Mari Siqueira 11/01/2016Com uma das leituras mais comoventes, inesquecíveis e intensas da minha vida, Kristin Hannah despedaçou meu coração - outra vez, mas em pedaços infinitamente menores. Tenho tentado escrever esta resenha há meses - li O Rouxinol em novembro - e tenho falhado miseravelmente. Minhas palavras não parecem ser o bastante para expressar o quanto essa leitura me afetou e, por isso, peço que me desculpem se essa for uma de minhas resenhas mais emocionais.
Com um enredo dramático que se passa na França da Segunda Guerra Mundial, a autora narra a história das irmãs Vianne e Isabelle. Suas personalidades distintas são conflitantes e, ao mesmo tempo, complementares e conforme o mundo que conhecem se transforma, elas também mudam, mas de maneiras diferentes.
Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, países como a França foram diretamente afetados pelo regime nazista e ocupados pelo exército alemão. As jovens esposas francesas ficaram desamparadas quando seus maridos foram convocados para combater Hitler. Essa é uma história sobre heroínas de guerra, sobre mulheres que não estão nos livros de História e que foram tão ou mais corajosas que qualquer soldado. Mulheres que deram sua fé, sua honra e suas vidas por suas famílias.
Quando é solicitado que todos os homens de Carriveau vão para as linhas de guerra, Vianne se vê obrigada a se despedir do marido. Desamparada e assustada com a ocupação alemã, a jovem mãe faz o que pode para não atrair atenção dos soldados alemães e, assim, manter sua filha a salvo. Ao ser obrigada a conviver com um soldado alemão chamado Beck, que se aquartela em sua casa, ela se submete a tratá-lo como um convidado sem questionar. Proteger sua filha é o mais importante.
Enquanto isso, Isabelle, é seu exato oposto. Impetuosa, rebelde e ousada, a irmã mais nova de Vianne se arrisca a desafiar as leis alemãs e não se importa de colocar sua própria vida - ou a dos outros - em risco por um bem maior, a França. Quando conhece um grupo de rebeldes e se apaixona por um jovem guerrilheiro chamado Gaëton, Isabelle descobre que uma mulher também poderia ser útil durante a guerra. Sob disfarce, ela passa a viver uma vida dupla, ajudando sobreviventes e lutando contra o regime nazista.
As visões e atitudes opostas das irmãs perante a guerra são exploradas com maestria. Apesar de almejarem o mesmo ideal, elas tomam partidos diferentes e enfrentam o horror nazista da forma que mais lhes parece correta. É fácil compreender as duas e, se há algo que Kristin Hannah faz magnificamente bem, é dar complexidade a seus personagens e fazer como que o leitor sinta empatia por cada um deles, independente de suas escolhas.
O soldado Beck foi, na minha opinião, um dos personagens mais marcantes deste livro porque apesar de ser parte de algo monstruoso e desumano, revelou seu coração aos poucos, junto com seus motivos. Seguindo ordens, ele matou e enviou centenas de judeus para campos de concentração simplesmente porque acreditava que aquilo era o certo, mas não deixou a família de Vianne morrer de fome no inverno. Afinal, erramos todos achando que estávamos certos. O jovem soldado alemão e sua complexidade de caráter, muitas vezes questionável, despertou os sentimentos mais contraditórios em mim e seu papel na história mostra o quanto somos um emaranhado de bondade e maldade, sempre buscando por algum equilíbrio.
O Rouxinol me fez chorar por dias e se tornou um dos meus livros favoritos. Kristin Hannah escreve com uma sensibilidade ímpar e expõe o ser humano como uma criatura tão complexa quanto o bem e o mal. A linha tênue entre um e outro permeia nossa existência e as histórias sobre períodos brutais e cruéis, como a Segunda Guerra Mundial, nos mostram que não importa o quanto o ser humano tente destruir aos outros e a si mesmo, os rouxinóis continuarão cantando mesmo que já estejam sem voz.
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