Helder 23/02/2016Um livro de aventuraPrimeiro vamos rever a propaganda. O Regresso não é um livro sobre vingança. Isso é o filme, que foi somente “baseado” no livro. Aqui o que importa é a sobrevivência, e como acreditei na propaganda, talvez tenha me frustrado um pouco, pois pela primeira vez, preferi um filme a um livro.
Como uma estória de vingança, o livro é muito fraco, pois não existe um grande motivo para o personagem principal se vingar, afinal, o que você faria no lugar dos “amigos” dele que o abandonam achando que em breve ele estará morto? E tem ainda o final , que no quesito vingança, é totalmente decepcionante para quem espera uma catarse.
Mas como estória de sobrevivência é incrível, e difícil acreditar que tenha um fundo de veracidade naquilo tudo. Diversas vezes pensei que estava lendo sobre o Coiote do Papa Leguas: Putz, este cara não morre nunca??!!
E haja percalços. Hugh Glass é um ex marinheiro cuja maior motivação na vida é conhecer novos lugares. NO começo vê esta chance no mar, onde começa como marinheiro e acaba virando até pirata, mas no fim descobre que sua motivação pode estar em terra, desbravando o interior dos EUA, que ainda era habitado essencialmente por índios, alguns até canibais.
Para isso, Glass consegue um contrato como caçador e guia para uma empresa que caça animais para retirar a pele e vende-la, um negócio aparentemente tão rentável quanto veio a ser o petróleo no futuro. Este grupo é liderado pelo Capitão Henry e possui homens com diferentes estórias, sendo um deles o desajustado Fitzgerald.
Subindo sempre para o norte dos EUA seguindo por rios que até então nem haviam sido mapeados, o grupo tem a intenção de juntar peles e montar postos de comercio pelos rios.
Porém, numa destas expedições, Glass é atacado por um urso em uma cena descrita magistralmente no livro, e fica quase morto. O capitão preza por seus homens e não aceita deixar para trás um homem ainda vivo. Porém o terreno é inóspito e as ameaças são muitas, principalmente as diversas tribos que ainda não aceitam o homem branco, então o Capitão oferece dinheiro a dois membros da equipe para acompanharem Glass até seus momentos finais, que pareciam próximo, e lhe oferecerem um enterro digno.
Porem um destes é Fitzgerald, que está mais interessado no dinheiro do que na vida do companheiro, e logo se cansa daquele cara que insiste em não morrer e simulando a presença de índios, convence o outro rapaz a ir embora e deixar Glass ali sozinho para morrer. E já que este seria o futuro próximo de Glass, Fitz resolve levar também seus pertences principais, que para a época narrada eram como um carro hoje: Suas armas, rifle e facas.
Porém o Coiote, ops, Glass, não morre e com o objetivo de reencontrar Fitzgerald ele começa a lutar por sua sobrevivência. E como sobreviver num lugar onde o inverno se aproxima e sem armas para caçar e se proteger? Ai o coiote mostra seu lado meio MacGyver. Mata cobras com pedras, faz armadilhas para caçar ratos e coelhos, come carcaças de animais mortos, luta com lobos por carne e come muito mato. Tudo isso enquanto se arrasta (Sim, uma de suas pernas foi quebrada) por um terreno inóspito, onde pode sempre haver um índio à espreita.
Lendo assim parece tudo nojento e maçante, mas não é não. O autor tem uma escrita bem interessante e nos faz participar das vitorias de Glass e torcer para que ele consiga seguir em frente, mas são tantas tragédias pelo caminho que diversas vezes pensamos que não vai dar. O livro chega até a ser meio adolescente, de tantas aventuras vividas por Glass. E é muito interessante a versão que traz sobre o início da colonização americana. Difícil imaginar tal passado para um pais tão evoluído como os EUA atual
Por fim, fica um pensamento: Como o homem evoluiu! E o que levava aqueles homens a aceitar aquela vida medíocre e perigosa? Se eu fosse Glass, não tinha livro, pois morria logo no início. Não espere nenhum mega livro, mas se estiver afim de um pouco de aventura, embarque nessa em um sábado à tarde na rede. Dá para se divertir.