Lauraa Machado 30/04/2020
Infantil, mal escrito e entediante
Nota original: 1 estrelas / Nota da releitura: 2 estrelas
Uma vez, alguns anos atrás, eu estava cuidando de alguns primos pequenininhos e assistindo a um canal feito para criança, quando percebi que em programas para as idades deles as crianças são tudo. Ou seja, tinha um 'agente secreto' que não tinha mais que onze anos, uma 'empresária' que nem tinha passado pela puberdade, coisas assim. Para mim, aquilo era ridículo, mas meus primos achavam o máximo. Então entendi que, no universo infantil, crianças são tudo e está tudo bem.
Neste livro, em compensação, não está tudo bem. A autora já é uma mulher adulta, seus leitores já passaram da pré-adolescência, mas o mundo aqui é tão impossível e infantil quanto os de desenhos para crianças. A ideia de que o rei abdica quando o próximo herdeiro tem vinte e tantos anos é ridícula por si só. Que tipo de chefe de Estado tem menos de trinta anos? Por que um povo confiaria, geração depois de geração, em monarcas com tão pouca experiência? Qualquer pessoa que já saiu do colegial tem que ter o mínimo de noção de que estudar em uma sala de aula não faz ninguém, absolutamente ninguém pronto para comandar um país. Sinto muito, mas trabalhar como "assistente" do rei como a Eadlyn fez "a vida inteira" não a faz capaz de assumir com menos de trinta ou vinte anos. Isso é ridículo. Mas, aparentemente, é um costume em Illéa.
Os livros da Kiera costumam ter esse problema, é verdade. Ela não parece conhecer o mundo real e como ele funciona. Não sei como ela consegue ter dois filhos e ainda ser tão ingênua. Ou então ela não é assim, só acha que seus leitores são ingênuos e burros o suficiente para acreditar em todas as situações improváveis e mal feitas que ela cria para os livros. Tem um limite, sabe? Durante todos os outros livros dessa série, ela chegou bem perto de passar dele, muita coisa tem que ser relevada para você conseguir aproveitar as partes boas das histórias, mas neste ela passa. Passa longe. Aliás, a cada capítulo, tudo vai ficando cada vez mais absurdo e os personagens todos agem como se fosse normal.
A realidade deles é constantemente manipulada para encaixar no que a autora quer para a história. É tanta coisa difícil de convencer, que foi afundando o livro cada vez mais. Coisas pequenas até, como um reino que vive em uma época com televisão não ter um único assessor de relações públicas para a família mais famosa de lá. Ou uma criada virar dama de companhia da noite para o dia, como se não tivesse nada a se aprender para o segundo cargo. Ou uma princesa que dá a louca na primeira reunião com conselheiros e só sai adiando tudo para depois, mas continua reclamando que 'trabalha demais'.
Aliás, o livro é quase só isso. Eadlyn dizendo por cima que está trabalhando demais e nós nunca chegando a ver esse tal trabalho. Todo mundo dizendo que ela é incrível, sem que ela se mostre incrível em uma única cena. Todos falando que a vida dela é difícil e ela adiando tudo para depois, porque "não tem nada que não possa esperar". As tentativas da autora de mostrar a política do país são a parte mais infantil da história.
Ignorando toda essa ambientação péssima dela, vamos focar agora nos detalhes que eram para ser o ponto alto do livro: Eadlyn era incrível no livro anterior, bem no estilo "ou você a ama, ou a odeia", e eu a amava, porque personagens femininas que não têm medo de ser quem são e não pedem desculpas por não serem fofas e agradáveis são PERFEITAS, na minha opinião. Essa Eadlyn desapareceu completamente. Tentei muito encontrá-la aqui, mas ela não estava em lugar nenhum. Ela virou uma versão genérica de protagonista que não tem qualquer aprofundamento na narrativa, toma decisões impulsivas e não tem a menor noção do mundo real (aquele defeito da autora que continua aparecendo). Kiera Cass parecia estar tentando tanto, mas tanto nos fazer gostar dela, que deixou de aprender com a própria Eadlyn que o mais importante é ser você mesma, não agradar os outros.
O romance é a parte mais decepcionante. Primeiro, porque eu sempre tinha torcido para o cara que ela escolheu, então deveria ter ficado feliz, certo? E teria, se não fosse pelo fato de a autora fazer Eadlyn ter se apaixonado do nada, sem mostrar qualquer sinal, sem desenvolver o romance. Acontece de uma hora para a outra. Para quem reclama que ela não ficou com o outro carinha, eu super entendo! Quer dizer, acho que a escolha de final para ele foi certa, mas pelo menos eles tinham alguma história e alguma química na qual construir um romance. Desse jeito, o casal principal ficou forçado e nada inspirador.
Sobre o enredo, introduzir personagens e conflitos extras e inúteis que serão deixados de lado em vez de resolvidos não é válido, sabe? É coisa de amador. No seu sexto livro publicado e por editoras grandes, eu esperava que a autora soubesse disso já. As reviravoltas do final foram impensadas e mal feitas também, no máximo resultando em várias viradas de olho minhas aqui. Continuou parecendo um programa de TV para menores de dez anos, e eu já não tinha a menor paciência para isso.
A escrita também foi bem ruim. Kiera nunca foi uma ótima escritora. Ela é bem ruim para descrever cenas, locais e ações, e isso incomodou muito aqui, apesar de eu já ter uma ideia do que imaginar (porque estava relendo). Às vezes, ela fala umas frases bacanas, mas elas não compensam uma narrativa vazia e corrida. Também detesto os estereótipos que ela usou para Hale e Henri. Me irrita muito um estrangeiro ser visto como tonto e sempre amigável, como se não falar uma língua fizesse alguém ser mais lerdo e fácil de manipular. Além disso, falar sobre homossexualismo só como uma passada por cima, mostrar que é um problema e fingir que tudo bem foi ofensivo até para mim.
Talvez a única coisa pior do que tudo isso seja a capa, porque essa era a que tinha o maior potencial para ser maravilhosa! Eu amo, amo, amo essa cor, o que é ainda mais doloroso. Essa pose bizarra e sem graça ao extremo, essa cara de perdida da modelo, a falta de uma coroa na cabeça dela, pelo amor de deus, esse vestido que parece ser uns três números maiores que ela e que nem tentaram esconder e essa edição definem fracasso. E pensar que todas as outras capas da série são absolutamente incríveis. Que decepção, sabe?
Durante minha releitura de todos os outros livros da série, minha opinião mudou um pouco. Na deste aqui, só se intensificou. Ainda bem que é o último, porque, depois dele, não tenho muita vontade de ler mais nada da autora mesmo. Acho que falei tudo que me incomoda, mas a verdade é que poderia falar por mais várias horas, só que o livro me tira a vontade até de criticar. Espero que outras pessoas tenham experiências melhores que a minha.