Lucas.Rocha 15/01/2024
O Misticismo e a Realidade Sociohistórica de Manguetow
O Recife com suas insurreições passadas, que de um passado de glórias e levantes populares, caracterizou o jeito de sua gente, forte e aguerrida. Porém, não é só de revoluções que vive a cidade Maurícia. O Recife, devido a sua forte religiosidade e seus credos, a mistura e as diversidades de suas religiões de matriz africana, dão uma espiritualidade muito marcante, que só é vivenciada nos ares tropicais da Veneza brasileira.
Um dos principais responsáveis por esse misticismo, é o sincretismo religioso, muito presente na região, o Recife de forte influência católica, cresceu sob os moldes da mistura entre a religião cristã e os xangôs, dos becos, subúrbios e encruzilhadas da velha cidade.
Tais influências religiosas na capital pernambucana, moldaram o modo de vida ''malassombrado'' da cidade e de seus habitantes. Os becos, vielas, ruelas e ermos, são herança do crescimento rápido e mal organizado de metrópole, e sua forte miscigenação de povos da Europa, África e de terras brasileiras, ajudou e influenciou diretamente na crendice em lendas e contos de espíritos, lobisomens, mulas encantadas, fantasmas e mal-assombros.
Neste livro que de maneira genial é narrado o modo de vida dos habitantes do Recife velho, hoje comumente chamado de Recife antigo. O autor, de forma bem elaborada, tece uma narrativa fantástica e, ao mesmo tempo, histórica, descrevendo concisamente os aspectos culturais, urbanos e da crença popular nas assombrações e lendas.
O credo em tais assombrações e em lugares místicos não são desse tempo, pois vem de muito antes que a cidade se modernizasse de vez, antes dos arranha-céus de boa viagem fazerem sombra para os tubarões e turistas.
Sempre cresci ouvindo dos meus pais, avós e tios essas histórias populares do velho Recife assombrado, a imaginação popular da região é bastante rica, muitas dessas histórias, há quem afirme serem verídicas, há quem duvide de sua credulidade. A verdade é que a cidade pode ser realmente mágica, com suas manifestações de ''malassombramentos'' e vultos em seus velhos sobrados do tempo do nordeste holandês, dos velhos casarios da rua da aurora e da velha rua do bom jesus, a dos judeus. Mas também por suas manifestações culturais, do som que ecoa das orquestras de frevo e do retumbante baque dos maracatus em suas pontes, da magia dos seus rios e morros.
Portanto, essa obra é um prato cheio para quem gosta dessa temática, para quem gosta do fantasmagórico e do deslumbrante mundo das aparições e crendices. A de se destacar os contos, (O boca de ouro), conto fantasmagórico e um tanto horripilante. (O papa figo) essa era o terror dos meus tempos de criança. (Um barão perseguido pelo diabo) conto realmente desolador e bem narrado, e por fim (A velha branca e o bode vermelho) bem escrito, tem uma mensagem social por trás, conto que traduz em sua narrativa um retrato histórico e cultural dos velhos tempos do Recife, velhos tempos que obviamente ficaram num passado longínquo, que o Recife não conhece mais, o Recife de hoje em dia é somente assombrado pela velha politicagem, pelo vasto desemprego e por seus trombadinhas, maloqueiros e batedores de carteira, em seus becos malcheirosos.