rxvenants 04/04/2024Um livro com uma dualidade interessante.ALERTA DE CONTEÚDO: Abu'so sexu'al, pedo'filia, abu'so parental, abu'so de drogas, abandono parental, tor'tura, sangue, assassi'nato, se'questro. Se você é sensível a algum desses temas, recomendo que não leia o livro ou leia-o com cuidado. O livro é extremamente gráfico, cuidado.
Que livro difícil de dar uma nota.
Pensando de uma forma menos pessoal, eu acho Prisoner extremamente problemático. É aquela mesma coisa de romance Dark: qual é o limite da sombra e da romantização.
Esse livro romantiza muita coisa.
A Abby é raptada pelo Grayson e apesar de eles terem atração um pelo outro, ela foi abu'sada sim em diversos momentos.
Ele é um sequestrador e abu'sador que no final fica com a garota e ela gosta disso.
Não tem o que discutir nesse aspecto.
Por uma perspectiva geral, esse livro é bem complicado.
E aí, vamos pensar por um outro lado.
Subjetivamente, eu acho esse um livro que pode trazer discussões bem interessantes.
O livro traz a história do Grayson e de outros seis homens que foram mantidos em cativeiro num porão para serem usados e abu'sados por homens durante seis anos.
Eles foram raptados entre as idades de seis e dez anos.
Grande parte da história é sobre como esses homens passaram a vida desejando vingança.
Não me entendam mal. Eu não acho que vítimas podem fazer o que quiserem. Não sou psicóloga, não sou criminóloga e não estudo nada disso. Sou só uma pessoa interessada nesse assunto e que viveu e conviveu com gente que passou por muita coisa.
Eu fiquei pensando em várias coisas nesse livro, apesar de saber que a maioria delas não foi o objetivo das autoras.
Claro, teve romantização na escrita.
Porém, os próprios personagens quando falam sobre a cena não consensual com a Abby sendo dro'gada que fazer as coisas de forma errada é tudo que o Grayson sabe.
Em parte, eu concordo. Claro que não é o direito dele fazer isso com ela, assim como não era direito dos homens adultos abu'sarem dele quando era criança.
Mas as coisas nunca são preto e branco. Ele passou seis anos da vida no porão e quando saiu, passou a vida com os homens que conheceu lá. Ele conhece violência e é isso.
Não dá pra perdoar ele, mas dá pra entender.
A mesma coisa aconteceu quando eu li a cena do Grayson quase matando o governador, o cara que chamava ele de "favorito" e "usava" muito ele.
As autoras colocaram a Abby na cena dizendo que se ele matasse o governador, ele perderia a humanidade e estaria no nível do cara.
Sinceramente, eu acho difícil julgar uma vítima assim. Não gostei nem um pouco disso.
Entendo o ponto da Abby, mas eu também acho que pra alguém que passou a vida inteira pensando nisso, é difícil.
Não acho que nenhuma morte seja justificável, mas eu também não consigo julgar alguém com a cabeça assim. É difícil condenar o que uma vítima pensa.
Deu pra ver que as autoras quiseram algum tipo de redenção pro Grayson no final, mas ainda mantiveram ele do jeito que ele sempre foi em alguns aspectos.
Eu fiquei pensando bastante em tudo que esses homens fazem durante o livro e pensando em como aqueles anos mudaram profundamente quem eles são.
Sinceramente, acho que nessa parte as autoras foram ótimas. Acho que qualquer leitura que me traz alguns pontos pra discussão são leituras boas em algum nível.
Eu também achei a escrita delas bem poética e até bonita em alguns momentos.
A história é bem fluida e tem cenas de ação bem legais. Sempre tem alguma coisa acontecendo.
É um livro interessante de analisar, mas é bem triste e revoltante. Só estômago forte pra ler ele.
Enfim, tenho problemas com a romantização que elas trouxeram, mas acho que elas foram bem corajosas em trazer tanta coisa sobre as diferenças que eventos traumáticos fazem em diferentes pessoas. Os próprios homens são diferentes entre si e reagem diferentemente.
O Grayson é diferente do Stone que é diferente do Nick (o que mais parece tentar superar isso).
Na minha opinião pessoal, é um livro complicado de dar nota. São muitos pensamentos conflitantes. No final, eu até acho legal essa dualidade da leitura e como a sua perspectiva pessoal muda com os eventos do livro.
A minha nota é sobre a discussão. Eu não apoio o que o Grayson faz, mas gosto muito dessa camada profunda sobre o que os anos de cativeiro fizeram com ele.