Dri Ornellas 17/12/2019O segredo das coisas perdidas é um desses livros que fala de livros como seres animados, mas sem atribuir poderes mágicos, como se eles fossem uma instituição pronta para nos salvar de nós mesmos mas, sim, como objetos com presença própria a partir do poder que nós damos a eles, poder que apenas reflete o que nós mesmos somos. Os livros seriam nossa extensão, nosso modo de ver e viver a vida, não objetos que não devem nunca ser profanados, porém objetos que consumimos e nos consomem.
Para demonstrar essa teoria, a história conta a viagem de mudança de Rosemary Savage da Austrália para Nova York após a morte de sua mãe e o começo de seu trabalho na livraria Arcade, onde há uma miríade de personagens excêntricos e de índole duvidosa. Nenhum deles veste um arquétipo agradável e sábio de grande leitor, todos possuem muitos defeitos, sejam psicológicos, emocionais ou sociais. E, em meio a eles, entra Rosemary que tem 18 anos, está sozinha em uma nova cidade, sem amigos e ainda em luto por sua mãe. "O filho ausente deixa você ausente", essa é a frase de Lilian, uma das personagens secundárias que perdeu o filho durante a ditadura argentina e ela resume muito bem o que move os personagens desse livro: a eterna procura por algo, mesmo não sabendo exatamente o que é ou que precise de meios escusos para conseguir.
Esse livro é uma releitura e tem 11 anos que fiz a primeira leitura. Lembro de ter ficado mais empolgada com a primeira leitura, apesar de ter gostado mais da história dessa vez. Acho que me identifiquei ou me projetei muito em Rosemary na primeira leitura e - também como ela com a Arcade - fiquei deslumbrada com a grande quantidade de citações e referencias à autores no transcorrer da leitura. Dessa vez, me ative mais à história e aos personagens e, de um jeito diferente, gostei mais do livro.