Lucas Viapiana 19/04/2020
Primeiro vamos dar conta do elefante na sala: “Filhos da Raposa” é uma tradução horrível. A entidade-raposa é feminina e só tem filhas mulheres, bastava ler a história para ver que isso está mais do que claro. O título original é “Fox Children”, que literalmente significa “Crianças da Raposa”, não especificando se são filhos, filhas, ou ambos. Pode ser que os tradutores tiveram a interpretação de que “todos são filhos da raposa”, por ela ser uma entidade infinitamente mais antiga, sábia e poderosa do que a raça humana, de fato quase divina. Mas isso é uma leitura interpretativa e não algo explicitado na narrativa. Pode valer para alguns leitores e pode não valer para outros.
Agora vamos para a análise da obra de fato:
Como nas outras HQs de The Wtcher, a arte, as ambientações, os cenários e as personagens são impecáveis. A gente realmente se sente viajando naquele mundo ao lado de Geralt e seus companheiros. Companheiros aqui que roubam a cena, especialmente Addario Bach, um anão que embora seja a síntese de todos os clichés sobre anões de mundos fantásticos, de alguma forma consegue ser extremamente carismático. Dúrion, um guerreiro que quase não fala, e Janessa, uma arqueira e mensageira misteriosa também são bem interessantes, embora não apareçam tanto. Como sempre, ótimos diálogos, principalmente os de humor.
A narrativa em si é meio fraca. Dá a sensação de que se Geralt não estivesse lá, não faria a menor diferença. Parece que nada realmente acontece, no sentido de que as decisões das personagens não influenciaram em nada. Além disso, há alguns pequenos acontecimentos que ocorrem duas vezes e a sensação é de que voltamos páginas (por exemplo, personagem A cai numa armadilha, dez páginas depois personagem B cai numa armadilha quase idêntica). Pode ser que isso seja intencional, para dar a ideia de que o lugar/situação da história são inescapáveis, de que tentar fugir só resulta em um movimento circular de retorno ao início. Mesmo assim acho que é um elemento mais negativo do que positivo e faz a qualidade da obra cair um pouco.
Confesso que fiquei mais empolgado com oito páginas do epílogo do que com a história principal em si.
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