Ivy (De repente, no último livro) 28/08/2018
Resenha do blog "De repente no último livro..."
The Crown`s Game me chamava a atenção principalmente por causa de seu contexto histórico. Amo a Rússia e qualquer história que envolva este país. E se a trama promete os Romanov como parte do elenco, melhor ainda. Além disso, achei que a bilogia possuí um ar meio Grisha (quizá por conta justamente da ambientação russa) e não poderia deixar escapar mesmo.
Além disso, como se fosse pouco, a história transborda informações super relevantes, sobre os costumes, lugares e conflitos que a poderosa Rússia esteve envolvida lá pelos anos de 1825. Os otomanos, a Crimea, o descontentamento geral do povo com relação ao czar e também, por outro lado, a devoção aos mesmos czares que consideram o símbolo maior de seu país, tudo isso é retratado com exatidão e maestria por Evelyn Skye, uma autora que pra mim, até então, era desconhecida.
Vika Andreyeva é uma jovem que cresceu isolada, no meio de um bosque, criada por seu pai, Sérguei, que além de pai foi também uma espécie de mentor e treinador pois Vika é uma maga, possuí um poder incomum e deve em breve ser preparada para tornar-se maga imperial, o braço direito do czar.
A pedra no sapato consiste justamente na existência de um segundo mago, algo bem incomum, que ocorreu poucas vezes na história da Rússia.
Nikolai Karimov é esse segundo mago. Nikolai pode atravessar paredes, criar ilusões e sonhos, e foi muito bem treinado por Galina Zakrevskaya, que o adotou quando ele ainda era um menino bem pequeno.
Galina é irmã de Serguei. E agora ambos serão obrigados a assistir seus pupilos se enfretarem no Jogo da Coroa, uma disputa mágica onde apenas o melhor sobrevive para tornar-se o mago imperial do czar.
O grande problema é que Vika e Nikolai não parecem estar preparados para serem assassinos, e o poder que possuem, a razão pela qual estão se enfrentando, também parece uni-los, como se fossem ambos duas metades. Uma magia parece preencher a outra, e Vika começa a enxergar em Nikolai um igual, e não mais um rival. O mesmo ocorre com Nikolai.
Mas um deles deve morrer, pois Pasha Romanov, o herdeiro do trono, logo será czar e necessita de um braço forte que o ajude a governar a Rússia e deter o cruel Império Otomano que se aproxima. Sua irmã, Yuliana Romanov, é inteligente e astuta, mas não é o que Pasha necessita para governar.
Pasha ama Vika, mas Nikolai é o seu melhor amigo. Nikolai também ama Vika, mas sabe que ambos estão destinados a se destruírem. E Vika, em meio à tudo isso, deve escolher onde depositar sua lealdade.
Acho que o enredo por si só já é apaixonante, sinceramente. The Crown`s Game é, ao meu ver, uma leitura super interessante. Os costumes russos retratados, a culinária peculiar, as cidades apaixonantes, a história imponente, tudo em The Crown`s Game remete à grandeza.
Eu me senti tragada por esse universo mágico e ao mesmo tempo, real. San Petersburgo, Moscou, a Crimea, estão todos ali, parte da nossa realidade. Mas ser arrebatada para a trama de Evelyn Skye acrescenta um sabor ainda mais fascinante do que a própria realidade pois a autora insere a magia em sua trama, e o interessante é notar o quanto essa mágica funciona com a própria história dos czars e as lendas da antiga Rússia.
The Crown`s Game foi uma leitura daquelas que imerge o leitor aos poucos. No começo eu não conseguia me apegar aos personagens. Vika e Pasha por exemplo me resultaram indiferentes até o final, não consegui nutrir nenhuma simpatia por nenhum dos dois. Achei Vika fria demais, calculista e muitas vezes age como uma menina impulsiva e mimada.
Pasha por outro lado é típico demais. O garoto rico que gosta de aventuras e finge ser outras pessoas para poder aproveitar alguns momentos na clandestinidade. O mocinho que possuí um poder enorme em mãos mas não sabe o que fazer com ele e passa grande parte do livro se lamentando por ser quem é. Além disso, faltou carisma em Pasha. Ele é morno e dispensável.
Quem fez a leitura valer a pena foi mesmo o sedutor Nikolai. Esse personagem possuí um passado muito peculiar, que deixa o leitor mais curioso em cada página. Além disso, sua personalidade é por si só fascinante. Nikolai acaba ofuscando os outros dois protagonistas facilmente, e há um certo momento em que apenas conseguia me interessar pelos seus capítulos, pois as rotinas dos demais me pareciam completamente tediosas em comparação à deste personagem.
O romance, muito clichê, acaba por ser o ponto mais fraco da trama. Temos um quadrado amoroso, onde uma parte é interessante e a outra é absolutamente cansativa e sem sal. Acho que tudo o que envolve Nikolai foi espetacular, então suas interações com Vika e com a personagem de Renata foram, sempre, emocionantes e ternas, convincentes. Por outro lado, me dava enjôo acompanhar as interações entre Vika e Pasha. Um instalove chato, meloso e de jeito nenhum convincente, até porque Vika parece ficar em cima do muro o tempo inteiro e Pasha carece de magnetismo para encantar o leitor (uma pena pois o garoto é o filho do czar e com essa personalidade frustrante acabou tendo todo o seu potencial como personagem desaproveitado).
A ambientação foi apaixonante. É a Rússia, precisa dizer algo mais??? Como eu disse antes, Evelyn Skye conseguiu retratar a Rússia antiga de uma maneira bem especial, agregando muita magia, e permitindo que essa inserção de fantasia fosse coerente à história. Não é algo colocado ali de maneira forçada, mas está em harmonia com a própria história misteriosa e envolvente dos Romanov e das dinastias da antiga Rússia.
Não gostei do tal Jogo da Coroa em si. Imaginava que fosse ser uma competição voraz, daquelas bem mortais mesmo, mas é apenas um show de mágicas onde cada mago tenta fazer algo mais bonito que o outro para impressionar o czar e seu filho. Achei que a premissa, de certa forma, se perdeu ao longo das páginas. E quando Nikolai e Vika começam a se envolver e ambos começam a lamentar cada vez que lhes toca fazer uma jogada, fica algo meio maçante e previsível. Se formos incluir Pasha na matemática sempre atrás de Vika deixando tudo ainda mais enfadonho, há momentos em que a leitura se torna cansativa e chatinha, por conta desse ponto e de certa desilusão que o leitor pode ter ao esperar um Jogo da Coroa bem mais vibrante do que encontrará em realidade nestas páginas. Ainda assim, a narrativa é boa e sempre deixa a gente com as expectativas sobre o que irá acontecer no final, já que de antemão sabemos que um dos dois magos morrerá.
O final aliás foi bom, mas não foi tão incônico quanto poderia ter sido. Mais uma vez por conta da frieza de Vika, que consegue ser tão emocionante quanto uma porta quando se trata de demonstrar seus sentimentos e tomar uma decisão. Apesar de algumas boas surpresas, fica sempre aquela sensação de que tudo poderia ter sido melhor, e que só valeu a pena por conta da ambientação maravilhosa e de Nikolai, personagem que salvou a leitura, juntamente com uns poucos secundários como Renata, Yuliana Romanov e Aizhana, um "espírito" que regressa da morte para colocar um pouco mais de tempero na história. Ainda assim ficou uma pontinha de curiosidade para ler o desfecho dessa bilogia, The Crown`s Fate, e conhecer os destinos finais de Vika, Pasha, Nikolai e da grande Rússia.
site: http://www.derepentenoultimolivro.com/2018/08/review-226-crowns-game-crowns-game-1.html