Wayner.Lima 19/12/2021
Uma grata surpresa
Esse livro merece uma resenha melhor do que geralmente faço aqui no skoob, só pra contar no desafio e na meta anual.
Como sempre, comprei esse livro numa promoção, só porque estava barato, só porque gostei da sinopse, só porque a capa me agradou. Ficou figurando na minha estante por uns bons meses até que precisei de algo fino e de leitura leve para me distrair durante uma espera de mais de hora. Peguei no uni-duni-tê, botei na mochila e fui. Comecei a leitura num ônibus e já nas primeiras linhas estava rindo alto, a ponto de ter passageiro me olhando estranho. Levei dois dias para ler. Sim, é um livro curto, mas terminei rápido porque a escrita da autora me capturou.
Em Operação Impensável encontramos um casal, Lia e Tito, que sabemos de antemão, passará por um período de 'guerra fria' e posterior divórcio. O livro se divide em duas grandes partes: Período de 1) Paz e 2) Guerra, sendo que o segundo subdivide-se em outras três partes, em analogia com a Guerra Fria. O período de paz é engraçado, leve, sem noção alguma, contado a partir de conversas telefônicas, emails, bilhetes, resenhas de filmes e narrativa direta, em que em sua grande maioria são de autoria da Lia. O período de guerra, em contraste, é cansativo, direto, tenso e tem notas históricas além do que minha paciência foi capaz de suportar. Não, eu gostei da inserção das notas, mas queria muito saber o que aconteceria entre Lia e Tito, acontece que a cada entrada pessoal, seguia-se uma entrada histórica. O final foi morno, foi real, provavelmente muita gente se viu retratada ali tal e qual, mas foi morno se comparado com o que se construiu na primeira parte do livro.
Agora, vamos discutir a história em si, então se você não quiser spoiler, pare de ler aqui e retome na tag de fim de spoiler.
[SPOILER COMEÇA AQUI]
Como já disse, o livro começa alto astral, Lia é cheia de brincadeirinhas com Tito, que por sua vez promete mundos e fundos para Lia. Eles veem filmes com muita frequência e escrevem num 'diário' sobre suas impressões, criando sinopses cheias de piadas internas e referencias truncadas. Tudo é muito engraçado, chegando ao ponto de eu começar a me questionar se tudo aquilo não era delírio da Lia, que em determinado momento deixa escapar um registro de seus problemas de saúde, onde constam diversos códigos de doenças psicológicas/emocionais. A coisa é simplesmente surreal, na metade da fase de paz eu tinha certeza que chegaria o momento em que o texto descambaria aos poucos para um relato extremamente absurdo, como no conto 'Diário de um Louco' de Gogol e Tito assumiria o restante do livro para ou contar o final da história ou dar sua versão dos fatos já narrados. Bom, nada disso aconteceu. Lia e Tito viajam para o Maranhão, ela quase se afoga e bum! Começa a guerra. Sem indícios, sem ameaças, sem atos suspeitos. Um belo dia Lia descobre um indicio que leva à uma busca, que exige uma explicação que leva à outra suspeita e assim se segue até que se revela que Tito é um grande [*****], que todos ao redor sabiam disso (quase sempre é assim quando se trata de traição conjugal) menos Lia, que precisou travar uma guerra para alcançar a verdade. Eu simplesmente me recuso a acreditar que Tito tenha virado uma chave e se tornado um [*****] assim de repente. Penso ser muito mais plausível que ele sempre foi esse babaca mas que Lia, apaixonada, não enxergava os defeitos e indícios ao longo dos primeiros anos de relacionamento. Como é ela quem narra os fatos, acabamos presos à uma visão otimista de Tito, que relata as coisas boas e ignora as ruins. Isso é muito comum quando revisitamos as lembranças daquele relacionamento que terminou de forma drástica, aos xingamentos, palavrões e acusações, mas que depois fica envolto na névoa da saudade que ressalta os bons momentos.
[SPOILER TERMINA AQUI]
Uma coisa que muito me incomodou foi a diagramação do livro. Talvez a autora tenha pensado em fazer o livro parecer um diário, com folhas de fotocopias ou impressas, fotos e outras coisas coladas nas páginas, e por isso tenha optado por formatar o texto de forma a ocupar uma área semelhante à uma página de agenda e a editora tenha chegado à conclusão de que não valia a pena produzir o livro num formato menor, adequado à formatação, e acabou imprimindo no formato comum. O fato é que da forma como esta, uma área considerável das páginas fica em branco e desperdiça papel. Me arrisco a afirmar que o livro teria 30% menos páginas se o texto fosse formatado adequadamente.
Enfim, o livro não decepciona, faz rir por mais da metade de suas páginas, informa algumas curiosidades sobre a guerra fria, algumas das quais eu ainda estou reticente em aceitar como verdadeiras dado o absurdo que são. O final pode ter sido comum, mas era isso o que se esperava de uma história que tenta ser pé no chão e relatar um problema recorrente da sociedade. Aliás, parabéns à autora pelo senso de humor que me lembrou bastante Douglas Adams em seu Guia do Mochileiro.