Henrique 03/01/2019
Os piores dias num lugar que vai além do mundo cartesiano. Em algum lugar na pós-vida, um acerto de contas impossível. Para um artista como Samuel Beckett, absolutamente tudo se recobre de imprecisão, que é esticada com tanta veemência até borrar a breve superfície que se entende por realidade.
Não haverá piedades nem respostas. Não dá para dizer nada desses ecos descritos, a não ser que são os próprios ecos desesperados de uma humanidade que não sabe para onde marcha.
Os temas sobrepõem-se a ponto de não parecerem nada, mas criam uma argila da indefinível condição humana, uma casta tão frágil quanto presente. O imediatismos das personagens caem no Limbo que sustenta um enigma visceral; por que existir? por que morrer?
Sem concisão ou coerência narrativa, os fragmentos arremessados exigem que o leitor acostume-se a olhares novos e constantes. Mais do que parafrasear suas influências, Beckett busca, em seu vasto conhecimento literário, uma forma de conjugá-las no terreno onde tudo eclode. Sobram ossos.
Nós ouvimos ecos na tundra fria da noite.