spoiler visualizarRenata 22/12/2015
Tudo aquilo que Não é Dito pode acabar Congelando nossos Corações.
O conto foi uma surpresa desde o início para mim, li uma única resenha, e já pensei "tenho que lê-lo logo", e preciso dessa capa na minha estante, porque inicialmente não tinha percebido mesmo que era um conto e jurava que era um livro, depois que descobri que era um conto mesmo e que só tinha 9 páginas, fiquei meio receosa, mas a vontade de conhecer essa história tão peculiar, não passou.
E então, finalmente tive a oportunidade de conhecer esse pequeno e gigantesco universo que Raigor criou, e que puxa o leitor, e remete tantas coisas, da Infância, do crescimento, do envelhecimento, da Vida, e da morte prematura que acontece tanto hoje em dia com quase todos, que crescem aprendendo mais com o orgulho e o medo de dizer o que se sente, do que com o prazer e o privilégio de dizer o que se sente. Expor o que se sente hoje, vejo que é uma vulnerabilidade, o que é terrível, porque o que é cada indivíduo se não o que ele trás por dentro? Ser quem somos e dizer o que sentimos se tornou uma zona de "perigo", e como viver assim, engolindo quem se é a cada vez chega a garganta uma palavra que nos expressa? Sentir o que se sente e da maneira como se escolhe "sentir", nunca cabe em simples e meras palavras, porque o sentir é muito de nós mesmos, é tudo o que somos e aciona a ser, o que se aciona à Vida!
Foi tudo isso o que eu pensei, mas não somente, ao ler o conto, e foi incrível, porque ele tem apenas 9 páginas, mas causa muitos pensamentos, lembranças, e por trás da ficção é pura filosofia e poesia.
"Como alguém pode ser tão gelado?". A resposta para a pergunta não era simples e esmerada. Na verdade, era muito complexo entender o que tornara a majestade, um homem tão frio e indiferente."
O conto nos trás a história rápida mas essencial de um príncipe herdeiro do Reino de Arvoredo, que atende por Phelipe, mas que também foi apelidado pelo povo de seu Reino por Príncipe Encantado, mas que nem sempre foi assim...
O Príncipe Phelipe é uma criança ainda no início do conto, mas seu pai o Rei, nunca foi capaz de enxergar em Phelipe uma criança, e sim um guerreiro, e herdeiro do Reino, e somente isso. Já a Rainha, tentava faze-lo enxergar o filho de fato como deveria, mas não foi possível, o Rei só tinha olhos para os planos dele. A história não é só flores, notei isso na primeira página, temos perdas, depressão, tristeza, solidão...Sentimentos!
Bom, depois de uma perda muito grande para o jovem Príncipe, acontece dele começar a simplesmente... Congelar. O.O E se afastar, se prender cada vez mais em si mesmo, e em seu gelo, e nenhum médico sabe dizer o que está acontecendo com o Príncipe Encantado.
Mas, mesmo sem saber o que estava acontecendo com ele, chega a hora de se tornar o herdeiro, de se sentar no trono real e reinar sobre Arvoredo. E quando o Príncipe tão esperado senta-se no trono real, ele congela ainda mais e se torna uma piada para todo seu povo, então vê aquilo como um erro, e volta a se isolar, dessa vez como o Príncipe Congelado que se tornou, e não mais o Encantado.
Porém, o gelo do Príncipe é algo muito maior, que acabou abrangendo todo o seu Reino e seu povo, até que em um dia inesperadamente aparece ali no Reino de Arvoredo uma Princesa, que diferente do Príncipe daquele Reino, era uma Princesa de Fogo, e trouxe um pouquinho de seu calor para Arvoredo, mas não foi o suficiente para descongelar o Príncipe Congelado. :(
Mas a tal Princesa é uma jovem bela e determinada, e não desistiu do Príncipe Congelado, mesmo depois que ele próprio parecia ter desistido de si mesmo, ela se manteve ali, e por conta disso puderam se conhecer melhor, e dali nasceu uma bela Amizade, e depois de algum tempo algo muito maior: Amor. Por ter a Princesa de Fogo ao seu lado, Phelipe não temia mais o seu próprio povo, e passou a se manifestar mais em frente à eles, e ao lado da Princesa.
Mas o mais belo da história como sempre é guardado para o final, não compreendemos o porque daquela Princesa chegar até Arvoredo, e percebemos que não é algo para se compreender de fato, ela chegou ali incialmente porque queria conhecer aquele que podia talvez ajuda-la à se curar de suas chamas, mas depois ela estava ali por um outro motivo muito maior do que toda a sua chama e de todo o gelo do Príncipe.
E é somente quando o Príncipe acha que perderá sua Princesa, que as coisas mudam. O sentimento que nasce entre os dois é muito mais forte do que eles dois esperavam, e puro... Puro como lágrimas, e são as lágrimas de amor, cheias de sentimento de Phelipe, que o descongela, e que cura as chamas da jovem Princesa.
O conto me lembrou de inúmeras histórias, de outros livros, mas principalmente de histórias que eu vivi, e me perguntei se aquela não poderia ser mesmo uma história que o próprio autor viveu de alguma forma e precisava coloca-la no papel e dividir com mais pessoas.
"Eu quis vir aqui. Eu quis conhecer o seu Reino. Tinha a curiosidade em conhecer alguém que tivesse, pelo menos, alguma coisa em comum comigo. Alguém que soubesse o que é se sentir dominado por algo que não se pode controlar."
Estou inebriada, e encantada por esse conto, e grata por ter entendido o recado, por não ser velha demais para entender a filosofia dele. Estou louca para ler mais contos de Raigor, e espero ler mais da história do Príncipe Phelipe e da Princesa de Fogo em mais páginas, e quem sabe, um livro?! ;D