Laís Helena 16/01/2017
Resenha do blog Sonhos, Imaginação & Fantasia
Marko é um ex-escravo, mas, apesar de ter conseguido sua lealdade, ainda sofre em uma sociedade que acredita que sua etnia só serve para o trabalho forçado. Assim, ele tem como um de seus objetivos levar a liberdade também a outras pessoas — e resolver uma questão de seu passado, envolvendo um mistério em torno de um grupo chamado Liberati.
É nessa jornada que Marko vai parar em uma vila à beira do mar e é recebido (com bastante relutância) pelos aldeões. Aos poucos ele e o amigo Filip vão se imergindo no dia-a-dia da vila e percebendo o quanto as pessoas sofrem sob as mãos de Dragomir e do Dom, nobres que dominam o local. E logo Marko deseja dar a liberdade a essas pessoas, embora acabe descobrindo que elas são bastante resistentes à ideia.
Com essa premissa, Réquiem para a liberdade se revela um livro de baixa fantasia, mais centrado nos personagens e em suas jornadas pessoais que em grandes batalhas ou conspirações políticas. O que, é claro, torna a história bem interessante e a faz fugir do óbvio. Mas a trama, ainda que não seja focada em eventos grandiosos, se revela instigante e traz boas reviravoltas.
O livro se alterna entre os acontecimentos no presente e os interlúdios, mais curtos, que contam o passado de Marko, mostrando como ele chegou até onde chegou e como se tornou quem é. E, apesar de acompanharmos duas histórias em paralelo, o ritmo não é quebrado; pelo contrário: cada capítulo ou interlúdio termina em um gancho e eu era obrigada a sempre avançar na leitura para saber o que viria a seguir.
O livro tem pouco mais de 200 páginas, mas isso não implica em uma narrativa apressada. Ela é ágil, sem se prender em longas descrições, mas ao mesmo tempo bastante imersiva, exceto por um pouquinho de tell aqui e ali (mas nada que prejudicasse a história no todo). Só me incomodou que em alguns pontos ela é explícita demais, várias vezes tocando no fato de Marko ser considerado um pária na sociedade, em vez de mostrar isso através da forma como os demais personagens se portavam diante dele.
O autor não passa muito tempo construindo o mundo e descrevendo personagens ou construções; em vez disso, dá apenas o mínimo necessário para fazer a história avançar e ambientar o leitor, então Réquiem para a liberdade é uma ótima pedida para aqueles que não gostam de parágrafos e mais parágrafos cheios de detalhes descritivos. Mas o pouco que se sabe do universo da história já é suficiente para mostrar que o livro foge da típica ambientação medieval, que foi algo que me agradou bastante. Não foi nada extremamente inovador, mas, ainda assim, um sopro de ar fresco em meio a tantas réplicas da Inglaterra.
É também um mundo de baixa fantasia, e a parte fantástica (que de fantástica não tem quase nada) só aparece lá para o final. Não achei que isso tirou o brilho da história, afinal, o tom de baixa fantasia já era presente desde o início. Mas eu terminei o livro querendo saber um pouco mais sobre o sistema de magia (um ou dois detalhes a mais já estaria bom), já que ele foi usado em cenas de ação (que certamente teriam se tornado mais interessantes se o leitor pudesse saber um pouco mais das possibilidades e limitações e o que os personagens teriam a perder).
Eu gostei dos capítulos finais, que trazem bastantes reviravoltas, não só em relação ao enredo como também em relação aos personagens. É o tipo de história em que nada é o que parece e temos os famosos personagens cinzentos, com suas motivações e conflitos de interesses. Marko pode ser considerado o típico herói, mas sua jornada, ainda que altruísta, está longe do clichê de se sacrificar para salvar o mundo.
Aliás, falando em dualidades e dicotomias, Réquiem para a liberdade explora nas entrelinhas uma dualidade bem mais interessante que a dicotomia bem x mal: a segurança e a liberdade. Afinal, até onde vale a pena sacrificar a própria liberdade em troca da garantia de segurança e estabilidade? Foi um questionamento que deu um toque a mais à história, transformando-a em algo mais do que uma aventura em busca da liberdade.
Assim, mesmo que tenha seus defeitos, Réquiem para liberdade é uma leitura que vale muito a pena e que eu certamente recomendo. Um errinho de digitação ou outro escapou da revisão, mas não foi nada que comprometesse a imersão na leitura.
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