Machado de Assis

Machado de Assis Daniel Martins de Barros




Resenhas - Machado de Assis


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Paulo Silas 17/06/2019

Reunindo doze excelentes contos de Machado de Assis para trabalha-lhos aos olhos da psiquiatria e do direito, Daniel Martins de Barros escreve uma obra na qual analisa importantes aspectos da sociedade a partir da literatura, tendo assim uma salutar aproximação entre diferentes campos do saber, resultando em algo que desperta a atenção já pela proposta e que, através da leitura, satisfaz o leitor - qualquer seja a sua pretensão, de modo que tanto uma leitura compromissada ou descompromissada será agradável e benéfica, uma vez que muito se aprende com cada conto e os comentários do autor sempre presentes.

Ao estabelecer que "entender a interface entre o Direito e a Psiquiatria [...] é entender as relações entre sociedade e saúde mental", os contos machadianos que o autor reúne no livro dialogam com a loucura e com as leis - daí o subtítulo da obra. Machado de Assis foi uma escolha com acerto, pois sua literatura possui várias trabalhos em que a loucura está presente. São os contos presentes no livro: "O Alienista", "A ideia de Ezequiel Maia", "O lapso", "Último capítulo", "A última receita", "O espelho", "O enfermeiro", "A causa secreta", "Conto Alexandrino", "Um esqueleto", "Uma partida" e "Verba testamentária. Ao final de cada conto (que está presente na íntegra do livro), Daniel de Barros analisa a história sob o ponto de vista psiquiátrico e jurídico, apontando onde estão presentes esses aspectos médico-legais e estabelecendo importantes reflexões sobre a sociedade. Simão Bacamarte, Ezequiel, coronel Xavier, Dr. Belém e outros tantos personagens machadianos passam a ser protagonistas para além do conto em que estão inseridos, pois objetos de análise pelos olhos clínicos do autor.

"A literatura é uma fonte quase óbvia quando buscamos ampliar a visão sobre a sociedade", pontua o autor na introdução do livro, estando assim justificada a proposta da obra. As abordagens realizadas sobre os contos escolhidos ensejam sempre em reflexões críticas, evidenciando desde logo o autor que "os psiquiatras, mais do que gostariam - e certamente muito mais do que imaginam - são fortes agentes sociais", pois dizer qual comportamento ou em que nível de sua prática é aceitável, tolerável ou torna a pessoa doente é tarefa de grande responsabilidade, uma vez que está a se separar, pela ótica médica, o certo do errado. Daí que a psiquiatria exercer um papel normatizador na sociedade. É com esse julgo crivo que os personagens dos contos machadianos são analisados: são sãos, em perfeito estado de saúde mental, ou estão com seus juízos desarrazoados, sendo necessário uma intervenção médica? E o direito, de que modo entra nisso tudo? São questões essas que o autor enfrenta a contento no decorrer do livro.
As relações literatura-direito-psiquiatria estão presentes de forma singular em todos os doze contos analisados nessa obra, proporcionando ao leitor uma leitura agradável e bastante proveitosa.


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