Maria - Blog Pétalas de Liberdade 22/03/2016Muito mais que uma simples biografia Quando eu recebi o livro da editora, eu não tinha a menor ideia do que ou quem era H Stern, mas decidi dar uma chance à obra, já que gosto de variar minhas leituras. Comecei a ler e fui surpreendida positivamente com uma leitura interessantíssima! No livro vamos conhecer a saga da família de Hans Stern, desde antes da fuga/expulsão (não sei ao certo que nome dar para a maneira como eles tiveram que sair de lá) da Alemanha na época do nazismo, até a criação e a consolidação da joalheria H Stern, uma das mais famosas do mundo.
“O saldo daquela noite de terror por toda a Alemanha foram 815 empresas totalmente destruída e 7500 saqueadas; 119 sinagogas incendiadas e mais 176 completamente destruídas; 20 mil judeus presos e levados para campos de concentração; outros 36 gravemente feridos e mais dezenas deles mortos por assassinato ou chacinados quando tentavam escapas do fogo. O governo do Terceiro Reich não só ignorou a violência – que secretamente estimulara através de instruções aos líderes da SS – como decidiu impor uma descabida penalidade à comunidade judaica. Através de um bizarro comunicado do Ministério da Fazenda, os judeus foram avisados de que seriam responsabilizados pelas pilhagens e destruições de suas próprias propriedades, ‘em virtude de seus crimes abomináveis’.” (página 12)
Em 1938, Hans era um garoto de 16 anos, na fatídica noite dos cristais, onde muitos judeus tiveram suas propriedades depredadas. Depois daquela noite, percebendo que a situação para os judeus estava cada vez mais difícil na Alemanha, ele, seu pai Kurt, sua mãe e seu avô materno vieram para o Brasil num navio trazendo o pouco que lhes foi permitido pelo governo nazista. O restante de suas coisas que viria em contêineres, acabou chegando quase que totalmente destruído no país vários meses depois. Para Hans, apesar da situação financeira difícil, tudo era novidade na nova e ensolarada terra. Já para sua mãe e seu avô, a adaptação foi bem mais difícil.
“Ela sonhava com a volta ao passado, ele olhava para o futuro. Ela flutuava sem ter onde se agarrar. Ele se cravava no chão. Eram formas de vida irreconciliáveis, e Hans foi cada vez mais se apartando da mãe.” (página50)
“Aos 70 anos, Albert não tinha disposição para começar de novo. Via-se como uma árvore partida. As raízes ficaram enterradas no solo alemão, os galhos com suas folhas tinham sido arrastados para o Brasil. Mas, sem as raízes, não havia seiva. Os galhos se enfraqueciam. (...) Sabia que não veria mais a Alemanha que tanto amara e que o desprezara. Sabia também que o Brasil não lhe pertencia. E ele não tinha para onde voltar.” (página 51)
Só pelos primeiros capítulos, que me fizeram enxergar melhor as consequências cruéis que o nazismo trouxe, já valeria a pena ter lido o livro e recomendá-lo para vocês. Mas outro ponto também me agradou: nele podemos, em segundo plano, acompanhar as mudanças pelas quais o país passou desde os anos 40 até os dias atuais. E foi interessante ver como era a vida antes da tecnologia, em uma época bem diferente da que vivo. Hans trabalhou numa casa filatélica, uma loja especializada em vender selos, um grande negócio na época. E fazer um curso de datilografia para usar bem uma máquina de escrever era algo importantíssimo.
Até que Hans decidisse abrir uma joalheria, o caminho foi longo, mas não tão longo quanto o caminho que a H Stern percorreu até os dias de hoje, para se tornar uma das maiores joalherias do mundo, com lojas em diversos países. Um caminho interessantíssimo para quem tem curiosidade sobre o mundo dos negócios. A H Stern me pareceu querer aprimorar cada vez mais os seus processos administrativos e de produção de forma que a empresa se mantivesse coesa mesmo estando presente em tantos lugares diferentes.
No livro conheceremos várias situações curiosas que aconteceram na empresa, como um dia em que o sistema de transporte coletivo não estava funcionando e os funcionários que tinham carro iriam dar carona para os que não tinham; eis que surge Hans Stern em seu fusquinha perguntando quem ia para o mesmo bairro que ele; ou a forma inusitada como as joias da empresa foram transportadas de uma sede para outra através dos próprios funcionários. Hans tinha uma forma interessante de lidar com as pessoas, em certa ocasião, quando um de seus filhos se interessou pelo socialismo, Hans levou a família toda para uma viagem à antiga União Soviética e, sem uma palavra, fez com que o filho percebesse que o sistema socialista não era assim tão bom, visto que eles passaram por alguns perrengues lá.
"A joia retém o momento. Ela marca uma ocasião única, um instante especial guardado para sempre na memória afetiva. Um sentimento que se perpetua ao se passar uma joia de uma geração para outra. Ninguém entra em uma joalheria como entra em uma loja de sapatos. Joias são obras de arte, que se adquire em comemoração: um nascimento, um aniversário, um casamento, um grande amor, um afago a si mesmo. Assim também são as festas: ocasiões especiais de celebração para marcar um momento." (página 268)
Certa vez, a equipe de designers da H Stern, teve que desenvolver uma coleção inspirada no brilho das ruas de uma cidade turística depois de uma chuva. Apenas um dos inúmeros desafios que ela enfrenta para desenvolver coleções cada vez mais ousadas e belas.
A edição do livro está bem caprichada, uma capa bonita e clean, com orelhas grandes. As páginas são grossas e brancas. As margens, fonte e espaçamento tem bom tamanho, e a obra está bem revisada. Só gostaria que tivesse mais fotos.
Enfim, recomendo o livro para quem gosta de biografias e também para quem não gosta; para quem já ouviu falar da H Stern ou para quem, assim como eu, não fazia a menor ideia do que era; para quem se interessa por temas como joias, negócios, segunda guerra mundial, o Brasil do último século, etc. É uma obra que certamente vai acrescentar alguma coisa a quem ler, nem que seja uma palavra nova que será aprendida (a autora usa algumas palavras que eu não conhecia, mas sem complicar a leitura, que é super fluida e em nenhum momento fica monótona).
*ACESSE O BLOG PARA VER FOTOS DO LIVRO
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/03/resenha-livro-h-stern-historia-do-homem.html