Paula Juliana 25/03/2016
Resenha: Condado Macabro - Marcos DeBrito
''O abrutalhado ignorou o pedido arrogante. Para ele, não havia um rosto por trás da máscara. Jonas se enxergava como a imagem grotesca da quimera que se travestia. Para abandonar a cabeça apodrentada que lhe escondia a face, teria que cobri-la com outra pele igualmente horrenda.''
Uma resenha de Sexta-feira Santa macabra!
Alguns estilos são eternos e acabam sempre funcionando, o terror/horror para mim é um deles, lendo Condado Macabro me vi em um filme de assassinatos em série, um macabro filme de terror, claro que o livro é realmente baseado em uma produção de cinema do autor/cineasta Marcos DeBrito, ao qual não assisti ainda, porém lendo, consegui visualizar cena por cena, acredito que de uma forma até mais clara do que se estivesse realmente assistindo, porque é realmente assustadoramente real as descrições de cenas do autor!
Como uma fã de Marcos DeBrito desde que li seu livro À Sombra da Lua que é um sobrenatural de horror incrível, sempre o indico para os fascinados por histórias sombrias e marcantes, lendo Condado Macabro fui novamente surpreendida pela história e pelo modo que o autor brinca com todos os clichês de filmes do estilo possíveis.
Encontramos desde os personagens característicos, como: o babaca tarado, a loira e a morena gostosas, o menino inteligente e tímido, a gordinha sempre deixada de lado pela turma, misturado com o velho terror usando os palhaços, que além de ter sido uma marcante na história fez com que me surpreendesse como leitora, realmente esperava que os palhaços tivessem um papel diretamente de assassinos, o que não aconteceu.
Os assassinos, os palhaços, os cinco jovens saindo de férias, indo curtir o final de semana em uma casa no meio do nada, só poderia dar em uma incrível receita de tragedia.
'' Bola 8 não era dos mais astuciosos no campo intelecto, mas compensava sua deficiência com a lealdade, além de ser dotado de uma ingenuidade rara. Por mais que cometesse pequenos delitos terminar a vida com a barriga aberta juntando moscas não era um fim que merecia.''
A história consegue ser engraçada, algumas vezes sem noção graças ao personagem Beto, vai pelo caminho censurado para maiores de 18 anos, tanto pelas tiradas se referindo a sexo, quanto pelas cenas de horror envolvendo sangue e descrições nojentas. É como se fosse um grande compilado dos filmes do gênero, o final foi surpreendente, assim como toda a evolução da história desde a apresentação dos personagens, passando pelo humor, sacanagem, a parte dos palhaços ''tristes'', todo o interrogatório - que tem uma pegada incrível de True Detective, fatos FALSOS sendo narrados pelos personagens, enquanto é nos mostrado o que aconteceu de verdade na história, os cortes de cenas, a narração que mostrava todos os ângulos mesmo não aprofundando nos personagens e sim nos fatos. E a parte final que é um clichê bárbaro de carnificina, chegando a surpresa final, a grande reviravolta do enredo.
O que senti que deixou a desejar: não houve aprofundamento nos personagens, o que teria deixado muito mais sofrida a perda quando começasse a matança, e o aprofundamento da história dos assassinos, o porque de aquilo tudo ter sido criado, como eram aquelas pessoas desde o inicio, o que levou ao estilo de vida que levavam.
As sensações ao decorrer da leitura foram as mais variadas, desde o riso, graça, ''o não acredito nisso'', o nojo. A narrativa e a forma de escrita do autor continuam impecáveis, adoro o estilo de escrita, gosto dessa pegada sem pudores, sem medo de escrever até as coisas mais asquerosas, adoro a coragem a as descrições.
Indico com toda a certeza a obra Condado Macabro, é fininha, li em um dia, é como se tivesse realmente assistindo um filme, tem reviravoltas e surpresas, tem o brincar com a escrita e com as receitas já prontas, é uma obra para se divertir e se desmembrar - um condado sangrento e macabro que vai além de tripas e sustos! Recomendadíssimo!
''O gancho de metal aberto ainda balançava no fecho quando a imagem funesta da sádica mascarada, escorando no ombro sua espingarda carregada, deu o primeiro passo no gramado do jardim. Seu olhar vidrado sob o rosto plastificado de uma boneca infernal era como a de um canibal faminto seduzido pelo desejo de carnificina.''
Paula Juliana
site: http://overdoselite.blogspot.com.br/2016/03/resenha-condado-macabro-marcos-debrito.html