Marcos Pinto 03/05/2016As marcas sempre ficamPara entender esse livro, é necessário que, de preferência, você tenha assistido à trilogia clássica de Star Wars (episódios IV, V e VI). O motivo é simples: Marcas da Guerra é um livro sobre adivinhem as marcas deixadas pela guerra entre Império e Rebelião. E você conhece essa guerra nos filmes. Sendo assim, sem os filmes, provavelmente você ficará perdido ao ler a obra.
A segunda Estrala da Morte foi destruída e os principais líderes do Império caíram. Com isso, muitos imaginaram que a guerra finalmente chegaria ao fim. Porém, ainda havia alguns que acreditavam na ideologia totalitária imperial e desejavam uma reação. Porém, para isso, tiveram que sair de cena e voltaram para a Orla Exterior, a fim de reunir forças.
Em um planeta chamado Akiva, localizado na Orla Exterior, bem longe do centro galáctico, alguns líderes do antigo Império se reúnem. Eles debatem e brigam entre si para descobrir quem deve assumir o poder, como isso deve ser feito e quais serão as medidas que precisarão ser tomadas. Tentam, através de negociação e manipulação política, colocar a máquina de guerra imperial novamente em jogo. Entretanto, isso não seria nada fácil.
Nossa rebelião acabou. Mas a guerra... a guerra está apenas começando (p. 17).
Do lado Rebelde, agora chamado de Nova República, os líderes andam ansiosos e preocupados. Primeiro, eles sabem que a guerra está longe do fim. Em segundo lugar, tentam evitar que mais vidas sejam perdidas e que a dor continue se proliferando. As marcas deixadas pela guerra são profundas. O objetivo do novo senado é tentar diminuí-las.
Partindo dessa premissa, Chuck Wendig cria um livro inteligente e que retrata com perfeição como realmente funciona uma guerra. Apesar do nome, teremos poucas cenas de batalhas e de aventura. O livro é altamente político, onde acompanhamos as jogadas dos líderes políticos dos dois lados. Percebemos como a paz é algo frágil e que qualquer movimento desajustado pode ceifar milhares de vidas.
Um aspecto interessante na obra é a ausência do lado sombrio e o do lado luminoso propriamente dito. Talvez por isso, aliás, esse livro seja o mais próximo da realidade. Não temos aquela intensa batalha de sabres de luz entre Sith e Jedi. Aqui, as batalhas são lutadas individualmente, por meros mortais. Entendemos, de maneira profunda, como um soldado pode mudar a guerra, como as dores das batalhas moldam as pessoas e como atitudes políticas de um homem pode tornar tudo catastrófico.
O tirano Palpatine está morto. Mas a luta não acabou. A guerra continua mesmo com o poder do Império diminuindo. Mas estamos aqui por vocês. Saibam que, onde quer que estejam, não importando a distância em que morem na Orla Exterior, a Nova República está chegando para ajudar (p. 46).
Em alguns momentos, o toque de guerra é tão real e tão tangível que a obra poderia retratar, sem qualquer problema, cenas de outro universo que não fosse o de Star Wars. Afinal, lutas políticas, guerras, pessoas morrendo por ideais e pessoas matando por crueldade há em centenas de lugares e dezenas de universos literários. Contudo, não considero isso uma falha da obra. Vejo como um aprofundamento no universo de Star Wars no lado político-social. Esquecemos aqui um pouco do lado fantástico e da ficção cientifica e temos uma dose de realidade maior guardando as devidas proporções, é claro .
Ademais, o autor também merece os parabéns por criar personagens cativantes e profundos. Sabe aquela questão maniqueísta do bem contra o mal? Chuck dá uma visão bem interessante desse aspecto. Com a criação de personagens como Temmin, Jas e Sinjir, temos protagonistas na área cinza da história; eles não totalmente sombrios, nem totalmente luminosos. Esses personagens são reais, como eu e você, acertando algumas vezes e errando muitas outras. Dão vazão ao ódio, à ganância e aos sentimentos, mas também possuem bondade, certa retidão e caráter. O autor soube como quebrar estereótipos e isso merece ser elogiado.
Quanto à parte física, como sempre, só tenho elogios à editora Aleph. Temos uma capa linda e uma diagramação belíssima e confortável. As letras são de um tamanho padrão, mas o espaçamento é bom, o que não deixa a leitura cansativa. Além disso, a revisão e a tradução foram executadas com esmero.
O Twilek empina o queixo. Medo brilha em seu olhar, mas outra coisa também; algo que Sinjir já viu naqueles que ele atormentou e torturou, naqueles que acham que não vão ceder: coragem.Coragem. Que coisa idiota (p. 48).
Assim, diante de todos os aspectos, certamente indico a obra. Sem dúvidas, esse é um livro que todo fã do universo Star Wars necessita ler, principalmente porque aprofunda toda a experiência com os livros e filmes de uma maneira bem significativa. Dê uma chance à obra; você não irá se arrepender.
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http://www.desbravadordemundos.com.br/2016/05/resenha-marcas-da-guerra.html