Juliana Magalhã 28/02/2013John Grisham é um conhecido autor de thriller jurídicos, tem toda uma aura New York Times Best Author e seus livros deram origem a diversos filmes. Eu, particulamente, gosto das ideias dos seus livros, mas não curto muito o estilo da escrita. É aquele caso: como escritor, John Grisham, é um ótimo roteirista.
Em O inocente, John Grisham escreve um livro de não-ficcção, relatando as condenações injustas e no mínimo inconstitucionais de Ron Williamson e Dennis Fritz pelo homícidio de Debbie Carter. A essência do livro é excelente, dá uma aula sobre o sistema penal americano, analisando os pormenores do que é considerado justiça naquela época.
Na pequena cidade de Ada, no Estado de Oklahoma, o homicído brutal de Debbie Carter e o desaparecimento de Denice Haraway causa revolta na população e a polícia local se sente pressionada e impelida a resolver a qualquer custo os crime e para isso se vale de má fé, testemunhos falsos, confissões em sonhos, opiniões de peritos equivocadas. Valendo-se desses artifícios, conseguem a condenações: Ron Williamson a pena de morte e Dennis Fritz a prisão perpétua.
John Grisham esmiuça o caso, apresentando as falhas de todo o sistema e das pessoas que participaram da condenação. O nível de pesquisa de Grisham é notável. Logo conhecemos todo o absurdo que a polícia de Ada classificou como um caso forte contra Ron Williamson e Dennis Fritz... Ron, com um histórico de bebedeira e excessos, vira suspeito devido ao testemunho da última pessoa vista com a vítima( absurdo) e Dennis devido a sua amizade com Ron.
O livro tem um quê de Kafka em O processo...temos dois indivíduos são arrastados para um julgamento baseado no “instinto” dos investigadores, contando com uma representação falha, onde suas declarações são ignoradas ou mal interpretadas e suas vidas interrompidas por 12 anos. Fritz lembra muito o Josef K, ambos são vítimas do sistema e suas vidas passam a se adaptar ao fato que são considerados culpados por algo que não conseguem entender. Admito que ainda não tinha “digerido” muito bem o livro O processo, mas, o livro O inocente fez com que minhas ideias ficassem mais claras.
Recomendo o livro mas com certas ressalvas sobre a escrita de John Grisham. Em O Inocente, ele sai da sua zona de conforto – romances jurídicos – mas leva suas principais características: apresentação um tanto confusa de certos personagens, assim como a linearidade da história; livro contendo um narrador onisciente, irônico e sarcástico. Por ser uma história real, esperava que Grisham mantivesse uma postura de pesquisador digamos, sério... dá a impressão que ele encontrou a história, gostou e moldou-a a sua fórmula de sucesso de romances. No livro, ele diz que levou 18 meses pesquisando sobre o caso, mas não temos uma indicação direta das fontes; as citações são mal elaboradas e ele podia ter exposto mais o seu material de pesquisa, Grisham somente mostra algumas fotos, pouco, se considerarmos a quantidade de manchetes de jornais, relatórios, autos e etc.
Concluindo, achei o livro muito bom, pelo seu conteúdo, mas perde alguns pontos para a, digamos, execução da obra (escrita de John Grisham). Parte da obra chega a agoniar o leitor pelas injustiças sofridas pelos “réus” e pela ignorância por parte daqueles responsáveis pela manutenção da Lei e da Ordem.