Marcela 30/01/2021
Eu Nunca é o primeiro volume de uma duologia que conta a história do improvável encontro entre Joseph, um mineirinho tímido, e Pauline, uma paulistana, digamos, "expansiva", que embarcam numa aventura para percorrer o Brasil após terem apostado na mesma lotérica de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais e se verem como os únicos ganhadores do prêmio máximo.
Pontos positivos:
- Inversão de papéis do clichê: aqui, o protagonista masculino que é o mocinho ingênuo e inexperiente, enquanto a protagonista feminina é desenrolada.
- O protagonista masculino é um fofo e tem um bom desenvolvimento: de um rapaz de vida monótona, simples e sem ambições, devotado ao mantra de "eu escolhi esperar" e controlado pelas crenças conservadoras dos pais, a um rapaz confuso que percebe que não sabe quem realmente é sem tudo isso e precisa urgentemente se autoconhecer.
- Me lembrou um pouco Entre o Agora e o Nunca pela pegada de um casal que se aproxima à medida em que vai explorando o país em uma viagem espontânea e sem compromissos, sendo que aqui o cenário é 100% brasileiro... o que acabou sendo ainda mais interessante porque pude me ver em metade daqueles locais descritos que eu também já conheci. Destaque para as ótimas descrições da ambientação nordestina e das gírias empregadas.
Pontos negativos:
- A protagonista feminina: egocêntrica até o último fio de cabelo, para ela, tudo se trata dos desejos DELA e da forma como ELA enxerga o mundo, ou seja: todos os demais estão errados por não serem como ela. Inclusive, ela é o estereótipo da garota privilegiada, fútil e exibicionista que se acha muito empoderada e transcendental por ser adepta do conceito de liberdade e que tem a personalidade reduzida a: adorar a natureza, esbanjar dinheiro, "ser livre" (mira nisso, mas acaba sendo inconveniente mesmo) e pensar em sexo o tempo todo.
- A orientação sexual da protagonista é apresentada de forma muito fetichista, o que é um desserviço em termos de representatividade bi/pan. Na real, acho que isso só foi usado como mais um traço da personalidade "amor livre e sem regras" dela.
- Tudo bem que livros são um entretenimento e não necessariamente precisam trazer informações, porém, eu sempre vou achar meio irresponsável o modo como certas cenas de sexo são tratadas. Aqui, além do casal não usar preservativo em momento algum (a Pauline só menciona que não pode esquecer de tomar o anticoncepcional), ainda performam uns atos que me deixaram perplexa com a falta de cuidado/higiene.
Além disso, eu geralmente tenho certos problemas com histórias que se passam num período de tempo tão curto. Todos os acontecimentos da história se dão dentro de uma/duas semanas, o que, para mim, torna a situação menos crível. Sério que alguém iria topar viajar sozinha com um completo desconhecido ao longo de um país e ficar pulando de cidade em cidade dentro de UM dia? Primeiro, que eu não conseguiria confiar em alguém que nunca tinha visto antes, assim. Segundo, que nem daria para aproveitar a viagem nessa afobação toda, afinal, você não consegue conhecer nada direito em apenas um dia. Mas isso sou eu. Talvez você nem se importe com esses detalhes e só aproveite a narrativa que é sim bem escrita e bastante fluida. Embora eu não seja lá muito fã de histórias de romance sobre um mesmo casal que são divididas em vários volumes, talvez eu leia a continuação, que está disponível no Kindle Unlimited, só para descobrir o que vai acontecer com o Joseph ? e ver se a Pauline vai tomar jeito.