Queria Estar Lendo 14/04/2016
Resenha: A Sereia
Quando o choque da água batendo em seu rosto após ter se atirado ao mar a fez despertar do torpor causado por aquela estranha melodia, Kahlen percebeu que estava se afogando. Mas ela não queria morrer. Não podia. Então chorou e implorou para que pudesse viver. E a Água a ouviu.
O primeiro livro escrito pela autora Kiera Cass, finalmente chegou ao Brasil através da editora Seguinte. Nele Kahlen é uma sereia que está a trabalho da Água faz 80 anos, já presenciou muitas mudanças no mundo, conheceu diversos lugares, viu irmãs indo embora e outras chegando. Agora só lhe restam 20 anos de serviços a serem prestados, e então poderá finalmente voltar a ser livre e viver como humana até o fim de seus dias. Mas até lá, ela precisa conviver com o peso de todas as mortes que já causou.
Isso porque a Água precisa ser alimentada de tempos em tempos para que assim possa continuar alimentando o mundo. E quando desastres naturais ou grandes acidentes com embarcações não acontecem, é o canto das sereias que atrai os sacrifícios que precisam ser feitos para que o mundo continue seu ciclo vital.
Mesmo sabendo disso, a sereia não consegue evitar a culpa que sente por tudo o que faz. Diferente das irmãs, ela evita o contato com os humanos e procura se ligar à Água, que é em parte mãe e em parte carcereira. O amor que uma sente pela outra é complexo e bonito, e pode ter sido ameaçado. A Água não pega esposas e mães para si, porque exige total lealdade daquelas que lhe pertencem. Mas Kahlen conheceu um garoto, e talvez isso coloque tudo a perder.
" De que lugar do mundo você saiu, menina linda e silenciosa? Akinli sussurrou. "
A Sereia é um romance onde ainda que o plot do casal seja a parte motora da história, não é a mais importante. Akinli pode sim ser aquele que causa a virada na vida da personagem, mas é a relação dela com as irmãs e a Água o que realmente toca e comove. Muito mais do que um livro sobre uma sereia que se apaixona por um humano, ele é um ode à família, a amizade e aos sacrifícios que fazemos por aqueles que amamos.
As cenas de romance são poucas, bem como as de ação. A narração se passa muito mais imersa nos pensamentos da personagem e em suas relações com as irmãs e com a Água. Não existem grandes reviravoltas, é como uma linha contínua que segue seu caminho em uma única direção. A grandeza se encontra nas nuances de algumas personagens e em como elas se relacionam. O final é simples, bonito e sem grandes pretensões ou revelações.
" Sempre há espaço para o amor Padma balbuciou. Nem que seja uma frestinha."
Confesso que depois da derrocada que foi a ex-trilogia A Seleção, estava com expectativas baixíssimas para este livro. A escrita da autora, no entanto, continua sendo muito boa e difícil de largar. O romance é bonitinho, mas repentino, como todos parecem ser ultimamente, porém neste caso existe uma suposta explicação que, dados os fatores místicos do livro, optei por aceitar. Enfim, é um livro de leitura rápida e agradável e que, apesar de minhas suspeitas pré-leitura, eu de fato recomendo.
Mas a Kiera vai precisar muito mais do que um livro mediano para me fazer fingir esquecer a atrocidade o que foi The One.