O Compromisso

O Compromisso Herta Müller




Resenhas - O Compromisso


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Andreia Santana 19/04/2024

E no fundo da caixa restou a frustração...
Uma jovem costureira de uma fábrica de roupas, na Romênia governada por Nicolae Ceaucescu, é convocada para prestar esclarecimentos à polícia secreta depois que bilhetes com pedidos para que estrangeiros se casem com ela e a libertem do país natal, são encontrados nos bolsos de ternos enviados para exportação. Acusada de traição à pátria e prostituição, a moça semanalmente precisará ir ao comitê central depor e fingir que não vê o assédio do oficial encarregado do seu caso. Não adianta negar as acusações ou contar a verdade, pois ele não acredita. Então, ela precisa mentir, aceitando o jogo sádico que diverte o homem que a interroga.

Em O compromisso, Herta Müller, escritora romena de origem alemã, volta ao tema que marca boa parte da sua produção literária, os anos da ditadura de Ceaucescu, quando ela própria era sistematicamente vigiada e convocada para depoimentos intermináveis. O livro retoma a questão da ditadura romena sob uma ótica parecida com aquela explorada em A raposa já era o caçador, outro romance de Müller que traz uma jovem protagonista às voltas com a vigilância e a perversidade de oficiais entediados.

A protagonista de A raposa já era o caçador está no limiar das forças e da sanidade depois de anos da ‘caçada’ estilo gato e rato dos militares contra ela e seus amigos. Já a costureirinha de O compromisso ainda se permite buscar pequenas alegrias em um raio de sol no corredor do apartamento minúsculo onde vive ou sentindo o vento no rosto ao viajar na garupa da motocicleta do namorado, operário como ela, mesmo diante de perdas terríveis como a da melhor amiga, Lili, fuzilada ao tentar cruzar a fronteira para fugir da Romênia com o militar idoso que era seu amante.

O livro, além de mostrar os desmandos e incongruências do sistema, esmiúça o cotidiano dos cidadãos comuns, com todas as dificuldades e mesquinharias de se viver sob ameaça constante de morte ou de prisão. Ao falar do regime, Müller também expõe traços de uma cultura misógina e machista anterior à ditadura, mas agravada por ela. A Romênia, no começo dos anos 2000, era um dos países europeus com os índices mais altos de violência contra mulheres e feminicídios, por exemplo.

Ainda durante o governo de Ceaucescu, as mulheres eram controladas não só em relação aos anseios de se casar com homens de outros países, o que era considerado traição, principalmente se fossem de regiões de fora do bloco comunista; como também em relação à natalidade. O regime acreditava que as mulheres tinham um dever cívico em gerar novas gerações de romenos e a natalidade era vigiada, contraceptivos negados e o aborto, lógico, criminalizado. Casais que não tivessem filhos pagavam multas altíssimas e impostos mais caros que os cidadãos procriadores.

O resultado dessa política desastrosa de incentivo aos partos de forma indiscriminada resultou em um escândalo que chocou o mundo depois que Ceaucescu foi deposto e executado, em 1989. Imagens veiculadas pelas emissoras de TV de diversos países a partir de 1990 mostraram os orfanatos romenos superlotados de crianças quase raquíticas, sujas e confinadas em espaços exíguos, sem receber estímulos de nenhuma espécie, totalmente negligenciadas e abandonadas pelas famílias e pelo estado.

A costureira de O compromisso não tem filhos. Embora tenha sido casada com um morador da mesma aldeia onde ela vivia, fugiu do marido ao ser quase atirada por ele do alto de uma ponte. Após abandonar o casamento é que ela vai trabalhar na fábrica de roupas e por uma série de tramas que não posso adiantar para não dar spoiler de trechos essenciais da história, acaba virando alvo de um inquérito, o que transforma tanto a vida dela quanto a do novo namorado, o da motocicleta, em um inferno constante.

Essa Romênia reduzida à miséria, com habitantes embrutecidos e vivendo em meio a precariedade e sujeira, perseguições políticas e vigilância entre vizinhos, é mostrada ao longo das páginas de O compromisso.

A forma apática como muitos cidadãos viviam, o refúgio no alcoolismo e a opressão constante, fazem dos livros de Herta Müller leituras angustiantes e até sufocantes. As histórias da autora não fazem concessões a finais felizes ou à esperança.

Müller, com sua escrita realista e, ao mesmo tempo, poética na sua dor e desespero, não se ilude com a caixa de Pandora. Se o recipiente continha todos os males do mundo e no fundo dele só restou a esperança, logo, ela também seria um mal que embota a razão e leva ao desespero por contínua e constante frustração…

Ficha Técnica:
O compromisso
Autor: Herta Müller
Tradução: Lya Luft
Editora: Globo Livros, 2005
206 páginas
R$ 67,90 (livro físico, brochura, Amazon), R$ 24,90 (e-book, Kindle) ou versão digital acessível para assinantes do Skeelo.Books

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*Lido para o desafio #50livrosate50anos, brincadeira que criei para comemorar meu aniversário. Em abril de 2024 eu faço 50 anos. A ideia é ler 50 livros até 30/04 e, se possível, resenhar ou fazer um breve comentário aqui no Skoob e no Instagram, sobre cada um deles. O compromisso é o livro 39 do desafio. No total, até agora, 41 foram lidos, tem 09 na fila de leitura e dois dos lidos aguarda postagem.

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Nath Mel 23/02/2023

Reflexões sobre a vida na ditadura romena
Lola, uma poeta, busca sobreviver num ambiente solitário e opressor durante a ditadura romena.

Leitura repleta de reflexões e devaneios que explora questões delicadas como abuso, liberdade e tortura.

Leitura densa apesar de tão curta.
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Kelly Oliveira Barbosa 14/01/2023

Primeira leitura concluída do ano, O compromisso da escritora romena de língua alemã Herta Müller. Ganhei esse livro de aniversário da minha irmã há dois anos, se encontrava ainda no plástico inclusive. Nos últimos dias de dezembro pensei ser o momento certo.

O compromisso foi publicado originalmente em 1997, ele é parte de uma obra literária ainda em construção, muito embora a escritora Herta Müller já tenha recebido o prêmio Nobel em 2009 com a incrível justificativa pela escolha de seu nome: “com a densidade da poesia e a franqueza da prosa, retrata a paisagem dos despossuídos.”

É um romance narrado em primeira pessoa, num tom do que chamo “narrativa de memórias”. É o tipo de livro que se torna muito importante conhecer um pouco sobre a história de vida do autor antes ou durante a leitura da obra. Sim, porque o que temos aqui é uma escrita em muito autobiográfica. A autora escreve sobre o que ela viveu, viu e ouviu, ficou sabendo de pessoas conhecidas… É uma escrita carregada dela mesma, dos despossuídos romenos e de tantos outros, conforme o alcance da literatura que sabemos ser imenso.

Na primeira linha do romance já temos uma síntese do que se trata todo o enredo “Eu fui convocada. Quinta-feira, dez em ponto.” A protagonista e narradora sem nome está indo numa viagem de bonde até o lugar onde será interrogada nada mais nada menos do que por um major da polícia secreta do ditador comunista Nicolae Ceausescu. O motivo de tal pressão, tortura psicológica e até física, é a infelicidade de ter sido pega após ter colocado alguns bilhetes em ternos destinados à Itália. Da fábrica onde trabalhava a protagonista tentava pedir socorro a algum homem italiano que quisesse se casar com ela e tirá-la daquele inferno totalitário. O enredo oscila numa narrativa sem pausa de capítulos entre a viagem de bonde e o fluxo de memórias e reflexões dessa mulher que sobrevive a uma vida insuportável.

Há muitos pontos que me chamaram atenção nesse livro, o fato de não ser revelado o nome da narradora. A narrativa carregada de informações que vai e volta, que não facilita em nada para o leitor, mas que exige dele a atenção devida para a seriedade daquilo que é narrado. A ausência de emoções, sabe, pensando agora depois de uns dias que terminei a leitura e após ter lido comentários de pessoas que leram, percebo como esse livro estranhamente não me emocionou em momento nenhum, estranhamente porque a vida dessa protagonista é muito marcada por traumas, mortes, violência… é narrado tantas coisas pesadas no livro, mas tudo de forma muito seca, não desperta emoções e acredito que não seja por acaso.

Terminei de ler esse livro com vontade de reler, não só pelo final aberto que me deixou pensando que eu perdi alguma coisa, mas porque é uma obra que como falei exige, desafia o leitor na minha opinião, e eu aceito o desafio.

site: https://cafeebonslivros.home.blog/2023/01/14/o-compromisso-de-herta-muller-120-resenha/
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Ana 08/09/2022

Falacioso....
Esse livro foi publicado em 1997 e escrito pela autora Romena Herta Müller. Aqui acompanhamos as memórias e pensamentos de uma mulher que trabalhava numa fábrica de roupas e que alguns dias na semana no mesmo horário tem o compromisso de dar depoimentos a um major da polícia secreta. Ela vai de bonde e a viagem dura por volta de uma hora e meia, durante esse trajeto, viajamos pelas lembranças dela entre passado e presente.
Ao pesquisar vi que essa história tem elementos autobiográficos da escritora que deixou a Romênia e se estabilizou na alemanha.
A história se passa durante a Romênia comunista de Nicolae Ceausescu.
O livro é praticamente uma propaganda anticomunista. Tenta relacionar fascismo, ditadura, opressão ao comunismo. Como se fossem sinônimos e não são. A nível de curiosidade vale ressaltar que o pai da autora foi membro da SS na Alemanha.
O Schutzstaffel ou de forma abreviada, o SS foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista, a extrema direita e fundada por Adolf Hitler. Responsável por caçar e prender judeus e outras pessoas pertencentes a minorias na Europa. Tendo isso em vista podemos perceber que a narrativa tenta ludibriar o leitor e distorcer o regime comunista na Romênia.
Isso já é problemático. Agora falando da escrita da autora achei sinceramente muito árida, seca. Não existem emoções aqui. Ela relata eventos difíceis, revoltantes, mas não senti impacto nenhum. Não tem sentimento, não tem sensibilidade. Isso aliado a desonestidade de ficar denominando regime comunista ao invés de utilizar a expressão correta que é regime nazifascista me incomodou demais e não consegui me conectar nem com os personagens e nem com a história. Achei chato, arrastado e falacioso.
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inasantos 05/03/2022

Convocada
O livro não é de simples leitura, o fluxo de pensamento muitas vezes com vai-e-vem, inclusive temporal, deixou-me confusa e muitas vezes precisei voltar para reler e entender melhor.
O que talvez faça sentido com a história já que a protagonista é convocada a depor num regime autoritário que gera medo e confusão.
Fiquei surpresa com o destino de alguns personagens e também com a protagonista que parece repetir os mesmos feitos do primeiro relacionamento com o segundo.
É um livro bom, acredito que uma segunda leitura (já mais acostumada com a escrita) será muito mais proveitosa.
Mari Pereira 05/03/2022minha estante
Tá na minha lista pra esse ano Ina. Fiquei mais curiosa depois de ver sua opinião!




DEBORA JAEL 02/01/2022

Texto de Luiz Guilherme de Beaurepaire em "Bons livros para ler"
"Em uma Romênia aparentemente planificada, emergem caminhos tortuosos feitos por personagens igualmente também “tortos”. Personagens que não aceitam as regras, preferem navegar pelas exceções. Optam pelos caminhos tortuosos, seguem a grandes retas sempre no intuito de dobrar na próxima esquina." (Luiz Guilherme de Beaurepaire em "Bons livros para ler", 8 agosto 2016)

site: https://www.bonslivrosparaler.com.br/livros/resenhas/o-compromisso/125
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Cinthia 13/08/2021

o compromisso
Não gostei ,uma mulher em um bonde indo para um compromisso ,refletindo vários pensamentos sem conexões difícil compreensão para mim.
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Deza 06/08/2021

Bom
Nunca achei que ia gostar de um livro como esse cheios de devaneios, cheio de idas e voltas, mas gostei bastante. Em alguns momentos até achei que ia dar 5 estrelas. Me indifiquei com a forma com que a personagem principal observa as coisas ao redor.
Thalita.Romolu 07/08/2021minha estante
Muito bom ver como as pessoas enxergam de formas diferentes as mesmas obras. Sempre tem um livro pra cada um né? Esse com certeza não foi pra mim... Kkkk


Deza 07/08/2021minha estante
Haha acho que livro tbm depende do momento que estamos vivendo. As vezes a gente abandona um livro e depois retoma a leitura e ama.




Alisson 05/08/2021

O livro não funcionou para mim. A obra não tem uma linearidade e o fluxo de consciência é muito confuso, tornando a leitura maçante e cansativa.
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Thalita.Romolu 21/07/2021

Que livro chato
Livro mais sem pé nem cabeça que já li.
Não tem um história pra acompanhar, não te instiga a continuar a ler, enfim não entendi a proposta.
Pela temática, pelo local e acontecimentos pós guerra, esperava algo mais consistente, informativo e comovente.. Não um monte de pensamentos soltos sem sentido.
Uma mulher indo para um compromisso de bonde e pensando na vida durante a viagem. Viajando na maionese. Pensando tudo misturado e fora de uma cronologia.
Acho que descobri mais um gênero que não gosto: livros premiados. Caramba, é o segundo que leio esse ano que não faz sentido nenhum. Só devaneios.
Super indico pra quem sofre de insônia. Dormi várias vezes lendo esse livro. ??
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@leituras_sa 01/02/2021

"A gente sai para dar uma caminhada e o mundo se abre. E antes que a gente tenha conseguido esticar bem as pernas, mais uma vez ele se fecha. Daqui até ali é só um liga-desliga de uma lanterna, e chamam isso de vida." ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
📖 Escrito por Herta Müller, vencedora do Prêmio Nobel de literatura em 2009, “O compromisso” apresenta ao leitor a história de uma ex-operária da indústria têxtil que é convocada para prestar depoimento ao major Albu, membro da polícia secreta, durante o regime totalitário na Romênia de Nicolae Ceausescu. ⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
🗨️ Sigo na tentativa de ler clássicos da literatura, desta vez, decidi ler “O compromisso”, da escritora romena, Herta Müller. Destaque para o projeto gráfico, a @colecoesfolha apresenta ao leitor uma verdadeira obra de arte na capa. Confesso que demorei um pouco para “engajar” na leitura, a narradora compartilha os seus pensamentos sem trégua, não há divisão de capítulos, o que causou certo estranhamento no início da leitura, contudo refleti depois que essa decisão fez total sentido. Afinal, o que a nossa mente faz em uma situação de estresse e incerteza, senão pensar sem parar!? Fiquei bastante apreensiva e chocada com o destino de alguns personagens, o livro trata de várias formas de abuso, inclusive psicológico. Sem dúvidas, a autora conseguiu expressar as memórias traumáticas vividas no regime comunista por meio de palavras. Em suma, ler “O compromisso” é uma experiência intensa, mas necessária, visto que é um retrato vivo da nossa história.
Por @varlene.santos ⠀⠀⠀⠀⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
📋Ficha Técnica:
🔹Título: O Compromisso
🔹Autora: Herta Müller
🔹Ano: 2016
🔹Editora: Coleções Folha
🔹N° páginas: 176
🔹Avaliação: ⭐⭐⭐⭐

site: https://www.instagram.com/p/CA3maP3j76G/
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Silvana (@delivroemlivro) 10/10/2020

Essa não é uma resenha
Comentário:

Muito bom! Definitivamente não é uma leitura que vá agradar a todo leitor mas que escrita potente, seca, direta e, por vezes, lírica: há inclusive algumas passagens que lembram o estilo de Clarice Lispector e o de Virginia Woolf, que também mereceriam um Nobel.
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Marcele 09/10/2020

Vai e volta
Este livro é interessante, tem alguma coisa que me lembra Clarice Lispector, mas com mais humor. A protagonista reconhece suas desgraças sem se deixar ficar melancólica, porém a história se desenrola em meio aos devaneios e lembranças da personagem. Não sei como funciona a cabeça do homens, mas essa narrativa com certeza reflete como é a cabeça de uma mulher, pensando em várias coisas ao mesmo tempo.
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Taki 22/09/2020

O compromisso
Passado e presente (e talvez futuro?) de misturam na narrativa, fazendo o leitor mergulhar nas lembranças e pensamentos que a protagonista vive. Confesso que foi um pouco difícil de ler por conta das mudanças bruscas de cenários e o estilo de escrita da autora.
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