Felipe 22/08/2020Uma visão interessante sobre a não-violencia.Comecei a leitura pensando que seria um livro evangelístico, mas concluí que ele é muito mais filosófico e político.
Não concordo com a maioria dos pensamentos do autor com respeito à interpretação dos evangelhos. Em minha visão, Jesus não veio para trazer posicionamento político, mas sim par anunciar o Reino de Deus, e através da fé, operar milagres e levar as pessoas à Salvação.
Decidi expor em tópicos o que penso da obra, por isso, ela tem SPOILERS!!!!!!:
Pontos que não concordo:
? Tolstói começa o livro respondendo à críticas recebidas de outros autores e jornalistas da época, defendendo-se das acusações e discordâncias. - Segundo a própria visão do autor sobre os ensinamentos de Jesus, ele mesmo não deveria estar se defendendo de criticas, mas dando a outra face. Permitindo que a injustiça ocorresse mesmo que com a intenção de humilha-lo.
?Segundo o autor, toda a Bíblia é anulada por uma ou duas passagens que exaltam a não-violência. O próprio Senhor Jesus afirmou que não veio para ANULAR A LEI, mas para CUMPRI-LA. Ele mesmo chegou a usar da violência para expulsar os cambistas do templo.
Creio que a intenção de Tolstói não era exprimir que nenhuma violência seria cometida de maneira alguma, mas que ela usada para destruir ou matar o próximo é pecado, mas em suas próprias palavras: qualquer tipo de violência é pecado.
? Tolstói crítica a igreja, os empresários e a política, dizendo que as três são as promotoras da violência e que o evangelho só poderia ser de fato cumprido quando as três fossem extintas.
A própria palavra de Deus fala da necessidade da igreja, quando afirma em Hebreus 10 da necessidade de congregar e nas cartas do apocalipse, endereçadas pelo próprio Senhor Jesus à igreja, ora repreendendo, ora exaltando. Como poderíamos extingui-las, sabendo ao mesmo tempo da importância delas?
Sobre a política, também recorro à bíblia para identificar a importância de liderança. - Tolstói defende indiretamente uma Anarquia - Desde o êxodo, Deus instituiu lideres (tais como Moisés, e posteriormente Josué, Saul, Davi, etc...) Para que guiassem o povo segundo as suas leis.
Quanto aos empresários, levo em consideração que Tolstói viveu na época da explosão da revolução industrial. O trabalho era pesado e haviam poucas ou nenhuma leis trabalhistas, portanto, é inegável que havia uma exploração do patrão sobre os funcionários. Hoje existem leis estabelecidas, sindicatos, justiça social que defendem o trabalhador.
Não estou afirmando que estamos numa situação ideal, mas evoluímos muito em 120 anos (creio que ainda iremos evoluir a ponto de uma equidade organizacional).
? Tolstói também não considera a indefesa pessoal. É claro que a militarização em sua época só crescia, mas ela não serve apenas para ataque, mas também para defesa do cidadão.
Imagine um mundo onde ninguém pode se defender. Àqueles que não se declaram cristãos poderiam oprimir a sociedade, violentando as pessoas e, constantemente, tomando o poder.
Pontos que concordo:
?Precisamos entender que a realidade em que Tolstói estava encaixado era uma bomba relógio: Uma época em que as tensões internacionais cresciam e as ameaças de uma Grande Guerra surgiam o tempo todo. Era natural o medo na população e o investimento massivo na militarização só contribuia para a insegurança das nações.
De fato, Jesus disse que "aquele que vive pela espada, pela espada morrerá" (Mt 26:52). Concordo que guerras e assassinatos devem ser vistos como pecado e se possível, extintos.
?Ainda lembrando da situação da época, onde a igreja católica (e a ortodoxa na Rússia) detinham o poder, é compreensível que haja uma revolta com relação ao domínio eclesiástico sobre os países, apesar de não justificar a defesa do desigrejamento. O apoio a causas anti bíblicas eram comuns às entidades religiosas desde os tempos de Constantino. Hoje, apesar de ainda haver muita apostasia, existem igrejas sérias, comprometidas com o evangelho do Senhor Jesus.
?Apesar de eu discordar de muita coisa, houve algo que mudou meu pensamento. Antes da leitura dessa obra, eu acreditava que o que corrompia o homem era o sistema. Mas Tolstói nos mostra que é responsabilidade do homem se posicionar e FORMAR O SISTEMA. Ele tem toda razão.
O sistema não é um organismo vivo, nós somos! A ação do indivíduo causa uma reação, inicialmente por outro indivíduo, depois aos grupos, depois aos meios, até que o sistema é alterado. Tolstói exemplifica isso através do exemplo do enxame de abelhas. Mudei minha forma de pensar... Ou você é transformado pelo sistema, ou TRANSFORMA O SISTEMA!
No geral foi uma leitura muito agradável. Agora pretendo conhecer os romances do autor!