Regis 19/10/2022
Uma maravilhosa narrativa de horror psicológico apresentada pelo ponto de vista da consciência do próprio culpado.
É impressionante como Machado consegue em poucas páginas demonstrar com precisão as fazes que a mente humana atravessa até chegar ao estágio de convencer a si mesmo de que: talvez o mais provável é que tenha prestado um favor à vítima.
"Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem..."
Esse conto também me levou a pensar em um aspecto muito peculiar da psique humana: a capacidade de distanciar-se da culpa, criando justificativas para os atos, como uma forma de proteção contra a cobrança imposta pelos próprios pensamentos.
"A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...
Crime ou luta? Realmente, foi uma luta, em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade.
Fixei-me nessa idéia."
A cada livro do autor me sinto mais surpresa com a vastidão de seu talento em retratar a verdade do caráter humano de forma tão precisa, a ponto de nos levar a reconhecer em nós mesmos tais características.
O conto me lembrou um pouco: O Gato Preto, de Edgar Allan Poe (meu conto favoritodo autor); Mas salpicado da genialidade da mente e da escrita de Machado
Estou adorando ler os contos do Machado de Assis, e adorei esse. Recomendo.