Mary Manzolli 11/07/2021
Imersão na cultura africana
Mulheres de Cinzas é o primeiro romance histórico, da trilogia "As areias do Imperador", obra em que Mia Couto nos leva à Moçambique, durante a colonização portuguesa, para nos contar a história do império de Gaza, o segundo maior império africano liderado por um nativo, cujo último monarca foi Ngungunyane, e sua luta contra os avanços da dominação portuguesa, que lá chegando se impuseram como donos de terras habitadas desde sempre pelo povo nativo.
A história é contada através dos olhares da jovem Imani, nativa da tribo dos VaChopi, uma das poucas tribos que se opôs ao imperador, apoiando, assim, a colonização portuguesa, e do sargento português Germano de Melo, mandado ao vilarejo para lutar contra o imperador Ngungunyane.
É uma imersão na cultura, tradições e crenças de um povo e também é sobre resistência em não permitir que as histórias dos verdadeiros donos daquelas terras fossem apagadas pela invasão do homem branco, sem perder o lirismo, a poesia e a leveza.
Mia Couto mistura história, folclores e feitiçarias ao mesmo tempo em que narra todos os horrores da guerra, de modo que nos choca e nos apazígua a alma simultaneamente e nos leva à reflexão de que não obstante os corpos possam ser escravizados, o espírito sempre será livre.