Thananda 12/01/2016
Auto da Barca do Inferno & Farsa de Inês Pereira
O Auto da Barca do Inferno
O Auto da Barca do Inferno (ou Auto da Moralidade) é uma complexa peça dramática de Gil Vicente, representada pela primeira vez em 1517.
Ela mostra o que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, e ao mesmo tempo possui temas atuais com uma boa sátira à sociedade.
A peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu Companheiro, e a Barca da Glória, tendo como tripulação um Anjo na proa. Cada personagem discute com o Diabo e com o Anjo para qual das barcas entrará tendo assim por eles um julgamento justo de acordo com suas obras enquanto viviam.
Normalmente classificada como uma moralidade, muitas vezes ela aproxima-se da farsa; o que indubitavelmente fornece ao leitor é uma visão, ainda que pequena, do que era a sociedade portuguesa naquele tempo. Apesar de se intitular Auto da Barca do Inferno, ela é mais o auto do julgamento das almas.
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A Farsa de Inês pereira (com SPOILER)
A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, onde o autor retrata a ambição de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. As pessoas duvidavam do talento de Gil Vicente para escrever suas peças.Certa vez ele havia sido acusado de plagiar obras do teatro espanhol de Juan del Encina. Em vista disso, pediu para que seus acusadores dessem um tema para que ele pudesse, sobre ele, escrever uma peça. O autor concordou em escrever uma peça que comprovasse o provérbio "Mais quero um asno que me carregue do que cavalo que me derrube". A peça foi representada pela primeira vez a João III de Portugal no Convento de Cristo, em Tomar, em 1523. Logo após seu descontentamento da coroa portuguesa.
Inês, uma moça solteira, sofre a pressão constante do casamento por parte de sua mãe e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Ambiciosa, ela procura um marido que seja alegre, bem-humorado, abastado e culto. Sua mãe tem uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado sentimental e fútil do casamento. O primeiro candidato é Pero Marques, camponês rico, o que satisfazia a ideia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente grosseiro, desajeitado e inculto,o que desagradou Inês, fazendo-a descartar o moço.
Entram então em cena dois casamenteiros judeus, que somente se interessam no dinheiro que ganharão com o arranjo do casamento, não dando importância ao bem-estar de Inês. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro de sua graça, e Inês casa-se com ele. O casamento não sai como Inês planejou. Depois de consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra-se um tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela e dá ordens ao seu moço que vigie Inês e que a tranque em casa a cada vez que sair à rua. Inês fica desesperada com o péssimo casamento que atraiu para si, mas seu desespero dura pouco, pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um pastor quando fugia de forma covarde.
Inês não tarda em querer casar de novo e, nesse mesmo dia, chega-lhe a noticia de que Pero Marques continua solteiro. Fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante.
O ditado "mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube", não podia ser melhor representado nesta última cena , quando o marido a carrega em ombros até ao amante, e ainda canta com ela "assim são as coisas".
Gil Vicente fez duas obras divertidíssima. Vale a pena a leitura. Recomendo:)