Naty__ 13/03/2020
Quando finalizei a leitura de Silenciadas, precisei de uma longa pausa para fazer esta resenha. Estava me preparando psicologicamente para escrever sobre a história. Posso dizer que, até agora, desde que concluí essa leitura, nenhum livro conseguiu passar pelas minhas mãos por tanto tempo até largar e começar outro, outro, outro... E não sei mais quantos começarei até sair dessa ressaca literária.
Quase tudo começa em 2008 – tirando o prólogo que não revela a real data, mas, fazendo as contas, é por volta de 1993. Quinze anos atrás, uma adolescente é surpreendida enquanto colhia flores para a celebração do solstício de verão e é brutalmente violentada. O tempo passa e aquela garota poderia ter sido apenas uma jovem comum, feliz e sem marcas – se não fosse esse passado que a tormenta dia após dia. Já em 2008, um homem é morto em um atropelamento e não possui nenhuma identificação. Ao mesmo tempo, um sacerdote e sua esposa são encontrados mortos em um aparente duplo suicídio. Fredrika Bergman, juntamente com a equipe de investigação de Alex Recht, é encarregada de casos aparentemente desconexos.
Tudo parece fios soltos, com histórias desconexas, mas é aí que o leitor é surpreendido, pois nada, absolutamente nada dessa história, fica sem ligação. A autora não deixa pontas soltas e o que queremos apenas é entender para onde cada uma vai nos levar. Quando descobrimos, o susto é grande.
Silenciadas consegue ser uma história forte e nos transmitir sentimentos intensos. O leitor se desespera, pois não sabe se aquele é o mocinho, se aquela é a vilã ou se é mocinha também. Não importa, a gente torce, quer defender, quer invadir as páginas e resgatar aquela que está em perigo, aquele que está perdido nas drogas, o casal que está prestes a morrer. E parecemos um salva-vidas fora d’água – e daí, não é mesmo? A gente só quer proteger para que nada de ruim aconteça. Porém, não estamos lá, não podemos oferecer ajuda, então, coisas ruins acontecem. Com isso, o leitor chora, fica com o coração apertado e não quer saber de mais nada além do final.
O final... Ah! Mas que final, senhora Kristina Ohlsson. Você poderia ter maltratado menos o nosso pequeno e frágil coração. O leitor quer um saudosismo fim, mas acontece que nem todas as histórias possuem finais felizes e Ohlsson nos prepara para isso. Com Ohlsson a gente aprende a perder, a sofrer, aprendemos que nem tudo pode ser como queremos. Afinal, o que seríamos de nós se pudéssemos fazer de tudo e de todos como marionetes? Ela nos ensina como um autor de verdade deve fazer para conquistar um leitor e ganhar um novo fã.
Ohlsson nos mostra que as aparências enganam, que as dúvidas corroem, mas as certezas... Essas nos destroem por completo. Podemos olhar sorrisos, no entanto, eles não significam felicidade; podemos ver lágrimas deslizar sobre diversos rostos, porém, eles não significam apenas que alguém está sofrendo. A autora nos conduz a um mundo onde tudo pode ser como imaginamos, mas também pode não ser. Afinal, quem entende o interior da outra pessoa? Só ela mesma.
É difícil resenhar esse livro sem divagar por tantas lições contidas na obra. Fiquei dias alimentando a ideia de escrever, contudo, sabia que não conseguiria transmitir o que esse livro proporcionou para mim. É delicioso saber que o segundo livro da autora conseguiu me ganhar de forma intensa e não poderia dar menos do que cinco estrelas. Não poderia deixá-la na estante e, com certeza, em meu coração.
A única coisa que tenho a reclamar ou que poderia ter sido melhor trabalhada foi a sinopse. Ela mostra pontos bons, mas outros são questões que poderiam ser silenciadas, afinal, não é bom deixar partes que possibilitam spoilers. Agora que li o livro eu enxergo, enquanto lia eu desconfiava, então seria bom evitar. No entanto, isso não compromete a leitura, pois o leitor não imagina que é aquilo mesmo; imagina que pode ser algo diferente, pensa que está sendo enganado. E, no final das contas, é isso mesmo.
A história pode não significar nada para um leitor, pode até não ter a surpresa que você tanto espera. Confesso que comigo ocorreu o contrário (embora o final fosse duvidoso e nem tão inesperado assim). O que gostei não foi apenas do conteúdo, da criação da história, do enredo e dos personagens. O que gostei foi do conjunto. O ensinamento que Ohlsson nos transmite perpassa o trabalho das entrelinhas. Obra indicadíssima!
Quotes:
“Ali suspirou e fechou os olhos. É claro que não sairia do apartamento – afinal de contas, estava trancado. Seus olhos se encheram de lágrimas, embora não chorasse desde pequeno. Não havia telefonado no apartamento, e o celular que recebera da mulher parecia não funcionar. A TV só exibia canais que ele não entendia; o AI Jaseera não estava na grade. Também não havia computador. As janelas não abriam e o exaustor da cozinha não funcionada. Já havia fumado alguns maços de cigarro e não fazia a menor ideia do que faria quando acabassem” (p. 48).
“As palavras impulsionaram sua corrida como se fossem uma chicotada. Era o bebê que eles queriam, era o bebê que tentavam pegar. Viu que um dos homens segurava uma faca comprida e brilhante. Quando a alcançassem, arrancariam o bebê de sua barriga e a deixariam morrer na floresta. Assim como fizeram com todas as mulheres que encontrou largadas entre as árvores” (p. 70).
“Filhos são algo que a gente toma emprestado. E a gente sabe disso desde o início. Eles não foram feitos para ficar com a gente em casa eternamente. O objetivo da minha presença na vida deles é prepará-los para cuidarem da própria vida. Com Lena não é assim. Ela é “minha” de um modo totalmente diferente. E eu sou dela. Vamos estar sempre juntos” (p. 164).
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2016/09/resenha-silenciadas.html