Vinicius.Correa 16/02/2020
O livro Condado Macabro escrito pelo Marcos DeBrito é uma adaptação do filme de mesmo titulo e produzido pelo mesmo autor. Ao contrario do que geralmente acontece, este caso originou-se primeiramente nas telas de cinema para posteriormente marcar presença nas folhas de papel, o que por uma parte é bom, já que o livro vai ser bem fiel ao filme e vice versa. Eu particularmente, prefiro mil vezes um livro do que um filme, tanto até que eu costumo ler o livro primeiro para só depois assistir o filme. E foi o que fiz, ou melhor, irei fazer, já que eu ainda não assisti o filme... Coisa que pretendo fazer muito em breve, só falta descolar um tempinho.
A história já começa com todo um suspense arquitetado. A primeira cena é a de um interrogatório o qual tem como suspeito um palhaço ensanguentado. As conversas entre palhaço e investigador são muito afiadas; o palhaço nega a todo custo ser o responsável pelo assassinato de um grupo de jovens, já o investigador insiste em arrancar uma confissão que prove que ele é o culpado, ou que ao menos indique um. Intercalando com as cenas do interrogatório, acompanhamos o feriadão de um grupo de amigos que resolveu passar os dias livres em uma mansão no meio do nada, nos sertões nordestinos. Mas o que era pra ser um feriado de pura diversão, sexo e malandragem acabou por tornar-se um verdadeiro mar de sangue.
?[...] A menina estava amarrada com o pescoço dilacerado. O sangue que jorrava de sua garganta aberta represara na camiseta branca tingindo-a de vermelho. Como um animal pronto a ser servido em uma ceia canibal, uma fruta, que a impedira de berrar antes de sua morte, tampava sua boca.? ? Pág. 96
O grupo de jovens ao qual me refiro é formado por Beto, Théo Mari, Lena e Vanessa, ou simplesmente, Va. Todos possuem uma personalidade distinta uns dos outros: Beto é o bobalhão do grupo. Sempre tem uma cantada furada na ponta da língua na esperança de conseguir conquistar a atenção de alguma das meninas do grupo. Théo é o inverso de Beto, ele é tímido, culto e reservado. Já a Lena é a descolada que quer apenas viver a sua vida intensamente. Ela está interessada por Théo, e faz questão de deixar isso claro para ele, e ele, coincidentemente, também nutre uma paixão por ela, só que sua timidez impede os dois de seguirem em frente com essa relação. Mari, assim como Lena, quer aproveitar os bons momentos. E a Vanessa é uma incógnita da qual eu não entendi. Ela é gorda, e por conta disso ela recebeu o cargo de ser o divertimentos dos outros, os quais riem da escrotidão dela. Sinceramente, não entendi o porquê ela está ali, pois aparentemente ela é a rejeitada do grupo. Não percebi nenhum carinho especial vindo por parte dos outros em relação a ela a não ser o de pena. Mas ela parece não se importar muito, pois coloca seus fones e viaja na maionese escutando suas musicas bregas.
Resumindo, senti falta de um aprofundamento nas relações inter-sociais do grupo. "Como eles se conheceram?" e "São amigos a quanto tempo?" são questões que fortaleceriam os laços entre eles e que tornariam os acontecimentos da trama muito mais sofríveis. Entretanto, sei que devo levar em conta que o livro foi baseado no filme, e o filme tem um tempo limite. Então, ele deve ser direto e sem muitas enrolações. Mas apesar desses poréns, ainda assim foi uma história rica. Tanto em detalhes, quanto em acontecimentos. Posso dizer sem sombra de dúvida que a leitura deste livro é uma das melhores que eu já fiz. Os acontecimentos são tão insanos e ao mesmo tempo tão reais que atraem o nosso envolvimento de forma imediata. Transformando a leitura de um livro que por sí só já é pequeno, ainda mais rápida.
Em relação a escrita, eu só tenho à aplaudir de pé. Poucas pessoas conseguem escrever de uma maneira arrastada e gostosa como a deste livro. É uma daquelas escritas que tu saboreia cada palavra, cada virgula e cada ponto. Tudo está perfeitamente em harmonia, em seu devido lugar. Enfim, eu li as cento e poucas páginas do livro em muito pouco tempo, e poderia ler muito mais páginas com a mesma facilidade. Pois ela nos transporta para a história de uma maneira extremamente agradável e eficiente. Espero que eu goste do filme tanto quanto gostei do livro. Ah, e sobre o final, me decepcionei um pouco pelas pontas soltas que ficaram, mas foi pouca coisa, porque, afinal, não poderia deixar de faltar aquele gostinho de quero mais.