desto_beßer 08/02/2010
A idéia aqui é desbancar mitos megalomaníacos de tramóias globais e relegar a políticos e personalidades locais as glórias da derrocada do Muro berlinense e do fim do comunismo na Europa. Ou seja, esqueça a diplomacia EUA-Rússia, concentre-se em Miklós Németh na Hungria, Lech Walesa e seus compadres poloneses, Václav Havel e sua educada revolução tcheca. Por contar a história destas personalidades – especialmente o primoroso trabalho de Németh - , enaltecendo o papel primordial delas e dos respectivos povos que lideravam na mudança da história, o livro é fantástico e torna-se uma bem-vinda novidade dentre as obras sobre o assunto.
Porém, Michael Meyer, durante os anos do relato correspondende da Newsweek (cof), é agora porta-voz de Ban Ki-Moon; era de se esperar, portanto, a tagarelice filosofóide anti-EUA habitual. Nessas horas, a leitura é de lascar. Uma coisa é explicar a importância fundamental do ‘local power’ e da glasnost gorbachévica (aliás, o herói do livro), mas anular o papel do capitalismo americano é um tanto quanto grosseiro por parte do autor. Ah, um momento, os EUA tiveram seu dedinho na queda do muro, sim!...
“Os regimes da Europa Oriental estavam realmente podres em seu cerne. Mas o empurrão para derrubá-los veio mais de dentro que de fora. Depois que Mikhail Gorbatchov levantou a pressão de contenção do sistema soviético, eles essencialmente implodiram. Dizer isso não significa desconsiderar a contribuição de Ronald Reagan para o fim da Guerra Fria. Ao contrário, é importante reconhecer como ele fez isso: não com um confronto maniqueísta intransigente, como muita gente do governo Bush acreditava, mas com compromisso. Ele aceitou Gorbatchov como um reformador, um parceiro potencial na paz, e isso fez toda a diferença.”
É pra cair no riso. O único mérito dos EUA foi não meter o bedelho na altruísta reforma soviética. Estávamos falando sobre maniqueísmo, não é?
Afora os surtos de mea culpa quase obamísticos por ser norte-americano e a visão ‘Terceira Via’ de mundo, que faz com que o livro sobre 1989 e a queda do muro de Berlim comece cutucando zombeteiramente – quem mais?!- George W. Bush, o texto é excelente.