do espaço, descobriu que não havia para onde correr, porque ele já estava lá. Até mesmo ele já era parte do universo. Então, começou a se sentir vazio e sem propósito. Mas essa mesma revelação é responsável por fazê-lo perecer que as conexões humanas que ele tão desesperadamente tentou cortar a fim de escapar de suas frustrações eram exatamente as coisas que poderiam salvá-lo. E se antes ele parecia mais preocupado com as perguntas que fazia do que em tentar respondê-las, ao final do arco de Hachi, fica claro que tudo vinha sendo construído para o mangaká nos passar esta mensagem. E quer você concorde com essa filosofia ou não, não dá pra negar que Makoto Yukimura nos leva a reflexões interessantíssimas.
Enfim, Planetes Vol. 3 mantém o nível da obra lá em cima, finalizando o arco de Hachimaki com uma interessante reflexão sobre amor, solidão e liberdade. E, claro, os desenhos continuam lindos, trazendo à história tons épicos e intimistas ao mesmo tempo, com um nível de detalhes impressionante.