O ato e o fato

O ato e o fato Carlos Heitor Cony




Resenhas - O ato e o fato


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Ronaldo Thomé 22/11/2023

O Ato e o Fato
Corajoso e poderoso; essas são as palavras para definir o que Carlos Heitor Cony foi, em frente ao início da ditadura militar. Foi impressionante a força que ele teve, ao se estabelecer como um dos poucos (na verdade, um dos pioneiros, naquele ano de 1964) a criticar o regime que se instaurou e tudo o que veio a seguir.

Na época, Carlos já era um autor conhecido no país, com obras ficcionais consagradas e trabalhava como cronista no jornal Correio da Manhã. Aqui, com suas crônicas (que vão assumindo uma postura sólida e engajada ao longo do livro), ele cria uma espécie de "Diário do Golpe" mostrando sua opinião e escancarando coisas que certamente a sociedade não gostaria de saber.

Também é importante dizer que a leitura dessa obra desmonta MUITOS dos mitos do senso comum sobre o que aconteceu em 1964. Por exemplo, a ideia que o regime militar seria uma "ditabranda" é absurda; Cony nos mostra que o horror e as perseguições começaram já em 31 de março daquele ano. O Exército fez milhares de prisioneiros já nesse dia e violência e torturas começaram nesta data. Além disso, as perseguições e ameaças ao escritor também não tardaram a começar, bem como as expulsões de estudantes e demissões de profissionais. Ou seja, tudo que faz parte do regime de terror de um governo tirano.

Apesar de se tornar um pouco cansativo e repetitivo, o livro vale pelo tema e pela coragem de ser um grito, quase que isolado, porém cuja força ressoa até hoje. A história quase se repetiu neste período 2018-2022, então, que estejamos atentos.

Indicado para: quem quer entender como é possível reagir ao terror de um regime, ainda que sozinho, e fazer a diferença (ainda que pequena).

Nota: 10,0 de 10. 
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DIONNY 07/11/2020

Não se pode entender o período através do livro, mas se consegue ter noção levando em conta a visão do jornalista. Leitura mais que valida, pois os detalhes é que me chamaram a atenção.
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Luis 12/01/2018

Nas trincheiras com o Cony
Precisamente, nesse momento em que escrevo, completa-se uma semana da morte de Carlos Heitor Cony. Desnecessário dizer o impacto que o desaparecimento de um gigante como ele significa para a literatura brasileira. Como é de praxe, sua morte acaba ironicamente reavivando o interesse de muitos por conhecer sua obra, e de outros por retomar o convívio com um escritor seminal. Estou nesse último caso pois, desde 2014, não lia nada dele. Decide compensar esse atraso logo com dois de seus mais célebres títulos, para mim inéditos : “O Ventre”, sua estreia na ficção, publicado em 1958 e “O Ato e o Fato”.
O escritor carioca é um dos raros casos de brilhantismo tanto na seara ficcional quanto no jornalismo, sendo que nesse último caso, coube-lhe a glória suprema de ter capitaneado a primeira reação pública ao golpe de 01 de abril de 1964. “O Ato e o Fato”, lançado no calor da hora, é o livro que registra esse momento e definitivamente colocou Cony na História.
Na época, o autor era o chefe do grupo de redatores do “Correio da Manhã”, provavelmente o jornal mais influente do país na ocasião e que vinha adotando uma oposição moderada ao governo de João Goulart, só metendo o pé no acelerador nos últimos momentos de poder do político gaúcho, quando engrossou o coro da sua saída, publicando os editoriais “Basta !” (31/10/1964) e “Fora !” (01/04/1964). Cony, que assinava uma coluna no segundo caderno do jornal, estava convalescente de uma cirurgia e não participou da redação dos editoriais citados, embora os tenha lido antes da publicação. Nos meses anteriores, quando o cenário já era tenso, o articulista era constantemente acusado de alienado, pois privilegiava o tratamento de assuntos relacionados às artes em geral no espaço de sua coluna. Adicionalmente, podia ser considerado longe de ser um apoiador do PTB e do grupo que orbitava em torno de Goulart, a quem pessoalmente achava demagogo e despreparado. Por tudo isso, foi no mínimo surpreendente, a súbita tomada de posição do escriba tão logo os tanques dos rebeldes foram colocados nas ruas, mas , tal como um profeta, Cony detectou que acima das paixões políticas, o que estava em jogo naquele momento era a própria democracia e assim deu o primeiro grito.
O artigo inaugural, “Da Salvação da pátria”, saiu em dois de abril, dia seguinte ao “movimento”, e resultou de uma incursão de Cony e Carlos Drummond de Andrade, também cronista do “Correio” à região próxima ao Forte de Copacabana onde viram um dos revoltosos montar uma barricada com débeis paralelepípedos empilhados. Ao interpelar o militar, o escritor recebeu como resposta que era uma “barreira” a fim de impedir o I Exército de retomar o Forte. Um pouco depois, ouviram um tiro mais adiante, pensaram logo que seria a tão esperada batalha entre as forças legalistas e revolucionárias, mas descobriram que era um velho oficial de reserva que, irritado com a reação de um operário que gritou Viva Brizola”, atirou para o alto com sua velha garrucha e agora tentava surrar o rapaz. O poeta e o jornalista voltaram para suas casas, Cony pegou a máquina portátil e começou a desancar a quartelada.
Durante os dois primeiros meses da redentora, as tijoladas foram quase diárias e solitárias mediante o imenso e (envergonhado) silêncio da chamada grande imprensa. Cony denunciava as arbitrariedades a que os vencidos eram submetidos, as esdrúxulas resoluções, a “farsa” eleitoral de Castello ou ainda a desconfortável posição de Lacerda, um dos mais ferrenhos apoiadores civis do Golpe e que esperava que o poder o fosse oferecido de bandeja, o que obviamente não aconteceu.
Conforme era previsto, as pressões sobre o jornalista se intensificaram, com ameaças em telefonemas anônimos, recados à direção do Correio, culminando mesmo em um processo movido pelo então Ministro da Guerra, Costa e Silva, no qual testemunharam a favor do autor, gente do calibre de Alceu Amoroso Lima, Antônio Callado e o já citado Carlos Drummond de Andrade. É curioso registrar que o presidente da ABI, Celso Kelly, telefonou a Cony se desculpando por não depor pois não queria se indispor com o Ministro.
Apesar de todos esses contratempos, chama a atenção a veemência com que o autor descreve a situação então vigente, sem meias palavras e sem dourar a pílula, em termos que surpreendem mesmo para os tempos atuais, em uma demonstração inequívoca de coragem. Ressalta-se que embora sob atmosfera sufocante, nos petardos tinha espaço até para o humor, como quando Cony ressalta o papel dos “histéricos e analfabetos” civis que soltavam jorrões em torno dos militares como Sandra Cavalcanti, Hélio Fernandes, César de Alencar e Flávio Cavalcanti.
O escritor encerraria sua participação no Correio em fevereiro de 1965, após a publicação do texto “Ato Institucional II”, uma paródia sobre o segundo grande ato administrativo da Ditatura. Junto com o artigo entregou sua carta de demissão ao redator Chefe, Antônio Callado que, solidário, saiu junto com Cony.
Ênio Silveira, o lendário editor da Civilização Brasileira, no final de maio de 64 teve a ideia de reunir as crônicas políticas publicadas por Cony desde de 02 de abril. O próprio Ênio escolheu o título, que batiza uma das primeiras crônicas : “O Ato e o Fato”.
O lançamento da obra foi a primeira manifestação pública coletiva contra o regime, e o livro virou um clássico de como se fazer jornalismo com a pena altiva, ou, para ser mais explícito, com a fidelidade aos ideais democráticos, ou, para ser mais claro ainda, com vergonha na cara.
Que o velho Cony sirva de inspiração a tantos por aí.
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Narthagman Moreira 01/03/2021

O ato e o fato: atos de coragem e fatos que nos envergonham
O livro O ato e o fato, de Carlos Heitor Cony, é uma das obras mais corajosas que eu já li sobre os assuntos relativos a ditadura militar no Brasil.

O autor com uma máscula coragem, enfrenta, de peito aberto os poderes dos tanques e dos rifles dos militares, que de forma vil tomaram o poder do país através de um golpe nefasto e pueril.

Carlos Heitor Cony, através de sua crônicas corajosas e contrárias ao regime ora estabelecido no Brasil, foi a voz de milhares de pessoas que não concordaram com aquele momento vivido por todos eles.

Viva a resistência!
Viva a democracia!
Viva Carlos Heitor Cony!

Ditadura nunca mais!
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Marcos.Daniel 25/04/2021

Importante
Mas não captura o leitor. Tenho lido esta obra como um jornal durante as manhãs e ele é realmente bem repetitivo.

É uma obra que fala muito sobre o contexto histórico brasileiro durante a ditadura militar de 64 e revela personagens históricos que fizeram parte dessa cartelada.

Leitura importantíssima, porém monótona.
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Quel 10/10/2022

Confesso que a crônica não é o meu gênero favorito, mais quando se trata de Cony, eu poderia ler até a sua lista de compras (pegaram a referência? Kk).
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Pedro.Gondim 17/06/2023

Uma palavra ainda
?Não importa, afinal, a situação desta hora. Como o náufrago perdido nas ondas, em meio da noite negra, o que importa é sobreviver até a madrugada, ainda que seja apenas para morrer abençoado pelo calor da aurora?. (p. 178/179)
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sasa 02/03/2023

Eu pensei que esse livro não iria me prender a atenção por ter várias resenhas dizendo que o mesmo não havia feito isso, mas esse foi um livro que eu realmente senti interesse e vontade de ler tudo e procurar coisas que não sabia e tive curiosidade de saber, indico para quem se interessa por política e acontecimentos em 64.
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guibre 06/02/2018

Livro precioso, pois contém a força das palavras de um destemido que se negou a submeter-se diante dos golpistas de 1964, denunciando suas obtusidades, truculências e violências desde o momento da tomada do poder. As críticas são ácidas, diretas. O autor não economiza adjetivos, sem que isso signifique perda de elegância e consistência dos textos. Resiste a ameaças perpetradas por apiadores do golpe. Já naquele momento Cony demonstrou perspicácia ao comprovar a desorganização institucional gerada pela “nova ordem”, na qual oficiais investiam-se na condição de autoridades nos locais nos quais serviam sem ter qualquer autorização constitucional para tal. Nos textos, relatam-se as covardes perseguições, as mesquinhas delações e o clima de terror que se instaurava. Os aliados civis do governo não são poupados, especialmente o sinistro Carlos Lacerda. Infelizmente, a abordagem do contexto político é prematuramente interrompida, algo justificado pelo próprio autor em texto que compõe a compilação.

A edição lida contém textos de outros autores publicados na época e um do autor, este bem mais recente, que fornece algumas relevantes explicações. Obra muito importante na atualidade, diante de tanta ignorância e desinformação sobre a nefasta ditadura militar iniciada em 1964.
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Graziele.Rodrigues 09/08/2022

Gostei
Esse livro foi lançado na verdade as crônicas do livro foi lançado em 1964 anos pelo o jornal " Correio da manhã " , esse ano todo brasileiro deve conhecer o ano do golpe, não de revolução. Nas crônicas Cony sempre deixa claro que não gosta do governo do antigo presidente, mas declara que colocar miitares no poder políticos é pior ainda, crítica como na época chamava o golpe de "revolução" ele dizia que era uma " revolução de caranguejos " Pois ela ia andar para trás e não para frente. Ele não tinha medo de falar e nem de publicar o que ele pensava, e sabemos agora o que era ditadura Militar e as torturas que ele fazia com os seus opositores. Vou deixar uma frase perfeita que ele escrever numa crônica
"O lugar de militar é no quartel, e do povo nas urnas "
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fabio 31/01/2024

O Ato e o Fato reúne crônicas de Carlos Heitor Cony escritas imediatamente após a instauração do golpe de 1964, que levou à ditadura militar. São artigos publicados no jornal Correio da Manhã, onde Cony comenta, em tom ácido e irônico, o desenrolar político e social desse conturbado período de repressão e perseguição.

É interessante analisar o posicionamento do autor, suas intermitências, a reação da classe jornalística e o papel da própria população no caos social que começava a surgir.

Além disso, também é relevante notar que, mesmo escrito sobre um evento específico na história, toda a tensão política pode ser comparada às eleições de 2018, quando uma cópia 🤬 #$%!& desses militares conseguiu fisgar a população com promessas vazias e ódio compartilhado, assumindo o posto de presidente da república. Os sintomas desses levantes podem ser observados até hoje, se prestarmos atenção.

A obra em si é uma boa fonte de informação para quem quer entender de relance o comportamento das mídias nessa época de repressão. Por não ser jornalista político, contudo, Cony relata apenas o que lhe atinge diretamente - seja como profissional, autor ou pessoa. Ele próprio comenta, em uma das crônicas, sobre essa não ser sua área de atuação, o que não impediu que os escritos fossem consumidos e espalhados por todo o país, representando todas as almas inquietas sobre os rumos da sociedade brasileira.

Em certos momentos, confesso, a passividade do autor (principalmente relacionada ao Castelo Branco) me irritou profundamente. Em alguns casos, ele só adotou um tom contrário quando as situações atingiam extremos. Me faz pensar na posição do autor hoje, quando esses movimentos retrógrados acontecem, em sua maioria, dentro da subjetividade do brasileiro.

Recomendo por ser uma leitura fácil para quem, assim como eu, nunca pesquisou sobre o assunto. O fato de serem crônicas publicadas durante o conturbado período facilita uma imersão no estado mental de quem o estava vivenciando. Tenho ressalvas, críticas, mas, como documento histórico de fácil acesso e leitura, reconheço seu valor.

site: https://lupiliteratus.blogspot.com/2023/11/resenha-o-ato-e-o-fato-carlos-heitor.html
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leticiavicx 17/03/2024

Humano e visceral
Cony vai além do sentido histórico do Golpe de 64. Tudo o que escreve é humano demais! Temos acesso aos seus sentimentos mais íntimos sobre essa contrarrevolução, que insistia se chamar de "revolução".

Ainda que tenha se equivocado em muitas falas sobre o Comunismo e a esquerda brasileira, Cony teve um papel fundamental na oposição aos desmandos do movimento militar, dando voz aos mais afetados por ele. E, com isso, é compreensível que tenha perdido o fôlego nas crônicas finais.

Dizem que o livro é repetitivo... Já eu acho que ele cumpre perfeitamente seu papel: reunir textos que foram uma ferramenta para evidenciar à população aquilo que seus governantes mais queriam esconder ? sua crueldade, seu desgoverno, as perseguições sem sentido e, sobretudo, a violência moral, institucional e física contra pessoas inocentes.

"ali estava aquele cara dizendo tudo o que a gente pensava sobre o golpe [...] com uma coragem tranquila [...] e sem perder o estilo e a graça." (Veríssimo)
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