Tamirez | @resenhandosonhos 07/08/2018Um Tom Mais Escuro de MagiaEu estava bastante ansiosa para o lançamento desse livro no Brasil quando ele finalmente chegou. V. E. Schwab, com sua abreviação para livros mais “adultos”, é a mesma autora de A Guardiã de Histórias que saiu pela Bertrand e pelo lançamento de 2017 da Seguinte, A Melodia Feroz. Por aqui ela só começou a fazer algum barulho no ano passado com a primeira aposta do Grupo Editorial Record, mas lá fora ela já é a muito comentada.
A premissa das quatro Londres interligadas é muito interessante. São universos paralelos que se conectam através dessa única cidade mágica. Havia antes uma magia abundante que fluía entre elas, mas a forma como agiu em cada um foi diferente, levando ao colapso da Londres Preta. A passagem foi selada há muitos anos e desde então tudo que era relacionado a cidade foi eliminado. Kell como viajante e mensageiro, passa por entre esses universos, e pratica um ato extremamente proibido, que é levar objetos de uma Londres para a outra.
Como emissário da Londres Vermelha, ele é responsável por manter a comunicação aberta entre os universos com a ajuda do outro único viajante restante, Holland. A diferença entre ambos está o mundo onde eles estão inseridos. Holland pertence à Londres Branca, uma dimensão gananciosa que tenta a todo custo domar a magia, mesmo que ela vá consumindo ao seu redor. É a Londres mais perto da Preta e portanto uma das mais perigosas. Holland segue os desejos de seus governantes, que não são exatamente boas pessoas. Já Kell foi criado praticamente como filho da família real, tendo em Rhy, o herdeiro, um irmão. Na Londres Vermelha tudo é muito controlado e estável, além das pessoas viverem bem e ser um mundo cheio de cor. Com o selamento da Londres Preta, os Antari (viajantes) praticamente entraram em extinção e a atuação dos dois restantes é muito importante para que as portas entre esses três mundos não se feche.
“Não é porque compartilhamos uma habilidade, você e eu, que isso nos torna iguais.”
Kell é um personagem muito intrigante. Ele cresceu como parte da família, mas sabe que o seu lugar ali se dá a sua “raça” e não verdadeiramente à amor. Ele não conhece suas origens, seus pais e isso o atormenta com algumas dúvidas. Para compensar um pouco disso ele adquiriu o hábito de contrabandear coisas e é exatamente quando decide parar que o seu último trabalho o coloca em uma confusão e o faz cruzar caminhos com Delilah.
Delilah Bard é uma ladra que mora na Londres Cinza. Ela primeiro rouba Kell, mas depois o ajuda. Com isso fica marcada junto com ele e a não ser que se ajudem, ambos ficam fadados a fracassar. A relação dos dois se forma de um jeito muito rápido enquanto tentam permanecer vivos.
A relação de ambos e algumas atitudes tomadas são algumas das coisas que me incomodaram nesse livro. Bard parece ser muito inconsequente, mesmo quando banca a esperta e algumas decisões que ela toma são completamente questionáveis na pura lógica básica da história. Não posso aprofundar sobre isso, pois estaria dando spoilers, mas acho que é importante analisar alguns atos e ver o quanto isso não fará sentido com conflitos estabelecidos à frente. Era óbvio que ia acontecer, só os personagens não viram.
Há alguns buracos que também ficam abertos, mas sendo o primeiro livro de uma trilogia é possível que só tenhamos respostas adiante na trama, mas que certamente não impediria que algumas questões lógicas já fossem esclarecidas. Ao final, tudo também se resolve muito rapidamente e com bastante facilidade. Sabe quando os personagens passam um perrengue enorme como pequenas coisas e no grande conflito, aquele que deveria exigir o máximo deles, tudo parece fácil demais?
“A morte chega para todos. Não tenho medo de morrer. Mas tenho medo de morrer aqui.”
Há também uma certa obviedade na jornada. Há pouca surpresa nos acontecimentos e isso é um elemento que eu acho muito importante em histórias assim, cheias de facetas. Com a apresentação de um mundo novo e muito interessante, me pareceu que a história construída em cima dele tomou um caminho mais seguro, sem arriscar muito. O final, por exemplo, poderia ter sido de uma dezena de formas diferentes e mais arrebatadoras, mas acabou sendo algo simples.
Algo que eu achei bacana foi as referências que cercam Kell. Seu nome é Kay-Ell, e Kell é na verdade seu apelido. Várias coisas como ele ser um dos únicos de sua espécie, ter esses poderes especiais e as sombras que rondam seu passado fazem referência ao nosso já bem conhecido Super Homem, cujo nome é Kal-El. Se foi proposital ou mera coincidência eu já não sei.
Apesar de não ter me encantado completamente pela história, gosto muito da proposta de mundo e certamente quero acompanhar os próximos dois livros. A trilogia já foi toda publicada lá fora e só nos resta aguardar as publicações da editora Record.
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