Leila de Carvalho e Gonçalves 22/10/2017
Entre Erros E Acertos, Recomendo
Tenho as obras completas de Machado de Assis em ebook além de boa parte distribuída em livros, adquiridos durante de anos de leituras. Quando vi o box da Nova Aguilar, decidi trocá-los, pois ganharia mais espaço na estante. Finalizei a compra durante uma promoção e, em apenas dois dias, a coleção foi entregue.
Minha primeira reação foi positiva, a edição parecia luxuosa, mas bastou folhear o primeiro volume, para ficar desapontada. Segue a lista de problemas que encontrei:
- O excesso de cola manchou as contracapas. No primeiro volume, elas também possuem vincos.
- O papel bíblia é o mais indicado para livros com grande número de páginas, todavia, a Nova Aguilar optou por um produto cuja qualidade não me agradou. Sua transparência deixa vazar a impressão das outras páginas e para minimizar o problema, segui o conselho que li num comentário. Passei a usar papel sulfite atrás da folha que se está lendo.
- Essa transparência também permite observar várias páginas fora do esquadro.
- Finalmente, algumas folhas vieram amassadas no final dos volumes.
Decidi trocar a coleção e cabe registrar a habitual cortesia e correção da Amazon no trato com os clientes assim como da Nova Aguilar a quem enviei um e-mail. O novo box está em melhores condições, mas também possui manchas nas contra-capas.
Só não optei pela devolução, por conta dos seguintes aspectos:
- Os textos receberam um tratamento exemplar. Como as obras de Machado vendem bem e são de domínio público, muitas editoras optam por publicá-las sem o merecido cuidado. Na contramão, a Nova Aguilar realizou atualização ortográfica, aplicou a regra vigente para colocação de crases, corrigiu as vírgulas flagrantemente incorretas além dos erros de concordância verbal e das locuções com o verbo "haver". Também uniformizou o uso de travessões, (no século XIX, muitas vezes, eles eram empregados no lugar de vírgulas), substituiu, quando possível, palavras estrangeiras por outras de língua portuguesa e uniformizou os pronomes de tratamento, por exemplo, "Senhor" e "sr.", assim como "padre", "doutor", "professor", etc...
- A Seção "Fortuna Critica" reúne dezoito ensaios sobre a obra do escritor. De Capistrano de Abreu, "Sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas" a Susan Sontag, "Vidas Póstumas: O Caso de Machado de Assis", são 224 páginas de estudos disponíveis ao leitor. Dessa lista, fazem parte nomes que conviveram com Machado, como seu amigo pessoal José Veríssimo, e outros que, nasceram muito depois de sua morte. Um exemplo é Silviano Santiago, autor do romance "Machado", que, reunindo ficção e realidade, narra os últimos quatro anos de vida do escritor.
- A "Bibliografia" é a mais completa que conheço e exibe um extenso material para pesquisa.
Se comparada a primeira edição das obras completas do Bruxo do Cosme Velho, lançada em 1959, essa coleção está substancialmente maior. Desde então, o conjunto de textos reconhecidos como de sua autoria transformou-se, muitos foram incluídos e alguns subtraídos, como "Queda Que As Mulheres Têm Para Os Tolos" que não passa de uma tradução.
Com relação aos contos avulsos, uma área nebulosa, a Nova Aguilar optou pela prudência. Publicados em periódicos mediante pseudônimos, alguns usados até mesmo por autores diferentes, há sérias divergências, se esse ou aquele é realmente do escritor. Portanto, essa edição descartou as últimas "descobertas" apontadas como de sua autoria. Para quem quiser conhecê-las, recomendo as obras completas da L L Library (em ebook) ou recorrer a internet. Segue a lista: "Bagatela" (1859), "Diana" (1866), Felicidade Pelo Casamento" (1866), "Fernanda e Fernando" (1866), O Pai" (1866), "Francisca" (1867), "História De Uma Lágrima" (1867), "Onda" (1867), "Possível e Impossível" (1867), "A Vida Eterna" (1870) e "O Califa de Platina" (1878).
Quanto a ler Machado, essa é uma ocupação para vida inteira, já que suas obras atingem novas e mais complexas camadas interpretativas, conforme o leitor lapida sua formação. Considerá-lo um dos maiores nomes da literatura, não se trata de ufanismo, basta observar as opinões de três dos maiores escritores contemporâneos:
- "If Borges is the writer who made Garcia Marquez possible then it is no exaggeration to say that Machado De Assis is the writer who made Borges possible." (Salman Rushdie)
- "The greatest writer ever produced in Latin America." (Susan Sontag)
- "Machado de Assis is a great ironist, a tragic comedian. In his books, in their most comic moments, he underlines the suffering by making us laugh." (Philip Roth)
Elas foram escolhidas para divulgar a edição inglesa do romance "Dom Casmurro" e podem ser apreciadas numa foto que postei abaixo. Trata-se da vitrine de uma livraria e seu autor e um amigo meu .que visitava a Londres. É surpreendente o destaque dado ao livro, já que nossa literatura, com exceção dos livros de Paulo Coelho, é praticamente ignorada no exterior.
Para encerrar, você sabia que Woody Allen, numa reportagem para o "The Guardian" em 6/5/2011, incluiu na lista de seus cinco livros preferidos "Memórias Póstumas De Brás Cubas"? Ele ganhou o exemplar de um fã e confessou que só leu, porque o romance não era um calhamaço de centenas de paginas...