Babi 14/03/2016O que todo beatlemaníaco gostaria de escutarNão tenho como começar esta resenha sem primeiro comentar o título. Quando solicitei o livro de parceria com a Editora Record para o blog um Metro e Meio de Livros tinha achado a ideia e o título geniais. Mas não tinha curtido muito o subtítulo, "Paul está morto-vivo". Eu entendi a piada, só achei que alguma coisa soou estranha, sabe? A frase nos remete a uma das muitas teorias da conspiração que envolveram os integrantes dos Beatles quando a banda alcançou o auge do sucesso. Talvez uma das mais conhecidas e comentadas, a de que Paul teria morrido tragicamente em um acidente de carro e, para abafar o caso na mídia, teriam contratado um sósia (sósias podem até ser parecidos fisicamente, mas convenhamos que é meio impossível encontrar alguém com a mesma voz e tão afinado quanto) e a frase de efeito que ecoa até os dias atuais em referência a essa teoria é "Paul está morto" ("Paul is dead").
Acontece que o título original não é ZumBeatles (junção das palavras Zumbi + Beatles, para quem ainda não tenha sacado). Esse título até faria sentido em inglês, era só mudar para ZomBeatles. Mas o original é Paul is Undead: The British Zombie Invasion (Paul não está morto: A invasão dos zumbis britânicos, em uma tradução livre). Alan Goldsher errou muito feio nesse título, porque o livro não vai destacar a história do beatle Paul McCartney. Na verdade, está mais para uma biografia com toques de zumbi do John Lennon. Então, por que colocar o Paul como destaque no título? Só para não perder a piada? É, aparentemente foi exatamente isso. E aparentemente a Editora Record reparou nesse deslize e tentou dar um jeitinho. Então palmas para quem foi o responsável pelo ZumBeatles. Mas, claro, para não perder a "essência" do título, eles tentaram manter a piada no subtítulo, o que eu achei que 1) Poderia ter sido melhor trabalhada - por exemplo, podiam ter brincado com a tipografia e feito algo como "Paul está morto vivo" ou "Paul está morto (vivo)"; 2) O subtítulo poderia ter sido totalmente dispensado.
"No fim das contas, não importa mesmo. A palavra de Paul é a palavra de Paul, e não temos escolha a não ser tomá-la como o evangelho." (p. 32)
Deixando de lado a polêmica dos títulos, ZumBeatles é um livro para todo fã de Beatles que adoraria ter a notícia de que John Lennon e George Harrison ainda se encontram entre nós, pelo menos vivendo eternamente entre a vida e a morte como um morto-vivo. E para contar essa história cheia de zumbis, vampiros, sangue, fantasmas, ninjas, miolos e música, o autor Alan Goldsher se transforma em um personagem que decide escrever a biografia da banda que conquistou o mundo. Com comentários do próprio autor-personagem, o livro vai sendo narrado por meio de várias entrevistas; não só com George Harrison, Ringo Starr, Paul McCartney e John Lennon, como com outros tantos músicos, cinegrafistas, amigos de infância, ex integrantes da banda, produtores, fãs e até mesmo com a Rainha da Inglaterra (Elizabeth II), o diabo e deus. Sim, o DIABO E DEUS. Afinal, não poderia ser menos para uma banda cujo líder declarou ao mundo, em uma entrevista, que eles eram mais famosos que Jesus Cristo (para quem não conhece muito bem os Beatles, esse episódio não foi ficção. Foi a mais pura realidade que desencadeou em religiosos fervorosos queimando os discos da banda em público).
"Mandado embora logo antes dos Beatles estourarem internacionalmente, Pete Best é a nota de rodapé mais azarada da história do rock 'n' roll." (p. 65)
E para dar a essa história toda um tom de veracidade, temos os comentários do Lyman Cosgrove, um dos maiores especialistas de zumbis liverpudianos do mundo. Os zumbis liverpudianos são muito diferentes dos outros tipos de zumbis, eles são mais sociáveis, possuem poderes de hipnose e são menos violentos quando transformam suas vítimas. Porém, muito mais fortes. O primeiro zumbi a ir para Liverpool foi o chamado Primeiro, um zumbi tranquilão que só ia atrás de uns miolos quando estava com fome e que demorava muito para sentir fome novamente, o que evitava grandes chacinas, e ele acabava passando despercebido pela polícia local. Mas o Primeiro fez uma vítima que veio a transformar a história musical assim que veio ao mundo. Sabe de quem estou falando? Isso mesmo, John Lennon.
Assim, toda a trajetória da banda é contada mudando apenas um detalhe aqui ou ali para adaptar ao contexto criado por Goldsher. Em ZumBeatles o humor ácido e sarcástico dos integrantes da banda está bem presente, mas tenho que confessar que em certo ponto da história as piadinhas começaram a ficar um pouco cansativas, seguindo a mesma fórmula dos Fab Four se metendo em confusão e no fim comendo alguns miolos. Mas com o aparecimento do Mick Jagger (sim, ele mesmo. O vocalista dos Rolling Stones) acontece uma reviravolta que traz bastante ação para o enredo. Mick Jagger, no livro, não é apenas o vocalista de outra banda tão boa quanto os Beatles como também é um caçador de zumbis, cuja a principal arma é o requebrado dos quadris e o golpe fatal (à la FINISH HIM) é um beijo com seus lábios carnudos e largos no coração morto-vivo.
"John Lennon: Logo antes de tocarmos nossa última música, olhei para a plateia com o que achei que era minha expressão mais assustadora e falei: - Aqueles nos assentos mais baratos, arranquem todos os membros de seu vizinho. E aqueles de vocês nos assentos mais caro... façam a mesma merda." (p. 147)
Ao mesmo tempo que ria de algumas piadas típicas do Lennonzinho, McCa, Georgie e Ringo também notei algumas falhas na coerência da história, mas relevei já que, obviamente, este não é um livro para concorrer em alguma categoria do Prêmio Nobel (a não ser que em algum dia criem uma categoria para "humor sem noção"), muito menos um livro de terror sobre zumbis. Mas é uma história para fazer os beatlesmaníacos se divertirem com referências clássicas da biografia da banda e para deixar aquela nostalgia. Apesar de eu não ter vivido a beatlemanía em seu auge, também me senti muito nostálgica da época em que me toquei o quão boa a banda é.
Claro que só posso finalizar esta resenha dizendo que adorei reviver a biografia da melhor banda do Universo (vai, podem reclamar e soltar "Nossa, A DIFERENTONA QUE GOSTA DOS BEATLES") com um toque sangrento. Terminei o livro com muita vontade de reler a biografia real e rever todos os filmes (A Hard Days Night, Help, Yellow Submarine, Magic Mistery Tour e,claro, Anthology
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