jota 02/11/2013E chame o terapeuta depois...De Irvin D. Yalom não li justamente sua obra mais conhecida, Quando Nietzsche Chorou; apenas vi a adaptação cinematográfica que não me agradou tanto assim. Antes deste Vou Chamar a Polícia li dele apenas Mentiras no Divã, que achei um ótimo romance. Nele, Yalom analisava a relação terapeuta-paciente de um modo irônico e irreverente, quando geralmente outros escritores tratam o assunto com imensa seriedade. E, às vezes, até mesmo com certa chatice, incluindo aí um excesso de jargão psicanalítico.
Bem, nessas histórias de terapia e literatura de Vou Chamar a Polícia, exatamente seus livros Quando Nietzsche Chorou, Mentiras no Divã e outra famosa obra sua, O Carrasco do Amor, são profundamente analisados. Yalom explica a gênese de tais livros e transcreve vários trechos ou capítulos inteiros dessas obras para mostrar a intrínseca relação entre os dois temas que motivam sua vida e profissão.
Desde a adolescência, quando lia Dickens, Melville, Hawthorne, Kipling e outros, ele almejava ser escritor, porém acabou se tornando psiquiatra por conta de forças culturais, como ele reconhece. Mas sempre foi um grande leitor e a certa altura do livro diz que lê um pouco toda noite, antes de dormir.
Daí que lemos este livro, que traz apenas histórias reais (os nomes dos personagens foram alterados, claro; exceto na primeira delas), melhor, casos terapêuticos, quase como se fosse ficção. Ele faz inúmeras referências a autores e obras e até mesmo as usa como material para reflexão em sua profissão (dá vários exemplos disso ao longo de suas histórias). E a história que dá título ao livro na verdade compreende duas histórias numa só. São contadas a Yalom por um cirurgião cardíaco de 76 anos (Robert L. Berger, judeu húngaro, mas morando nos EUA há muito tempo), que as protagonizou.
Uma delas se passa na Caracas bolivarista (e perigosa) de Hugo Chávez e a outra quando Berger tinha apenas 15 anos e Budapeste vivia sob o jugo nazista, época em que os colaboracionistas magiares (ou nyilas) eram tão ou mais cruéis que os alemães. Ambas aventuras perigosas e ainda que Berger tenha escapado com vida, Vou Chamar a Polícia é sempre interessante pois apresenta mesmo certo suspense.
Depois dessa história escrita conjuntamente por Yalom e Berger temos: A literatura instrumentando a psicologia; A viagem da psicoterapia à ficção; O romance pedagógico e encerrando o livro, O romance psicológico. É quando, além de inúmeras citações às suas próprias obras, encontramos também muitas referências a geniais escritores e filósofos ocidentais que Yalom (e muita gente, claro) admira: Dostoievski, Tolstoi, Freud, Nietzsche, Sartre, Camus, Lewis Carroll, etc. Um verdadeiro banquete literário e psiquiátrico, enfim. Não com a mesma excelência de Mentiras no Divã, mas mesmo assim, muito bom.
Lido entre 30/10 e 02/11/2013.