Caim

Caim José Saramago




Resenhas - Caim


419 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Roneide.Braga 22/03/2020

[CAIM - JOSÉ SARAMAGO]
Obra polêmica!
- Tem momentos engraçados, outros pertubadores, mas importante destacar que é uma obra Literária, portanto, livre nas suas intepretações.

?O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando está com sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado os senhor à merda, mas não foi assim.? [p.79]
Lalaia 01/04/2020minha estante
Oie


Lalaia 01/04/2020minha estante
Preciso de ajuda com esse livro




Lista de Livros 23/12/2013

Lista de Livros: Caim, de José Saramago
“A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.”
*
“No regresso, por causalidade, detiveram-se por um momento no caminho onde abraão tinha falado com o senhor, e aí caim disse, Tenho um pensamento que não me larga, Que pensamento, perguntou abraão, Penso que havia inocentes em sodoma e nas outras cidades que foram queimadas, Se os houvesse, o senhor teria cumprido a promessa que me fez de lhes poupar a vida, As crianças, disse caim, aquelas crianças estavam inocentes, Meu deus, murmurou abraão e sua voz foi como um gemido, Sim, será o teu deus, mas não foi o delas.”
*
Mais em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/05/caim-jose-saramago.html
comentários(0)comente



Gabriel Torres 29/05/2022

Eu já li alguns livros do Saramago e aqui ele repete uns vícios dele que me incomodam e o curioso é que esses vícios fazem parte da elogiada assinatura dele, mas que eu sempre quando começo a ler me questiono se ele não poderia ter explorado mais o texto sem inventar determinadas... firulas, mas o tema é tão fascinante e... pô, é o Saramago escrevendo sobre o Velho Testamento, acho que isso já vale dar uma conferida.
comentários(0)comente



joaoggur 01/03/2024

Caim, o salvador do mundo.
Existem certos livros que, particularmente, me recuso a analisar como simples romances, - se observarmos a conjuntura dos fatos, o conjunto da obra, começamos a vê-los como esplendorosos presentes oriundos dos autores à seus leitores.

José Saramago, já octagenário, se despediu da literatura com esta magistral peça da arte do romance. É como um adeus a si próprio, uma redenção de todos os seus (possíveis e supostos) erros estilicos e narrativos, uma última amostra de toda a sua genialidade.

Remontando ao fatídico episódio bíblico do primeiro assassinato, - os inconfundíveis irmãos Caim e Abel, - Saramago faz, em um estilo de despedida (que acompanha todo o livro), uma reinterpretação das histórias sagradas (tal como fizera em O Evangelho Segundo Jesus Cristo). Após Caim matar seu irmão, Deus condena-o a vadear pelo passado, presente e futuro de uma forma desconexa, - e, paradoxalmente, o altíssimo onisciente mal sabia dos efeitos desta decisão.

O sincretismo entre religião e opinião sempre é polêmico; ainda mais quando permeia a figura de Saramago (um comunista e ateu assíduo). Sendo o leitor cristão ou não, a obra deve ser lida com a comicidade por ela imposta; há momentos tão absurdos (e jamais tocados, originais, autênticos) que a gargalhada é inevitável. Sabendo que já vivera muito mais do que ainda iria vivenciar, Saramago ignora qualquer amarra social ou moral, abusando de comentários (no mínimo) ultrajantes perante uma bancada mais conservadora, - tornou-se, então, um real niilista.

Abraão é chamado de f1lh0 d@ put@; é levantado a hipótese de um suposto pacto entre Deus e o Diabo; por diversas vezes o altíssimo é adjetivado como sádico; tal como sua onisciência, principalmente em relação a cena final, é contestada. O incômodo por parte dos religiosos é válido; Saramago fura o mágico, o romântico, e observa o livro sagrado como ele realmente é, - um escrito imbuído de assassinatos, intrigas, incestos? tal como a vida é. Não vamos nos ?cegar?, não?

Favoritado.
comentários(0)comente



Rosa Santana 18/03/2011

Caim José Saramago

Raça de Caim, sobe ao céu
E arremessa à terra o Senhor!" - Charles Baudelaire

Caim, (Companhia das Letras), 174 páginas, último livro de José Saramago, antes mesmo de aparecer nas livrarias já causara a ira dos crentes que têm na Bíblia seu ponto de partida. E mostra, mais uma vez, a coragem do autor que - a despeito de ter sofrido, em 1991, o veto do governo de seu país para concorrer ao Prêmio Europeu de Literatura pela publicação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo - volta ao tema criticando o santo livro - Bíblia - a que chama, na abertura de Caim de o livro dos disparates. Com 87 anos, ele se mostra ativo, como o escritor que, segundo afirmações suas, ainda tem o que dizer em defesa de seus princípios ideológicos. E isso ele faz, doa a quem doer.

O título do livro já nos deixa claro o que vai ser colocado em destaque. Justamente porque José Saramago se interessa pelo percurso social, ético, ideológico da pessoa humana, seu livro, sendo denominado Caim, se centra nessa categoria da narrativa - o personagem. É ele Caim, personagem bíblico - o centro da história e não seu antagonista. Sua saga é a de ter sido condenado por Deus a vagar pelo mundo, em virtude de ter matado o irmão que lhe despertava inveja, já que só as oferendas dele (do irmão) eram aceitas pelo senhor... mas é também a saga do protegido por Deus, que ao lhe fazer um sinal na testa, o coloca acima dos meros mortais, uma vez que em conseqüência disso, estará resguardado do mal. Como D. Quixote (de la mancha), que, sobre seu cavalo, erra por toda a Espanha, desfazendo injustiças, salvando donzelas e combatendo gigantes e dragões, o personagem central desse livro (portando sua mancha!) erra, montado em seu jumento (Rocinante aposentado (p. 145)), por todo o velho testamento, combatendo seu opositor e adversário Deus o senhor "rancoroso" que não hesita em estimular guerras, matar crianças inocentes, punir os bons e fazer com que as pessoas acreditem em situações improváveis.

Nesse espaço-tempo por que erra, o personagem como nos romances de cavalaria - vai se deparando com as ações (para ficar na esfera da teoria literária!) de seu antagonista Ele se vê diante de um Deus cuja voz troveja no céu, aterrorizando uns e exaltando outros sem um critério de justiça; que ordena a um pai que mate e queime na fogueira o próprio filho; que manda fogo do céu para fazer com que crianças (de Sodoma), com que os escravos e as ovelhas (do justo e honesto Job) virassem tição; que faz pacto com o diabo para ver quem pode mais; que se esconde sob nuvens e colunas de fumo; que dizima populações inteiras, sem nenhum critério... Tudo isso vai fazendo com que ele se torne um Caim cada vez mais decepcionado, logrado por um criador mesquinho que só é passível de sentimentos como o menoscabo, a desconsideração, a repulsa.

Por não se solidarizar com os acontecimentos com que se depara, Caim se situa sempre como um estrangeiro, onde quer que esteja, no tempo e/ou no espaço. Ele vê o avesso e o falso das situações a que assiste e, dialogando de igual para igual com o responsável por elas, o desmascara e o rebaixa à esfera do cotidiano cômico. Assim, Saramago chega mesmo à carnavalização, prevista por Mikhail Bakhtin, dado o caráter cômico-fantástico-alegórico com que encara e descreve os fatos; com que faz de Caim um personagem sarcástico e mesmo insolente que não se submete àquilo com que não concorda; por criar situações em que valoriza o riso, o inusitado... Tudo perde o caráter de sagrado, para cair no ridículo-fantástico-irônico, como, por exemplo, entre outros:

? a circunstância em que o senhor, irado, enfiou, em Adão e Eva, a língua pela garganta abaixo (09)

? a analogia à Santíssima Trindade, representada por Noah, Lilith, (ao centro) e Caim; (72)

? o narrador citando Josué como impossível modelo estilístico mesmo no importante capítulo retórico das pragas e maldições tão pouco freqüentado pela modernidade, ainda que naquela época em que as maldições eram autênticas obras-primas literárias, pelo crudelíssimo exemplo que representava (112);

? a fala do senhor, Não posso fazer parar o sol porque parado ele já está, sempre o esteve, desde que o deixei naquele sítio. (...) O que se move é a terra (118);

? o espetáculo pirotécnico montado para a descida de Deus à terra (148);

? Caim, andando por tantos e diferentes espaços, montado em seu jerico, sem o Guia Michelin(146);

? a revisão do sistema hidráulico do planeta de que se ocupava Deus, depois do dilúvio. (161);

Assim, Caim vai se configurando como o combatente de injustiças, de episódio em episódio, todos eles um tanto quanto grotescos, e totalmente ausentes de sublimação. Sua independência e "desgarramento", dado à sua posição de andarilho, desliga-o de todos os valores burgueses: família (e qualquer tipo de relacionamento mais duradouro), propriedades... Nada de idílico o prende, porque, vasto, o espaço o conclama para que o reconstrua sobre bases novas, mais justas e humanas. Buscando, na verdade o tão propalado Antropocentrismo...

Longe de ser um recalcado ou ressentido com seu criador, Caim não se identifica com os valores do opressor e luta contra eles com uma retórica lúcida e coerente a tal ponto de deixar implícito o que já afirmara JS: "À Bíblia eu chamaria antes um manual de maus costumes. É a palavra que torna possível a Caim romper com toda espécie de servilismo diante do sofrimento dirigido por Deus aos humanos. É pela palavra que ele vence seu opositor quando do julgamento por ter assassinado o irmão e é pela argumentação vigorosa que faz com que Deus se dobre, estabelecendo com ele um acordo de proteção. Sua maior propriedade é a lucidez, em oposição à cegueira já que O Senhor enlouquece as pessoas (82). E, se as enlouquece, as cega...

Mas, quem é Caim? Com o nome grafado em minúsculas, aliás, como o dos demais personagens, ele perde a característica de substância própria, e é instaurado no conjunto de seres gerais. Nada o identifica e o torna único, específico, entre os da sua espécie. Ademais, ele vaga não só de espaço a espaço, mas, tb, de tempo em tempo, muitas vezes indo de um passado a um futuro, pulando um presente... É a raça humana que Saramago retrata aqui. Somos, todos, peregrinos, a errar por um caminho que não sabemos ao certo qual seja e nem para onde nos leva... Como cavaleiros da triste figura, (nossos Roncinontes agora são de outra esfera) estamos todos presos a um destino, que, por falta de fé em um Deus para nos livrar dos males, todos, temos que crer e confiar é em nós mesmos.

Outrossim, o poder que o personagem bíblico faz da oratória, o dom que ele tem de manejar a palavra estabelece, também, uma analogia entre ele e todo aquele escritor, filósofo, pensador, que, ao longo do tempo e ainda hoje, dialoga com Deus de igual para igual como bem deixa claro o autor, no final da narrativa: ... a única coisa que se sabe de ciência certa é que continuaram a discutir e que a discutir estão ainda (p. 172). Igualmente, Caim somos nós, cúmplices desses autores que, "apesar de", continuam cometendo o crime e... escrevendo: contra o "status qüo", contra todo o pensamento institucionalizado do poder... Ler, valorar e discutir o que publicaram é somar-se às suas vozes e, de certa forma, libertá-los da censura. Admirar o que eles tiveram a coragem de pensar e de dizer é fazer-lhes justiça!

Formamos, com Caim/Saramago, Nietzsche, Baudelaire, Jean Genet, Píer Apolo Pasolini, Jean Paul Sartre, entre tantos outros, uma raça gouche, a raça de Caim que, nas palavras de Baudelaire, tem por encargo arremessar Deus à terra, desmistificá-lo, carmavalizá-lo!


..........

Sobre a palavra "gouche", tenho a dizer que ela foi empregada aqui, muito mais como um "antropofagismo", de Mário e Oswald de Andrade. Apesar de a gramática reconhecer "gauche" , neologismos são perfeitamente aceitáveis a despeito da norma padrão de qualquer idioma.

.
Márcia Regina 04/03/2010minha estante
Rosa: muito dez tua resenha.

Estou lendo "Caim" e cada vez mais maravilhada com Saramago.


Srtª Kelly 23/04/2010minha estante
Rosa, já li Caim, adorei sua resenha!


Rosa Santana 20/06/2014minha estante
Caim é dos livros de Saramago que li, o que mais me desassossegou. Até hoje, ainda fico a pensar naquele final...
A M O esses livros que me tiram do prumo!




Otávio - @vendavaldelivros 08/07/2022

“O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraaão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado.”

Último romance lançado com o autor ainda vivo, Caim é mais uma das obras marcantes, polêmicas e encantadoras do português José Saramago. Publicado em 2009, um ano antes de seu falecimento, o livro narra a história do assassino de Abel, sua origem, sua relação com o irmão e, principalmente, sua relação com Deus e com os principais acontecimentos bíblicos do Antigo Testamento.

É sempre um prazer ler Saramago, não à toa o português é um dos meus autores favoritos e de tantas pessoas. Essa é minha segunda experiência com um romance seu que se aventura nas histórias bíblicas. E se em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” sua acidez e bom humor já eram marcantes, em Caim essas características ficam ainda mais expostas, o que torna o livro até mais gostoso de ser lido.

Na história, narrada por um narrador onisciente e que frequentemente quebra a barreira e se comunica com o leitor, conhecemos a história de Adão e Eva, sua expulsão do paraíso e, consequentemente, de seus filhos, nesse caso em especial, Caim e Abel.

Após o assassinato de Abel pelas mãos do irmão, Caim recebe a marca de Deus e passa a vagar pelo tempo e pelo espaço, estando presente, junto com seu jumento, de importantes passagens bíblicas como a construção da Torre de Babel, o cerco de Jericó, o sacrifício de Abraaão e o grande dilúvio. Em todos esses momentos Caim se destaca, com seu ceticismo em relação à grande bondade de Deus e suas motivações.

É óbvio que a obra tem total influência do ateísmo e das críticas costumazes de Saramago ao Cristianismo e, particularmente, são esses questionamentos ácidos as partes mais engraçadas do livro. Uma crítica que visa a racionalidade de conceitos tão consolidados dentro da religião, mas sempre com o bom humor que só um gênio como Saramago era capaz de fazer. O único defeito é que termina rápido demais, merecia o dobro de páginas.
comentários(0)comente



Toni 18/09/2010

O velho testamento em sons e pausas
Certa vez, durante uma feira de livros em Lisboa, o escritor José Saramago foi surpreendido por uma leitora que lhe abordou da seguinte forma: “Quando li o Levantado do Chão disse comigo: este escritor é diferente dos outros”. Não disse mais nada, foi embora. “Acertou em cheio” escreveria o português mais tarde em seu diário , pois “não disse ‘melhor que os outros’, disse ‘diferente’ e não imagina a que ponto lhe fiquei grato”. E conclui: “a mais não aspiro”.

Prosa que destila poesia, a escrita de Saramago já foi caracterizada por longos parágrafos repletos de elementos simétricos e estruturas barrocas, desenhados por uma linguagem vibrante e irônica que se revela em volutas, constantemente inquirindo sobre o mundo ou sobre si mesma. Cada página do Nobel português propõe uma ruptura de convenções, como a abolição de sinais de pontuação, do discurso direto e mesmo da maiúscula inicial de nomes próprios, para dar espaço a uma expressão mais pura, genuína, próxima a dos aedos de eras passadas, tempo em que o mundo se sustinha na palavra falada. Nas palavras do autor: “Todas as características de minha técnica actual provém de um princípio básico segundo o qual todo o dito se destina a ser ouvido. Quero com isto significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa pontuação, fala como se estivesse a compor música e uso os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, outras.” (Cadernos de Lanzarote I 1993, entrada do dia 6 de junho.)

A leitura de Caim, seu último romance, revela esse princípio em cada respiração do texto: seu passo é tranquilo, seu ritmo é simples, suas indagações contundentes. Não há sobras ou movimentos em demasia, há apenas música; a mesma que reverbera desde o velho testamento, à procura de acordes que a tornem audíveis. Diferente do muito que já foi dito, Caim não se trata de um ataque à igreja ou às convenções cristãs. É muito mais um exercício de questionamento que põe em cheque leituras viciadas do velho testamento e traz à luz a percepção que o escritor ateu—nunca é demais lembrar—sintetizou da seguinte maneira: "a história dos homens é a história de seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele". (Caim, p.88)
Camila 07/01/2010minha estante
Olá!!!

Sua resenha é demais! Gostei bastante! As pessoas tem memso me dito para eu dar outra chance ao Saramago e acho que vou tentar! A proposta do Caim é bem legal, mas achei bem difícil de ler, quem sabe eu acostume uma hora!


Rebeca 22/03/2012minha estante
A questão da pontuação é algum recurso linguístico, tipo tem algum significado especial ou é só assinatura de Saramago?


Toni 23/03/2012minha estante
oi rebeca, acho que é tanto um recurso linguístico quanto uma assinatura. saramago diz que, quando começou a escrever Levantado do Chão, não estava satisfeito com a forma, até que num determinado momento começou a evitar os sinais de pontuação, principalmente os travessões que marcam o discurso direto, e percebeu que havia encontrado sua linguagem (digamos, sua assinatura). essa forma, no entanto, não deixa de refletir um recurso linguístico para aproximar seus romances da "narrativa oral", que se coaduna melhor com a construção de alegorias e a transmissão de experiências e questionamentos que busca em sua prosa. além do mais, como o saramago também disse nalguma reportagem que saiu em revista (não lembro agora mas posso procurar), ele compara a pontuação com sinais de trânsito: quando há muitos, o leitor se acomoda, confia demais nos sinais. quanto menos sinais houver, no trânsito ou na literatura, motoristas e leitores se tornarão forçosamente mais cuidadosos, e tanto a viagem quanto a leitura serão mais seguras.


Toni 04/09/2012minha estante
opa hombre, agradeço o comentário, por mais que seja 'contra' o que foi resenhado; mas exatamente por isso nos dá uma chance de elaborar melhor o que foi dito e praticar a sempre bem-vinda discussão de ideias.

uma resenha, como qualquer espécie de análise, não pode dar conta da completude de obra literária alguma. é muito mais um exercício de observação em que um aspecto específico é ressaltado em detrimento de uma infinidade de outros, muitas vezes, bem mais importantes do que o que resolvemos resenhar. o motivo de ter destacado a pontuação de 'caim' se deve ao que considero ser o último estágio na evolução da escrita de saramago, presente nos dois últimos romances do autor, quando ele finalmente abandona mesmo a maiúscula de nomes próprios (falo, naturalmente, de 'viagem do elefante' e 'caim').

outro fator importante de ser ressaltado é que literatura é, antes de mais nada, linguagem, não somente 'linguagem em seu mais alto grau de significação' como quis ezra pound, mas linguagem em ação, seja para contar uma parábola moralizante ou as aventuras de harry potter. e a pontuação (ou a ausência dela) é parte indissociável da mesma, e sua disposição traz sérias implicações à compreensão do texto. 'prestar atenção na estória e nas divagações do autor' é imprescindível, verdade, mas não deixa de ser apenas um aspecto da leitura (ou mesmo 'uma forma superficial de leitura', nas palavras do umberto-eco-crítico da estética da recepção); asseguro-lhe que tanto eu quanto a colega abaixo não deixamos isso passar em branco, apenas resolvemos discutir outro elemento da obra que, sendo excelente, será complexa e repleta de possibilidades. você há de concordar que se for desejável que falemos somente sempre do mesmo, pouco haverá de ser dito que realmente importe.

como mestrando em literatura, não poderia jamais concordar contigo a respeito da questão da pontuação ser o menos importante, uma vez que ela reflete um recurso estilístico que aproxima o autor da narrativa oral, como deixei claro no comentário abaixo. acho que você está certo ao dizer que as histórias e divagações do saramago são importantes, mas, conhecendo em profundidade a escrita e as ideias do autor -- não apenas por seus romances, mas também através dos diários, blog, entrevistas, etc. -- não poderia deixar de reiterar que a pontuação era, sim, questão de vital importância para ele (recomendo, a este respeito, a leitura dos cadernos de lanzarote, e o recentemente lançado 'as palavras de saramago'). é sintomático disso o elogio do nobel português à literatura do angolano valter hugo mãe, cuja prosa -- que tampouco usa sinais de pontuação ou iniciais maiúscula mesmo no início de frases -- foi comparada à 'um novo parto da língua portuguesa'.

por fim, uma última 'defesa' -- caso a palavra não seja forçada -- deste leitor que sou: quando resenho algum livro evito a descrição de enredos e enumeração de personagens. procuro, antes, detalhes que me chamem a atenção e que despertem a reflexão sobre o tipo de literatura que estou lendo -- seja de massa, filosófica, moralizante, etc. é uma questão de estilo, claro, que responde bem mais a uma necessidade de exercitar transversalmente minhas leituras e impressões relacionando-as ao que aquele mesmo umberto eco chama de 'competência enciclopédica' de cada leitor.


Toni 04/09/2012minha estante
ora, marcone, suas indagações apresentam aquele perigo de fazer parecer que foi dito o contrário do que você pergunta. ao menos em minha resenha, e no comentário da outra leitora, não descartamos como sem importância as indagações (assim como saramago, evito o 'ataque') acerca da bíblia. como expliquei abaixo, é apenas uma questão de foco de cada resenha.

também vi a participação do autor no roda viva, minha resposta à pergunta da rebecca está completamente imbuída dos comentários que saramago fez naquela ocasião (bem como de outras).

entendo sua preocupação com o fato das pessoas estarem desviando a atenção da grande crítica que é a obra de saramago para um aspecto estilístico (vamos combinar que menos importante). não posso, no entanto, de deixar de reconhecer nisso um reflexo da "inovação" (por mais que seja de longa data) que o autor representa para novos e calibrados leitores. acredito que seja uma manifestação natural, e não necessariamente uma perda de tempo, já que ao fazerem isso, essas pessoas estão trabalhando suas memórias literárias.

é difícil dizer, conhecendo apenas nosso próprio quinhão de ideias, que ao discutirem as questões de pontuação as pessoas não estão percebendo a valiosa contribuição do saramago ao pensamento ocidental contemporâneo, o grande exercício questionador que sua literatura representa. continuo acreditando que faz parte da estética do autor elaborar uma literatura 'diferente' (palavra querida a ele), que pudesse falar do mundo ao mesmo tempo em que chama a atenção para os mecanismos discursivos através dos quais aquele mundo é veiculado.

abraço, hombre! com ponto de exclamação e suas consequências.




@LuanLuan7 30/03/2022

Incômodo e genial.
O livro começa no Éden e vai até às conquistas de Josué em Canaã. Não segue uma ordem cronológica perfeita, em virtude de o próprio Caim não ter controle sobre seu ?teletransporte?.

Após vivenciar fatos históricos (bíblicos), Caim chega a conclusão de que Deus é mais ?criminoso? que ele. Tanto pelo que Ele permite, quanto pelo que provoca.
O personagem percebe uma injustiça enorme, vendo Deus como um ser rancoroso que foge à razoabilidade tornando-se, por vezes, cruel.

Seja pela morte de justos por culpa dos injustos, seja pelo controle da intimidade de cada pessoa, Caim não entende como um Deus tão grandioso pode preocupar-se com mesquinharias.

Mas nada disso é dito de forma tão direta (só as vezes). Na maior parte da história o desconforto surge pela simples análise dos fatos, por exemplo o caso de Sodoma: a cidade foi consumida pelo fogo, matando todas as crianças que nada tinham a ver com os pecados dos adultos. Ou com Jó: que perdeu 10 filhos, mortos por um uma ?provação? do Senhor.

A narrativa é fluida, com muitos diálogos, personagens, pequenas histórias (fatos bíblicos ou não) e um arco narrativo que vai conectar o personagem de Caim, literalmente, da gênese ao fim.

Justamente com plot final o autor apresentou um desfecho alternativo ao que hoje conhecemos como humanidade.
comentários(0)comente



Candil 02/10/2023

Saramago com seu estilo de escrita caracteristico, ironiza e aponta as contradições do Deus retratado no velho testamento. A narrativa segue Caim em diversos momentos 'clássicos' da biblia questionando o descompasso entre a maldade dos homens e as punições do Senhor.
comentários(0)comente



Marcelo 31/01/2023

Resenha disponível no Booksgram @cellobooks ?
Seguindo a fórmula de ?O Evangelho segundo Jesus Cristo?, Saramago nos apresenta um novo relato bíblico, contando a história de Caim (claro, mantendo sua ironia e seu ponto de vista ateísta). Saramago reconta a vida de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com Deus e parte numa jornada em que encontra diversos outros personagens bíblicos.

No livro ?O Evangelho segundo Jesus Cristo?, Saramago faz um relato do Novo Testamento através da sua visão e entendimento. Já nesse livro (Caim) ele se volta Velho testamento, abordando eventos como o Éden e o Dilúvio.

O interessante da obra é a visão herética, irônica e questionadora de Saramago. Nessa versão Caim aparece como um homem com grande apelo sexual (e uma vida sexual fortemente ativa). Assassina o irmão, engravida Lilit e depois parte para outras terras. Com uma marca na testa marcada pelo Senhor Deus e com isso estará protegido das maldades do homem.

Aqui nesse livro Saramago também recria seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.

Saramago coloca Caim em contato com diversos personagens bliblicos como Lilit e seu marido Noah, Abraão e Isac, Josué, a cidade de Sodoma e Gomorra, Noé e sua família construindo a arca para o dilúvio, E claro, alguns anjos, Deus e Satanás.

Para mim, o ponto alto da obra é Caim questionando a inteligência e a bondade divina e fazendo com que deus repense e reconsidere algumas de suas ações. Caim nos apresenta um deus humanizado, egoísta e caprichoso.

A caligrafia da capa é de autoria do escritor Milton Hatoum.
edu basílio 31/01/2023minha estante
sinto sim alguma vergonha disso, mas já tentei e não consigo ler saramago... bela resenha, celo ^^


Marcelo 01/02/2023minha estante
Eu gosto muito de Saramago, mas confesso que só consigo ler um por ano? rs




Thales 30/01/2021

Saramague-se
A primeira vez a gente nunca esquece.

Isso vale pra quando a gente descobre nosso restaurante favorito, quando vemos um filme que mudou a nossa vida - daqueles que revemos pelo menos uma vez ao ano - e pra isso aí que vocês pensaram também. A mesma coisa se dá quando lemos o primeiro livro de um autor que abala nossas estruturas. Ele pode nem ser o melhor do cara, vai ver nem é uma obra tão aclamada; mas pra sempre vai ocupar um lugar especial no nosso coração.

E é assim que eu me sinto sobre "Caim".

É a descoberta de um universo fantástico, um mundo de possibilidades que se abre diante de mim.

E que PORRADA é o Caim de Saramago!

Eu vou confessar pra vocês que nesse período de pandemia toda leitura, por melhor que seja, é meio carregada, modorrenta. É muito difícil me concentrar e de fato me envolver com um livro. "Caim" jogou isso pra escanteio. A forma como ele me enlaçou, de cabo a rabo, não tá no gibi, foi um arrebatamento literário daqueles que eu não tinha há eras. E isso em se tratando de histórias que eu já conhecia largamente - não com esse temperinho ateu-português hilário, óbvio.

Sobre a escrita de Saramago. Eu fiquei completamente DESLUMBRADO. Eu era bobo, como todo ser humano médio, por acreditar que teria dificuldade com a forma como o portuga escrevia. Acabou que não só me adaptei muito rápido como essa dinâmica inovadora foi um dos fatores que me fez devorar "Caim". Algo que, a priori, me afastava, foi um dos fatores fundamentais pra eu me aproximar.

Se o autor te causa receio ou estranheza, abandone isso PRA ONTEM. Escolhe uma obra pra começar - e eu super indico essa - e taca fogo.

Saramague-se, pro seu próprio bem.
Rafaela1643 31/01/2021minha estante
???? agora só parte para as próximas logo hahaha,


Thales 31/01/2021minha estante
Eu já tô trabalhando nisso, Rafaela haha só falta escolher quais vão ser


Rafaela1643 31/01/2021minha estante
ótimo!!! O evangelho segundo jesus cristo tb me impactou muito e tem um dos melhores diálogos que já li.


Thales 31/01/2021minha estante
O Evangelho é o que eu tenho mais curiosidade pra ler, mas não quero pegar dois de temática religiosa em sequência. Provavelmente eu vou no Intermitências ou "Ensaio sobre a cegueira", mas confesso que já tem uns 5 na minha lista hahaha


Rafaela1643 31/01/2021minha estante
sim, bem pontuado. Melhor apreciar outras obras antes. Já li e amo esses outros dois também ????. Boa leitura!


Thales 31/01/2021minha estante
Rafaela quando eu crescer eu quero ser que nem você


Rafaela1643 31/01/2021minha estante
kkkkk obrigada, mas que nada! Meu caminho com Saramago começou cedo, até demais, depois tive que reler alguns para poder conseguir realmente entender. rs mas faz parte.




Marcia 20/11/2022

Minhas impressões sobre o livro
Livro pequeno e gostoso de ler, desde que tenha se adaptado a escrita de Saramago. Eu sempre encontro um pouco dificuldade no começo das leituras dos livros dele. A falta de pontuação me incomoda, mas depois pego o jeito e a leitura flui.
Nesse livro ele nos conta sua visão sobre a história de Caim (do Antigo Testamento) quando mata seu irmão Abel e varias outras passagens do antigo testamento. Me diverti com várias conversas que Caim teria tido com deus. Ele encontrará Abraão no momento que ele iria sacrificar seu filho. Caim vai interagir com ele e com o anjo. Também verá a extinção de Sodoma e Gomorra, e muitas outras passagens. Até na arca de Noé ele vai entrar e muita coisa vai acontecer. A visão de Saramago é muito interessante, e com muitas críticas ao deus tão bravo e rancoroso desse período. Gostei! Ele faz uma releitura muito boa e divertida dessas histórias do antigo testamento.
comentários(0)comente



Everton Vidal 09/03/2020

É uma releitura perspicaz e polêmica da narrativa bíblica de Caim, que depois de matar Abel, é condenado a vagar pela terra, e no caso deste livro, também pelo tempo. É o livro mais ácido que li do Saramago, embora também predomine, como em todos os outros romances do autor, a preocupação pela condição humana diante de um mundo cheio de injustiças e absurdamente desigual.
Ri :) 11/03/2020minha estante
Saramago... sem erros!


Everton Vidal 11/03/2020minha estante
Simmm!




Rafael.Augusto 28/09/2019

Polêmico
Saramago que, sabidamente era ateu, nesse livro contesta o próprio deus (e ele se refere a Deus assim mesmo, com letra minúscula) desde o Jardim do édem com os "primeiros habitantes humanos do planeta" (Adão e Eva) pegando como protagonista Caim, o primogênito de Adão e Eva e assassino do irmão Abel. Caim tem ali, logo depois de assassinar o irmão, um diálogo com deus onde deus assume que tem uma parcela de culpa no assassinato de Abel em que fica combinado que Caim ,além da famosa marca na testa, passará a ser um errante ali pelo mundo. Aí é que a magia de Saramago acontece. Caim passa a vagar pelo mundo no lombo de um Asno, e o interessante é que essa viagem não é apenas espacial, ela é temporal também, ou seja, Caim anda para frente e para trás no tempo passando por várias situações ocorridas ali no velho testamento, sendo que em todas elas tem um olho crítico com relação a moralidade de deus. Indico fortemente a todas as pessoas, religiosas ou não, de mente aberta. Para aqueles que não são Cristãos ou Judeus fica, sem dúvida, muito mais fácil a leitura. Para os religiosos, possivelmente uma leitura um pouco mais difícil de digerir, porém, creio que (desculpe a insistência) com uma mente aberta, também seja possível e até uma leitura satisfatória
Likah 28/09/2019minha estante
Estou criando coragem pra ler. Menos por questões religiosas e mais pela minha relação de amor x ódio com Saramago rsrs. Algumas coisas dele, são geniais, outras, terrivelmente enfadonhas, na minha visão de leitora. ('Todos os Nomes', por ex.). Talvez eu tenha com Saramago, a mesma relação que ele tinha com "deus". Aliás, para quem acreditava que tudo se acaba com a morte, ele deixou para a mulher, Pilar, em 'José e Pilar: o filme', esse interessante recado: "Encontramo-nos noutro sítio". A palavra "sítio", em Português de Portugal, quer dizer lugar...


Rafael.Augusto 29/09/2019minha estante
O Livro é fantástico Likah! Mas eu amo Saramago, então não sei se você vai gostar tanto quanto eu. Eu já havia lido, entre outros, "O evangelho segundo Jesus Cristo " que fala sobre a vida de Jesus com o mesmo bom humor e ótica. Amei os dois, super indico.
Além do mais esse é curtinho viu, são cento e setenta e poucas páginas apenas.


Likah 29/09/2019minha estante
'O Evangelho' também está na minha lista. Lerei os dois em algum momento em que a minha birra com ele esteja em baixa :)


Rafael.Augusto 29/09/2019minha estante
Sim rsrs




419 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR