Queria Estar Lendo 18/04/2016
Resenha: Mil Pedaços de Você
Multiversos. A ideia de que a nossa realidade coexiste com infinitas outras parecidas, porém não iguais. A ideia de que é possível transferir a sua consciência para o seu outro eu em uma realidade paralela, e viver esse mundo novo como se fizesse parte dele. Um dispositivo capaz de te fazer viajar por uma Londres futurista, uma Rússia governada pela dinastia Romanov e um mundo tão parecido com o seu que apenas pequenas detalhes como a cor da sua cama ou da sua camiseta os distinguem. Isso é Mil Pedaços de Você.
Na história, somos apresentados à Marguerite; ela é filha de dois brilhantes cientistas, os responsáveis por pesquisar e provar a existência dos multiversos. Quando o seu pai é assassinado misteriosamente e um dos assistentes dele parece ser o responsável por isso, Marguerite precisa tomar uma iniciativa. Ela e o amigo Theo, também cientista, decidem caçar o assassino; para isso, o Firebird - dispositivo criado pela mãe de Marguerite, a única coisa capaz de ligar suas consciências a outros mundos - é seu ponto de partida. Em busca de respostas e fascinada pelas novas realidades apresentadas à ela, Marguerite precisa correr contra o tempo e contra uma organização criminosa se quiser descobrir porque aquilo está acontecendo com a sua família. E, principalmente, porque Paul Markov não parece ser o assassino que deveria.
"O universo é, na verdade, um multiverso. Há incontáveis dimensões quânticas de realidade, que se encaixam umas dentro das outras. Vamos chamá-las apenas de dimensões, para abreviar."
A escrita da Claudia Gray é muito sucinta e, por isso, extremamente emocionante. Parece que você está lendo um filme de ação; as coisas acontecem rápido, as explicações são simples e bastante precisas e os personagens se desenvolvem de acordo com as andanças da história e das viagens pelas realidades alternativas. A maneira como ela cresce a história desde os seus primórdios, onde você pouco sabe sobre Marguerite ou sobre as viagens interdimensionais até o ponto em que você se sente tão imersa na trama que quer um Firebird para você de modo a poder conhecer outros mundos.
"- Você pinta a verdade, Marguerite. E acho que não saberia fazer diferente."
Marguerite é uma garota poderosa. Pela sua coragem em arriscar tudo - a família, as memórias, a própria existência - para correr atrás do assassino do pai, para descobrir os motivos que levaram a tal atrocidade. Pela sua imposição em não ser esquecida ou deixada para trás só para a sua própria proteção; ela toma as rédeas de muitas situações em momentos que você grita AMIGA VOCÊ ESTÁ FAZENDO UMA BURRICE, mas se admira pela determinação dela. Marguerite ama a família mais do que tudo, e o pai acima dos seus próprios sentimentos, e as viagens entre as realidades trarão emoções fortes para o coração da jovem pintora. A paixão dela pela arte e seu desconhecimento sobre a ciência são duas características marcantes, junto ao fato de ela amar com muita intensidade. Marguerite é o tipo de personagem disposta a tudo para conseguir salvar uma pequena chance, um piscar de olhos que podem mudar o seu mundo ou outro dos infinitos deles.
"Agora sei que luto é uma pedra de amolar que afia todo amor, todas as suas memórias mais felizes, e os transforma em lâminas que nos cortam de dentro para fora. Alguma coisa em mim foi rasgada, algo que nunca mais vai cicatrizar, nunca, não importa até quando eu viva."
Ao lado dela, temos Theo. Ele era um dos assistentes dos pais de Marguerite e, consequentemente, quase um filho para eles. O amigo de Marguerite surge com a ideia de viajar pelas dimensões para procurar o assassino de Henry - pai de Maggie. O fato de ele ser motivo pela intensa vingança e Marguerite pela busca de respostas diz muito sobre suas personalidades e sobre seus rumos na trama do livro. Eu adorei o Theo, mas adorei muito mais os flashbacks envolvendo ele e sua convivência com a família de Marguerite. Ele é leal a um nível perigoso, mas leal, acima de tudo. E tem um coração de ouro, o tipo de coragem de um guerreiro.
Do outro lado da moeda, cercado por mistérios e respostas que não podem ser facilmente ditas, Paul Markov. UM RUSSO! Porque Dimitri Belikov não arruinou a minha vida o suficiente.
O outro assistente dos pais de Marguerite é o possível assassino, ainda que muitas peças não se encaixem no quebra-cabeça. Paul tem a atenção, a desconfiança e o coração de Marguerite. Paul é muito recatado e fechado, preso aos seus próprios pensamentos. Muito sobre olhares e sorrisos discretos e observações perspicazes, mas frias e distantes. Marguerite se sente intrigada por ele no passado, e tentada a acreditar em suas verdades no presente. Os dois se entendem especialmente por suas paixões; a dele, pela ciência, e a dela pela arte. Ambas apaixonantes tal qual os personagens. A autora desenvolve o relacionamento deles muito lentamente, dando ainda mais emoção para cada momento deles juntos - especialmente na Rússia. Não posso citar muitos detalhes por causa dos spoilers, mas a dimensão onde Paul Markov é um tenente russo é MINHA FAVORITA PARA TODO O SEMPRE. O Paul é misterioso e sombrio, mas extremamente apaixonado e dedicado.
"- Você não é minha Marguerite. E, ao mesmo tempo... é. O essencial que vocês duas compartilham, a alma, é isso que eu amo. Eu amaria você em qualquer corpo, em qualquer mundo, com qualquer passado."
Eu preciso falar um pouco sobre o arco da Rússia porque amo tudo que envolve os Romanov e, naquele universo, nunca houve um levante e eles nunca perderam o trono. A Rússia continuou firme e forte e se tornou uma potência mundial tão grandiosa capaz de curvar outros países à sua vontade; lá, Marguerite é uma grã-duquesa, filha do czar. Ela fica presa ali por motivos específicos e muito burros durante algumas semanas, forçada a conviver com a família real e se portar como a realeza. É tudo tão rico, tão lindo, uma história tão bem trabalhada. E o tenente Markov! A ideia dos multiversos é que, sem o Firebird para manter sua consciência conectada ao seu "eu" real, você se perde e se torna o "você" do mundo em que está. Para salvar o seu Markov, Marguerite precisa viver como a Marguerite dali - e tentar não se apaixonar pelo Paul dali.
"- Toda forma de arte é outra maneira de ver o mundo. Uma nova perspectiva, uma nova janela. E a ciência... É a janela mais espetacular de todas. Dá para ver um universo inteiro através dela."
A ideia dos multiversos é fantástica. O modo como a Claudia Gray trabalhou suas explicações te faz realmente acreditar que outros mundos parecidos com os nossos existem lá fora; que você escolher ficar em casa em vez de sair com os amigos cria uma linha paralela em meio às energias que regem o universo e sua infinidade. Os Romanov comandam a Rússia e os Estados Unidos não passam de um país esquecido no oceano em uma delas, e outra é tão semelhante à nossa que Marguerite só encontra peças do seu guarda-roupa diferentes e um Beatles sem o John Lennon. É tudo absurdamente genial, e estou louca pelo segundo volume para saber mais sobre os universos - e também para saber mais sobre o grande vilão da história, a organização que quer usar o dispositivo para fins bélicos.
Sempre tem um, né.
Mil Pedaços de Você é altamente recomendado para fãs de ficção científica, filmes de ação e aventura e de um bom romance. A narrativa da Claudia promete grandes emoções para o segundo volume, e novos universos a serem descobertos.