Flor de Sal

Flor de Sal Robson Felix de Almeida




Resenhas - Flor de Sal


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Robson.Felix 28/11/2015

Flor de Sal - Memórias de um hedonista
Enquanto uns tentam conceituar família, em pleno século XXI como na época do império, na mesma proporção em que salivam com as sacanagens ao estilo "Verdades Secretas", o publicitário carioca Robson Felix de Almeida se propõe a divertir seus leitores numa odisséia sacana e pronto. Simples assim. Julgar ou não, já é problema teu. 

Sem o menor pudor ou culpa no modelo judaico-cristão, Felix passa por aventuras urbano-pitorescas que vão te arrancar, no mínimo, boas risadas com o primeiro livro que dá origem à série Flor de Sal - Memórias de um Hedonista. Mas não espere fugir da densidade natural que é "fruto de lembranças ou delírios de uma mente extremamente angustiada e compulsiva" - como ele se define na orelha do livro, ?revisitando os caminhos tortuosos que acredita ter percorrido.?

Este primeiro livro narra desde os dramas de um rapaz tímido que acaba de casar com a primeira ?gostosa? que conheceu e se vê fracassando no corpo de um pai de família exemplar, até sua entrada no mercado corporativo e as rodas de empresários carregadaspor drogas e prostitutas de Copacabana. Nos próximos, ele adianta sem fazer spoiler, vem a tentativa do narrador de se apaixonar por lolitas vanguardistas e liberais que o fazem de gato e sapato. Descrevendo com a acidez e veemência necessárias para uma posição crítica da rotina de uma geração sem ideologias e dos vários nichos urbanos do Rio de Janeiro e, é claro, os pontos turísticos que mais aguçam os sentidos do leitor: a Lapa, Santa Teresa, e o lado da Zona Sul que compõe o carioca da mais alta malemolência. Tudo isso regado a uma narrativa crua e de humor aprazível, o que faz da obra uma vitrine dos jogos que a sociedade se utiliza na busca de todas as formas de prazer hedonista.

O personagem central da trama (que não revela seu nome e nos causa propositalmente uma confusão entre narrador ? personagem e autor) nos guia pelos espirais do tempo justificando os caminhos que o levaram a se tornar o homem confuso e entediado que a cada página vai se revelando mais. De acordo com o autor, a ideia é fazer uma série que nem ele mesmo sabe onde vai chegar, já que suas memórias não param de jorrar passagem interessantes. Para o leitor, a impressão que se passa é que o autor é ao mesmo tempo personagem e narrador, diluído entre suas várias personas, mas todas elas fluindo como marionetes pelas manias da sociedade do espetáculo dos novos tempos. ?O livro traça a metanoia de um homem de meia idade através de suas lembranças, em uma narrativa dura. Sem dúvida é um livro sobre a minha vida, mas com toda a liberdade de juntar histórias que, eventualmente, eu tenha apenas ouvido falar.?, diz.

Era de se esperar (e até proposital) está confusão, sendo a obra classificada como autoficção ? termo usado na crítica literária para se referir a uma forma de autobiografia ficcional, ou seja, combinando dois estilos, paradoxalmente contraditórios: a de autobiografia e ficção. O escritor se define como portador de um tipo raro de amnésia emocional para justificar as recordações ficcionais que nos fazem sair da zona de conforto e rir, chorar ou até sentir certo asco, já que aventuras sexuais escatológicas não ficaram de fora. Compulsivo, também, por citações, outra mania atual que parece generalizada, Robson faz valer a pena essa brincadeira, principalmente quando os autores e suas citações interagem com ele até na hora da sacanagem, em uma mediunidade malandra.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR