Luiz Pereira Júnior 12/08/2023
O sonho e a realidade
Cocanha é um país do imaginário europeu em que as riquezas abundam e cuja única lei é aproveitar a vida e jamais trabalhar. Nele, o único vulcão expele moedas de ouro, os rios são de vinho grego atravessados por pontes de fatias de melão, os lagos são de molhos e polpetones, as aves despencam do céu já assadas e os arreios dos cavalos são de ouro, mas as rédeas são de linguiça. Enfim, uma utopia.
José Clemente Pozenato utiliza essa imagem para descrever a visão dos primeiros italianos que chegaram ao nosso país, fugindo da miséria e da tirania de seu belo país de origem. Ao chegarem, percebem que tudo não passou de um sonho, mas que, mesmo assim, ainda é possível construir um lar para viver com dignidade e relativa segurança.
Com uma narrativa fluente, personagens bem construídos (mas sem aqueles profundos mergulhos psicológicos que possam afastar o leitor comum), descrições vívidas dos costumes da época, narrativas na sequência cronológica usual com reviravoltas para afastar o cansaço (ou o tédio) de quem o lê, Pozenato retrata um mundo imaginado, mas que nem por isso deixa de ser imensamente real.
Valem duas observações: 1) “A Cocanha” é o livro de origem dos personagens do romance mais famoso do autor, "O Quatrilho”, que deu origem ao filme homônimo indicado ao Oscar; 2) sei que pode parecer estranho, mas, a bem da verdade, pareceu-me, por vezes, estar lendo algum romance de um dos mestres da literatura regionalista brasileira. As descrições das angústias, da fome, das tragédias sociais, pareceram-me as mesmas de Fabiano, Sinhá Vitória e sua imensamente desventurada família.
Já dizia alguém que para ser universal, retrata tua própria terra. E isso José Clemente Pozenato fez muito bem...