spoiler visualizarAnna 14/03/2024
Um verdadeiro soco no estômago.
Se espera um final feliz como foi no filme ?Preciosa? pode esquecer, além dos pensamentos intrusivos e descrição crua como se o livro estivesse escondendo uma raiva imensurável (creio que foi a ideia da autora) o livro te deixa desconfortável do começo ao fim, tendo uma abordagem que ao mesmo tempo que você quer acabar logo porque não aguenta mais aquele pavor, você busca pelo menos um raio de esperança e isso te prende.
Abdul Jones, com nove anos vê-se sozinho após a morte de sua mãe (vítima de HIV transmitido pelo próprio pai), onde vai para um orfanato católico onde lá ele acaba vivenciando o ciclo de abuso sexual vivido anteriormente pela sua mãe e pela bisavó, porém Abdul não enxerga aquilo como abuso porque em sua cabeça, ele ?normaliza? aquilo e entende aquilo como uma expressão de amor e na narrativa dele, nota-se ele tendo o mesmo tipo de dissertativa que o pai tinha quando ia abusar a mãe dele.
Ele vive cercado pela violência, abusos e além de sofrer os abusos, ele pratica com crianças menores no orfanato, e isso se perdura por anos e anos, e ele acumula uma raiva interna profunda, onde nessa raiva vive também um acúmulo de crises existenciais, onde ele se questiona sempre quem ele é.
Como ele vive uma vida onde o abuso sexual é algo de certo modo normalizado, ele acaba se prostituindo, já aviso que é bem explícito a forma como ele descreve as coisas, não é para todo mundo porém é necessário de se avaliar porque esse livro questiona até onde vai nossa moralidade, até onde vai a crueldade e nojeira humanas.
Eu particularmente prefiro ficar com o final do filme, onde a Preciosa fica com seus dois filhos e conclui seus estudos. Se ela visse o que o próprio filho viveu e fez, iria ter o coração mais partido do que já estava.