Fernando Lafaiete 08/06/2017Os 13 Porquês: Devemos indicar esse livro para os jovens?
Eu resolvi ler esse livro por dois motivos. Primeiro: Eu estava extremamente curioso para assistir a série e queria muito ler o livro primeiro. E segundo: Fui convidado juntamente com alguns amigos para participar de um debate sobre o livro com alunos de algumas escolas estaduais. E a minha primeira impressão ao começar a leitura, foi que esse livro era perfeito para o público alvo da história. Ou seja, era uma leitura mais do que recomendada para os adolescentes. Mas pasmem... Eu estava totalmente errado.
Para que vocês entendam o que eu quero dizer, vou dividir essa "resenha" em 2 partes. E é importante que vocês leiam as 2 partes para que fique claro o que eu quero dizer quando afirmo que este livro não é tão indicável assim.
O que achei do livro?
Este livro tem sua relevância, principalmente porque ele levanta temas extremamente importantes que precisam e devem ser debatidos. Jay Asher, vai nos apresentar a história de uma adolescente que sofre bullying e decepções na escola e por este motivo resolve gravar 7 fitas expondo 13 razões que a levaram a cometer suicídio. Ela envia estas fitas para as pessoas que colaboraram para que ela se sentisse deprimida e resolvesse se matar. Estas pessoas vão ouvindo as fitas e depois de terminar devem enviar para a próxima pessoa. O livro é cheio de problemas. A escrita do autor é bem objetiva e acessível, o que torna um ponto positivo quando analisamos qual é o seu público alvo. Porém, o autor nos entrega uma narrativa que além de objetiva também é rasa. Os assuntos abordados são tratados de maneira negligente e esta superficialidade me preocupa bastante, principalmente quando eu paro para pensar que muitos jovens acabarão absorvendo algumas questões de maneira distorcida.
A superficialidade da história prejudica muito também quando a protagonista começa a expor os motivos dela ter decidido se matar. Por quê? Simplesmente porque tudo soa muito bobo e é muito difícil acreditarmos que ela se matou por razões tão "idiotas". Estes motivos são trabalhados de maneira que fica difícil acreditarmos na personagem central. Não nos é apresentado um background onde vemos o real impacto que as atitudes de algumas pessoas causaram na vida dela. As coisas que são "descritas" são apenas pinceladas e em nenhum momento o autor se aprofunda.
É claro que os 13 porquês apresentados no livro, são sim capazes de deixar um adolescente deprimido. Sei que muitos adultos leram e acharam que tudo não passou de frescura por parte da personagem central. Mas temos que entender que a adolescência é a fase da aceitação. Os jovens vivem em uma redoma que eles mesmos constroem por puro medo de enfrentarem a vida. Isso faz com que muitas situações tida por nós (adultos) como irrelevantes, causem um impacto tremendo na vida desses adolescentes. Quando lemos um livro desse, temos que ter empatia e não sair julgando sem tentarmos entender os personagens. Portanto, quando eu disse que as razões são idiotas, eu quis dizer que isso acontece porque Jay Asher não nos apresenta alicerces sólidos que façam com que as coisas soem críveis.
As relações entre os personagens são fracas e o autor nem se dá ao trabalho de nos apresentar as consequências que a morte dessa adolescente causou nas pessoas que ficaram. Além do livro ser cheio de personagens irresponsáveis. E não me refiro somente em relação ao bullying que eles praticam. Afinal de contas, muitos cometem esses atos sem se preocupar com as consequencias. Pelo menos nisso o autor acerta e nos apresenta personagens que nada mais são do que o reflexo da realidade. Eu digo irresponsáveis, porque acontece uma situação bem grave na história, e ninguém toma uma atitude em relação ao que se passa. Eles escutam as fitas e passam para o próximo e ninguém é punido por isso. Na verdade, existe um personagem que na minha opinião é o mais irresponsável de todos. Pois ele não se relaciona com nenhum dos porquês e mesmo assim não toma uma atitude sobre as coisas que ele fica sabendo depois de ouvir as fitas.
Na minha opinião, o autor abordou o bullying e o suicídio de maneira muito preocupante. Primeiro que ele tratou tais questões como sendo normais e não apresentou nenhuma alternativa para que a jovem não cometesse tal ato (o de se matar). E segundo que ele trata o suicídio como um ato de vingança por parte da protagonista. Isso é mais do preocupante se pararmos para pensar que muitos jovens não refletem sobre o que leem. Então a pergunta que faço é a seguinte: Será que esse livro deve de fato ser considerado uma leitura recomendável para os adolescentes?
Outra coisa que me incomodou e muito, é o fato tanto do e-book quanto da edição física terem sido muito mal revisadas. Vocês encontrarão todo tipo de erro e muitos deles atrapalharão o entendimento da história.
Sobre a série eu devo dizer que é bem superior ao livro, apesar dela estar bem longe de ser perfeita. A Netflix nos entrega uma história melhor estruturada, com relações mais sólidas e com pontos de vistas necessários. A série tem cenas bem pesadas (destaque para o final) e que diferente de muitas pessoas, eu achei necessárias. Eu acho que com um tema tão pesado e importante, não devemos ficar pisando em ovos. Acredito que temos sim que mostrar a realidade nua e crua para os jovens, para que eles comecem a pensar antes de agir. Pois nossas atitudes poderão prejudicar e muito a vida de outras pessoas; tanto fisicamente quanto psicologicamente. Não acho que a Netflix ou qualquer outra empresa televisiva deva pegar leve. Estamos falando de uma série que aborda suicídio na adolescência. Querem coisa leve, então assistam filme da Disney.
O que os jovens acham do livro / Série?
Durante a minha conversa com adolescentes que leram e assistiram a série (ou que fizeram apenas uma das coisas), fiquei um pouco preocupado com algumas interpretações que eles fizeram. Essas "interpretações" só reforça o que eu disse no começo dessa resenha. Eu não sei até que ponto eu indico esse livro.
A primeira coisa que eu ouvi foi em relação a protagonista. Muitos se identificam com ela e a consideram uma personagem forte e corajosa. Eles não enxergam o ato dela de se matar como algo ruim. Jovens entre 13 até os 15 anos, depois de terem lido o livro, acabaram absorvendo a questão do suicídio como uma válvula de escape. Onde a mensagem que fica é: se nada der certo, basta nos matarmos que nos veremos livre de nossos problemas e ainda nos "vingamos" de quem nos fez mal (voltamos para a questão que eu abordei anteriormente).
O suicídio está sendo glamorizado pelos jovens e após o sucesso do livro, graças a série, esse assunto voltou em voga, e como eu disse, se matar não está sendo visto com um problema, mas sim como uma solução e como algo "irado"... como eu ouvi um adolescente dizer.
E para algumas pessoas que acharam a protagonista mimada e os motivos apresentados por ela como insuficientes, eu afirmo para vocês, eles são mais do que suficientes. Tanto eu quanto os meus amigos, ficamos chocados e preocupados quando ouvimos um jovem de 14 anos dizer que já pensou em se se matar só porque as garotas da escola não o cumprimentavam. Ele achava que tentando se matar ele ficaria popular e passaria a ser o centro das atenções. Só aqui você já pode ver que os motivos da protagonista não são bobos. Eles apenas soam assim porque como adultos temos uma outra visão de mundo. Os jovens precisam se sentir aceitos pelos colegas, e por isso muitos praticam bullying, espalham boatos sobre os outros e assim como a protagonista, se preocupam com o que os outros pensam sobre eles. A aceitação não é vista como algo besta, mas sim como algo de suma importância.
A questão que eu quero reforçar, é que se você que está lendo esta minha resenha, tem filhos ou conhece algum jovem que está lendo ou assistindo a série, por favor, sente e converse com ele sem fazer julgamentos. Procure saber o que ele está absorvendo da história. Pois se suicidar não deve ser visto como um ato de coragem e a protagonista nem deve ser vista como um exemplo a ser seguido. Se matar é um ato de egoísmo. Pense no mal que você causará nas pessoas que ficarão. São estas coisas que devemos lutar para que os jovens entendam.
E antes de terminar, quero deixar claro que não estou generalizando, existem muitos adolescentes conscientes, mas infelizmente ainda existe uma grande parcela que não possui maturidade suficiente para entender que a nossa vida vale muito mais do que a opinião dos outros.
Um ato de coragem é enfrentar o mundo de cabeça erguida e não nos abatermos diante das adversidades.