Queria Estar Lendo 29/08/2019
Resenha: A Dama da Meia-Noite
A Dama da Meia-Noite é o terceiro livro da série Spindle Cove. Esse romance de época, escrito pela Tessa Dare, arrebatou meu coração nos dois primeiros volumes e chegou com força total pra aumentar meu amor nessa terceira história.
Kate sempre foi muito segura de si para alguém que nunca se encontrou no mundo. Órfã desde pequena - ao menos, é o que imagina - ela não se lembra do seu passado e muito menos de quem foi sua família. Fragmentos sem sentido são tudo que existe a respeito de quem foram seus pais; quem foi ela antes de ser esquecida no mundo.
Sua vida em Spindle Cove é confortável, no entanto, e é nesse conforto que ela encontra seu lar. Pelo menos até uma família maluca surgir dizendo que Kate é a herdeira perdida - e, se for mesmo, isso significa que é também uma lady. O problema está em descobrir a verdade; e garantir que essa suspeita não se espalhe por aí até lá.
Para isso, Kate vai contar com um aliado inesperado: o cabo Thorne, todo sisudo e solitário, com quem dividiu farpas e provocações durante todo um ano desde a ocupação da milícia, parece querer ajudá-la. Sem entender os motivos por trás dos olhares intensos do homem, Kate aceita a aliança, sem imaginar que seu coração vai ser o mais afetado com toda essa história.
A Dama da Meia-Noite se desenvolve na mesma fórmula dos livros anteriores. Por isso, ganhou minha simpatia e amor logo de início. Kate e Thorne eram figuras conhecidas da trama, mas coadjuvantes misteriosos dentro de suas próprias histórias paralelas; Kate, toda sorridente e artística e Thorne, todo rabugento e recluso, eram personagens que me despertavam o interesse sempre que apareciam - e vê-los ganhando o devido destaque e evolução foi maravilhoso.
Kate, por si só, é um show de personagem feminina. Extremamente decidida, ciente de sua força e independência, ela não leva desaforo pra casa - bate de frente com o que aparecer e mantém a classe e a educação mesmo nas situações mais absurdas. Ela é uma balança que equilibra razão e emoção muito bem. Seu coração é cheio de esperança e melancolia, mas ela sabe como esconder com seus sorrisos.
"Thorne olhava para ela do mesmo modo que fazia tudo. Intensamente, com uma força silenciosa."
Todos os anos de abandono fizeram muito para moldar seu caráter. Então, ao mesmo tempo em que é essa figura poderosa e destemida, tem em seu âmago o medo da solidão, de ver famílias se formando e nunca encontrar a sua. Kate é uma protagonista cheia de energia e vida e, como suas amigas que anteriormente ocuparam o palco como personagens principais, torna gratificante acompanhar sua história, suas conquistas, suas pequenas revoluções.
Thorne, para minha surpresa, foi mais fácil do que o esperado. Tive medo de confrontar o típico macho escroto que desconta suas frustrações na mocinha, mas, mesmo com sua pose brava e perturbadora, Thorne se derretia frente à Kate. Aquele tipo de personagem masculino estoico que não pode ver o amor da sua vida que se torna um filhotinho precisando de carinho.
"Se amor fosse música, ele seria surdo."
Claro que tem mais complexidade por trás disso e o romance demora a se desenvolver; onde Kate é entrega total, Thorne é recluso - e os motivos para os afastamentos e medo de comprometimento dele, quando explicados, mostram muito sobre sua vida e como seu coração cresceu envolto em sombras - e como Kate talvez seja o único raio de luz para tirá-lo da total escuridão.
De todos os casais, esse foi o mais carregado em tensão e incerteza - e entregou um dos finais MAIS MARAVILHOSOS de todos. Eu mordi a mão de nervosismo e então gritei de alegria porque foi tão inesperado, mas tão Kate, que não poderia ter sido mais perfeito.
"Aqui é Spindle Cove. Temos seis mulheres inteligentes, determinadas e engenhosas nesta sala. Não vamos ser frustradas por alguns homens insensatos e suas brincadeiras de soldadinhos de chumbo."
Além deles, figuras familiares como Susanna, Bram, Minerva, Colin, moças que fazem parte de Spindle Cove e rostos novos - como os misteriosos nobres que clamam ser parentes da Kate - enriquecem a trama principal. Tessa consegue levantar questões sociais bastante interessantes em meio a sua narrativa enérgica e divertida, e até dá espaço para conflitos que eu não esperava encontrar em um romance de época; aceitação e representação lésbica, por exemplo, que foram tão bem introduzidas e desenvolvidas.
A Dama da Meia-Noite veio para manter a qualidade da série e roubar mais um pedacinho do meu coração, que pertence tanto a Spindle Cove quanto é possível.
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