Naty__ 24/12/2015Se existe uma palavra perfeita para definir este livro seria emocionante. A capa já dá indícios de que a história mexerá com você de muitas maneiras e, posso afirmar, comigo foi de todas as formas. Não existe uma página da história de Fabian que não tenha me emocionado.
Até que ponto uma pessoa é capaz de largar tudo e se perder no mundo das drogas? Fabian sabe dizer essa resposta da maneira mais dura possível: por experiência própria. Ele tinha tudo para ser bem sucedido e ser um destaque na sociedade, mas foi arrastado para o caminho que as pessoas mais abominam: o das drogas.
Se a sua vida como viciado estava ruim, tenha certeza, ela poderia piorar e foi o que aconteceu. Fabian foi morar na tão conhecida Cracolândia e se existia alguma esperança de mudança por parte dos seus conhecidos ela foi quebrada quando o nosso protagonista (e muito real) atingiu o fundo do poço.
Não existem palavras que possam exprimir a história carregada de emoção contida neste livro. Não há lágrimas suficientes que possam demonstrar a sensibilidade proporcionada ao leitor. É difícil delinear, em poucas palavras, os sentimentos eternos que essa obra nos traz. São vinte mil pedras no caminho da vida de Fabian, não daquelas que simplesmente impedem-nos de passar ou machucam os nossos pés. São vinte mil pedras tragadas que corroem o corpo, a alma e a dignidade de um homem.
No entanto, mesmo tendo fumado vinte mil pedras de crack e mais tantas outras drogas, mesmo tendo atingido o fundo do poço, Fabian ressurgiu, após ser internado 25 vezes. O livro carrega não apenas uma história de um ex-usuário de crack, mas uma grande lição de esperança, de conquista e de como não devemos subestimar as pessoas. Uma hora ela pode estar ali, mas no minuto seguinte pode dar a volta por cima, assim como o nosso protagonista fez.
Poderia ficar o dia todo falando de motivos para você ler este livro, mais outro dia falando os motivos de eu ter lido e gostado. Mas, tenha certeza, poderia levar uma vida falando os sentimentos carregados nessa história e mesmo assim não seria suficiente. Tudo o que eu disser será pouco para qualificá-la.
Se biografias não fazem o seu tipo de leitura, se a temática drogas não é algo que você gosta de ler, jogue fora todo o pensamento negativo, abandone todo preconceito e gosto ruim. Simplesmente leia a primeira página e você não conseguirá desgrudar até chegar à última.
Quotes:
“Eu culpo muito os colégios por onde passei por terem me feito detestar ler. Isso mesmo. Nenhum deles conseguiu me mostrar o prazer da leitura. Eu era um sujeito difícil. Mas acho que alunos como eu são aqueles que separam professores, que só mostram o que sabem, de educadores que querem entender como fazer o outro aprender. Infelizmente, só tive os primeiros” (p. 53).
“Uma coisa precisa ficar clara: chega uma hora em que não é escolha. Como disse: a pessoa percorre um caminho e, sem que perceba, não tem mais saída, a não ser percorrer de volta o mesmo caminho. Não tem mágica. Não tem saída fácil. Chega uma hora em que a droga manda” (p. 288).
“O roteiro dessa noia era sempre parecido. Começava a ver demônios, pessoas escondidas debaixo da cama, nos bueiros, atrás de portas, atrás dos muros. Via pessoas me olhando e já começava a sentir dedos tocando minhas pernas, mãos saindo de todos os lugares e querendo pegar minha pedra, tentando pôr óleo na minha lata. E é real e te dá medo. São demônios. Quem falar que eles não existem devia fumar uma pedra de crack pra entender” (ps. 288-289).