Instituição oratória

Instituição oratória Marcus Fabius Quintilianus




Resenhas - Instituição oratória


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brunossgodinho 04/12/2023

Nessa obra monumental do primeiro século de nossa era, Quintiliano delineia os princípios daquilo que acreditava ser (e, em grande parte, era de fato) o essencial da formação de um orador romano.

Dividida em doze livros, apresentados nessa edição em quatro tomos, a Instituição oratória apresenta algumas inovações de doutrinas retóricas, mas majoritariamente um compilado das melhores características, orientações, práticas, etc., pertinentes à retórica e à produção de discursos públicos que circulavam em Roma à época de Quintiliano. Um ciceroniano de mão cheia, Quintiliano ainda assim apresenta muitas outras autoridades ao longo da obra.

Fundamentalmente, o argumento da Instituição oratória é que a retórica deve ser estudada desde cedo. Seu estudo é benéfico aos jovens por diversos motivos, entre os quais o contato com as tradições culturais dos gregos e dos romanos. São justamente essas, na verdade, que formam o cerne das doutrinas retóricas apresentadas e defendidas pelo retor. São apresentadas as partes clássicas da retórica, algumas teorias fundamentais da produção discursiva, elementos da ornamentação do discurso, etc. Partes típicas de tratados retóricos.

A Instituição oratória é um grande documento da cultura letrada romana e, em particular, dá acesso a pequenos lampejos da vida individual de Quintiliano, como quando revela a morte de seu filho. Esse fato o consterna significativamente, mas não o suficiente para que abandone a empreitada do texto; pelo contrário, é preciso terminar o trabalho para honrar sua memória.

O texto não é especialmente denso, mas é particularmente técnico. Ainda que seja dedicado aos iniciantes, o tratado não é convidativo. Seu caráter é meticuloso, o que o torna cansativo. É uma leitura que exige, de saída, uma releitura ao fim da primeira jornada. Não pela dificuldade do texto, mas pelo caráter enciclopédico. O excesso de doutrinas expostas faz com que seja necessário, para aprendê-las, lê-las e relê-las no texto de Quintiliano e, mais ainda, identificá-las sendo postas em prática em textos de outros retores.

Esse último ponto é precisamente um dos principais elementos do ensino de retórica. Não bastava que o estudante tivesse em mãos uma verdadeira enciclopédia retórica como Instituição oratória, mas sim que soubesse analisar retores, poetas, gramáticos, escritores vários enfim, para identificar os dispositivos discursivos empregados. Essa capacidade analítica dava ao retor o poder não só de desmontar os argumentos de um adversário, mas de produzir uma avaliação que, hoje, chamaríamos "estética", isto é, emitir um juízo sobre aquilo que está bem ou mal feito.

A tradução de Bruno Fregni Bassetto parece excelente e dá ao texto em português o rigor técnico típico dos tratados de retórica sem, contudo, torná-lo demasiadamente empolado ou arcaizante. O fato de a edição ter notas explicativas ao fim é sinal de um trabalho muito meticuloso por parte do tradutor, que também assina as notas, além de demonstrar uma preocupação com o leitor que não está ambientado ao mundo antigo e às referências feitas ao contexto de produção e circulação do tratado.

É uma grande adição aos estudos de práticas letradas, uma área que tem seus bastiões tardios (como João Adolfo Hansen, Alcir Pécora, Andrea Daher e outras pessoas) e carece ainda de versões brasileiras dos grandes tratados antigos, medievais e modernos de retórica e gramática.
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