kleris aqui, @amocadotexto no ig 24/04/2017É sobre conhecer a vida de outrem que já fez parte da nossa e que sempre deixa um pedacinho cá conosco(Esta resenha teve corte de quotes e imagens do livro; visite o link para conferir)
Em Gigantes, há todo esse querer em ser mais do que se é, em conquistar seu espaço, realizar-se enfim. Como diz o subtítulo, temos a história de cinco amigos, agora um pouco distantes vez que a vida aconteceu e a escola, bem, acabou. São jovens sonhadores e que muitas vezes dão a cara a tapa, se aventuram, levam rasteiras e, sim, eles vivem intensamente conforme seus corações lhe mandem. Lipe, Fernando, Camila, Duda e Zidane são esses garotos que a gente vê crescer. Os cinco são a representação dessa geração que está passando dos 30 ou 40 e ainda vivem se atropelando nas fases naturais da vida. É, por certo, um livro que coloca em pauta a nostalgia e aquele bom e velho sorrisinho de olhar para trás e pensar “eu vivi isso”.
As histórias aqui correm como um cinema de poucas falas e somos meros espectadores sem muitas perspectivas, pois não vivemos junto com os personagens por exato. De perfis tão elitistas, não pude não lembrar de como era assistir à série Gossip Girl, com personagens tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes de mim – pareceu-me, inclusive, que era o livro do Dan o que eu lia (há uma notinha introdutória então, bate certinho). Há um pouco de metaficção, aliás.
A escrita é leve e se dá em capítulos curtíssimos, cada um se centrando em um dos personagens. A gente nunca sabe quem terá sua cena estampada nas páginas e achei isso um toque interessante, vez que são muitos caminhos para convergir e é aqui que a narração trabalha. O narrador bem conhece a galera e se preocupa mais em demonstrar quem eles são a construir uma trama complexa – logo, vemos relatos, reflexões e pouca ação, numa vibe meio contador de histórias, com cenas delicadas e sentimentalismos. Vê-se muito também daquela velha máxima de sexo, drogas e rock n’roll, além de pinceladas de roteiro e dramaturgia, imagino.
Neschling abre as cortinas e mostra que a vida tende a ser fatalista, pois vez e outra ela vai te derrubar e ainda assim nos sentiremos gigantes por enfrentar essas batalhas. Elas, de alguma maneira, vão nos fortificar e, com sorte, nos colocar no lugar onde deveríamos estar. Isso porque muitos desses jovens (e muitos de nós) têm oportunidades a seus pés, mas ainda não sabem bem o que querem. A saga da vida é a saga dessa busca aparentemente incessante; e percalços nunca faltarão.
Apesar desse porte de gigantes, os problemas aqui relatados não são nada rasos, tampouco sem empatia – em dados momentos de cada um invariavelmente vamos enternecer. Mas, como eu disse, a história não me ganhou, muito provável por não ter sido o momento certo da leitura... não sei, não me conectei. Por outro lado, foi diferente. Esse caráter sim, razoável, me agradou. Vale a leitura – o traço existencial te faz pensar nessa louca viagem que é a vida e no rumo que temos trilhado. Interessados na essência do meio artístico de roteiros, produção, peça publicitária, dramaturgia e semelhantes podem vir a se agradar também.
Enfim, Gigantes é para quem procura ir além numa leitura: além do conhecido, além do que é contado e além de meras histórias que vemos estampadas em crônicas no cotidiano. É sobre conhecer a vida de outrem que já fez parte da nossa e que sempre deixa um pedacinho cá conosco, que pode nos instigar (e querer voltar no tempo) a qualquer momento da vida. No mais, é um breve suspiro carregado de vivências. Por isso, meus melhores votos de felicidades a Lipe, Camila, Fernando, Duda e, sim, Zidane. Somos todos gigantes, sem certo ou errado :)
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http://www.dear-book.net/2016/04/resenha-gigantes-cinco-amigos-uma.html