Sueli 19/11/2015
A Testemunha
O escritor, para mim, é uma pessoa com poderes infinitos, seja qual for a sua classificação. Alguém com a capacidade de me abduzir e me fazer conhecer outros universos e personagens tão bem construídos que, ao final de uma obra, eu me sinta tão triste, vazia e saudosa, não poderá nunca ser confundido com alguém comum.
Essa pessoa especial cuja mente é habitada por hordas de personagens que escapam e transformam-se, por algum tempo, em figuras essenciais em minha vida, sempre terá o meu respeito e imensa admiração.
Nora Roberts, entre todos escritores do gênero de literatura romântica, ocupa um lugar especialíssimo em minha estante e em meu coração. Minha dívida com ela é imensa por me apresentar um mundo de fantasia e romance que eu, em minha infinita ignorância, não conhecia. Portanto, leitor, seja muito consciente dos meus comentários carregados de carinho, amor e gratidão por esta autora, ok?
Em seu romance “A Testemunha” Nora Roberts conduz o leitor em uma espiral de suspense eletrizante. Seus primeiros capítulos estão carregados de rejeição, rebeldia juvenil, ingenuidade, ação e violência extrema.
A forma como Roberts constrói o caminho de Elizabeth rumo ao desastre total, é inquietante. Ela nos coloca como testemunhas ocultas e impotentes das escolhas tão comuns e frequentes que os jovens costumam tomar nessa fase onde os hormônios mais prejudicam que ajudam. A literatura científica está aí, e não me deixa mentir. Contudo, Elizabeth está coberta de razão em sua ira santa.
Para mim foi difícil não ficar emocionada com a trajetória desastrosa de Elizabeth Fitch e sua mãe desalmada. Sei lá, mas Nora Roberts quando decide escrever sobre mães ordinárias, ela capricha, viu?
A Dra. Susan L. Fitch quando resolve engravidar o faz por meio de inseminação artificial, encarando a maternidade como um projeto onde não haveria margem para erros. Susan é uma mulher belíssima, mas sem sentimentos. Inteligente, mas emocionalmente incapaz. Arrogante, fria, calculista, enfim, o verdadeiro cão chupando manga.
Para marcar o seu território, além alargar os seus limites, Elizabeth, uma jovem brilhante, com memória eidética, parecidíssima em personalidade e inteligência com a Bones (do seriado do mesmo nome), resolve experimentar um pouco de vida em uma jornada de pouco mais de vinte e quatro horas, tão veloz, quanto aflitiva, em um fim de semana. Em sua ânsia de vida, ela quase encontra a morte. A morte que não poupa a vida de sua nova e única amiga, em seus dezesseis anos de existência.
Nesse instante, Elizabeth, Liz, como ela prefere ser chamada, testemunha os crimes cometidos por uma facção extremamente cruel e poderosa da máfia russa.
Ela, então, é posta em um programa de proteção à testemunha que é sabotado por agentes federais corruptos, e foge para se proteger deixando para trás seu amigo e protetor.
Após doze anos, encontramos Abigail Lowery, uma nerd, vivendo isoladamente, nas Montanhas Ozark, onde sua rotina e privacidade serão invadidas pelo chefe de polícia Brooks Gleason, tão gostoso, quando escorregadio, mas extremamente leal e incorruptível.
Querido leitor, é um típico romance com DNA Nora Roberts, onde o eletrizante conflito inicial perde força ao longo de suas quase quinhentas páginas. Eu havia me preparado para muita correria, suspense e emoção, mas foi fácil chegar ao final do livro sem grandes sustos. Em “A Testemunha”, Roberts preferiu o romance em vez do suspense e da ação.
Aí, você me pergunta: Gostou? E, eu respondo sem medo de errar, que gostei muito. Mas, eu sempre gosto dos livros da Nora. Ela faz magia com as palavras! Seus diálogos são espirituosos, divertidos, rápidos, e muito inteligentes. Ela tem o dom de me fazer apaixonar por seus personagens, e quando ela resolver inserir crianças e cães, aí... É pura covardia. Espere até conhecer o Bert!
Confesso que quando eu vi o meio de campo meio embolado, corri para o último capítulo para ver se todos estavam “presentes”. Especialmente, Bert!
Eu sei, eu sei... É um romance romântico, mas vai que dá uma loucura e a escritora resolva “eliminar” alguém... Depois do Tolkien e do Martin eu fiquei meio apavorada!
Mesmo não sendo um livro da chamada alta literatura, uma escritora inteligente sempre aproveita para nos fazer pensar sobre pontos importantes da sociedade moderna. E, Roberts não perde tempo e nos fala sobre a fragilidade da justiça frente ao poder e a corrupção.
Um romance sobre justiça e sobre o resgate de uma vida frente ao milagre do amor.
Como sempre, mais um livro imperdível de Nora Roberts, embora ao longo das quatrocentas e setenta e quatro páginas existam mais buracos que em um queijo suíço.
O final abrupto e imponderável me deixou insatisfeita, pois eu teria adorado saber maiores detalhes. Nora criou um conflito real e muito possível, mas não deu um fechamento adequado. E, mais não falo para não irritar os leitores que detestam spoilers...
Como está se tornando habitual, a revisão é sofrível! No começo do capítulo 23, na página 374, em uma referência à época do ano, a primavera foi colocada próxima ao mês de agosto! Fala sério tradutor, a Nora Roberts não merece isso!